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Família vai do circo ao MMA e causa polêmica ao lançar lutador de 15 anos

Com 4 filhos e um sobrinho no caminho do MMA, Paulão Bueno lidera a família Zenidim - Arquivo Pessoal
Com 4 filhos e um sobrinho no caminho do MMA, Paulão Bueno lidera a família Zenidim Imagem: Arquivo Pessoal

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

15/10/2014 06h00

O mundo das lutas é um ambiente familiar. Do boxe ao MMA, há inúmeros casos de pais, filhos, irmãos e primos que se aventuram numa mesma modalidade. Um novo clã surgiu na cidade de Ponta Grossa, no Paraná, e fez barulho na última semana, por conta de uma polêmica. Isso porque um dos seus integrantes, Rickson Zenidim, vem lutando como adulto nas artes marciais mistas, apesar de ter apenas 15 anos.

Rickson é filho do lutador e técnico Paulão Bueno, veterano de 38 anos que começou sua trajetória longe do MMA. Ele participava de eventos de luta livre no circo, e só depois trocou o telecatch por combates de verdade. O filho seguiu seu caminho bem cedo, aos 7 anos já fazia lutas amadoras (adaptadas para crianças) e agora esperava alçar seu mais alto voo em dezembro, num evento do Shooto em Curitiba.

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A polêmica que chamou a atenção à família foi o fato de se dar como certo o combate, mesmo que Rickson tenha apenas 15 anos. Mas, segundo o UOL Esporte apurou, a organização do Shooto não tinha conhecimento da idade do jovem lutador e, ao saber disso, adiou uma possível estreia do paranaense até que ele complete 18 anos – respeitando, portanto, as regras da Comissão Atlética Brasileira de MMA.

“Nós conversamos com o promotor do evento, estava tudo fechado. Mas na hora de assinar o contrato souberam da minha idade”, conta Rickson.  O pai completa: “Levei o Rickson, mas não tinha comentado sobre idade. Apresentei o cartel dele, com cinco vitórias, mas quando viram que tinha 15 anos, conversamos e acabamos fechando uma luta com meu outro filho Ranieri, de 18 anos. Eu até falei para eles que poderia fazer como fiz com o Ranieri, que emancipei para ele lutar na Argentina, mas aqui não pode...”.

Paulão – que lidera no “QG” montado em sua casa um time que conta com quatro filhos, um sobrinho e alguns agregados - conta que a reação do filho foi a de um garoto de 15 anos: Rickson chorando e o pai tendo de consolar. Mas a realidade é que a prática de colocar garotos com menos de 18 anos não é liberada pela maioria dos órgãos reguladores do MMA. No Brasil, não há uma entidade para todo o esporte, então tudo depende de qual confederação ou comissão um evento é filiado, para que se respeite o regulamento em questão.

A família defende a prática. “Eu já sou profissional. Sou de uma cidadezinha no interior do Paraná. Estou invicto e tudo, aqui a idade não importa. Já lutei até na Argentina, lutei com caras mais pesados, mais velhos... Eu tive que ir para o profissional, porque os caras não me aceitam mais no amador, porque já tenho muitas lutas”, diz Rickson, que com dificuldades para ser aceito estreou como profissional no evento do pai, o Paulão Fight, aos 14 anos. Desde agosto de 2013, foram cinco vitórias, quatro por finalização.

“Chegou uma hora que ninguém queria lutar com eles (Rickson e o mais velho Ranieri, que estreou aos 15 anos lutando na Argentina). Mas eles são bem preparados, são atletas, fazem jiu-jítsu, muay thai, boxe, corrida, natação... O Rickson é um lutador mesmo, o negócio dele é lutar, treinar. Vamos seguir o rumo. Ele já está na idade em que sabe o que quer, então tenho que apoiar”, defende Paulão.

Segundo recomendação da Comissão Atlética Brasileira de MMA, que regulamenta o UFC (mas não o Shooto), a profissionalização de atletas de MMA deve seguir o conceito da Lei Pelé. “Para a Comissão, é muito simples o tratamento. É o da Lei Pelé. Ele põe limite de idade mínimo para a profissionalização. De 16 a 18 anos o atleta está em vias de profissionalização, mas não abaixo. Só depois dos 18 anos ele pode escolher sua profissão, inclusive qual o esporte. Antes, pode-se lutar como amador, em eventos não profissionais, mas nunca como profissional”, explicou o líder da CABMMA, Rafael Favetti.

Rickson Zenidim, de 15 anos, já fez cinco lutas como profissional no MMA e gerou polêmica por conta da idade - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Rickson Zenidim, de 15 anos, já fez cinco lutas como profissional no MMA e gerou polêmica por conta da idade
Imagem: Arquivo Pessoal

Lutas para crianças e projeto social

A ligação de Paulão Bueno com lutas amadoras e treino com crianças é maior do que se vê no âmbito familiar. Os filhos herdaram a carreira por estarem sempre na academia montada na casa dos Zenidim e verem Paulão treinar e lutar. Fora de lá, o lutador e técnico lidera um projeto social de MMA para crianças, realizado dentro de uma escola estadual de Ponta Grossa.

No projeto, as aulas são com enfoque em introduzir as crianças em um esporte, ocupar o tempo e gastar a energia delas numa atividade que ainda ensina disciplina e autodefesa. O trabalho de base, é claro, poderá permitir o surgimento de alguma revelação.

Já cercado de críticas, Paulão afirma que as lutas para crianças não são como as tradicionais e são ainda mais restritas do que as do MMA amador.

“Desde os 7 anos meus filhos lutam, mas não são combates violentos, são todos com regras para a criança crescer no esporte e não se machucar. Não pode soco no rosto, no chão só pode aplicar o jiu-jítsu, são regras adaptadas para ajudar na evolução deles”, afirma o paranaense, que ainda exige dos filhos os estudos – escola pela manhã, treinos em partes da tarde e noite.

A família ainda não fala sobre o futuro de Rickson no MMA, mas o garoto deve se manter na ativa em eventos menores e em combates de boxe e muay thai.

A família Zenidim tem uma academia e um ringue nos fundos de casa, em Ponta Grossa (PR), onde Paulão Bueno e seus filhos, sobrinho e agregados treinam MMA - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
A família Zenidim tem uma academia e um ringue nos fundos de casa, em Ponta Grossa (PR), onde Paulão Bueno e seus filhos, sobrinho e agregados treinam MMA
Imagem: Arquivo Pessoal

Os Zenidim no circo e o clã hoje

Hoje os circos já não trazem uma tradição das antigas, a luta livre. Mas por muito tempo o telecatch era uma parte fundamental da brincadeira. Foi neste cenário atípico que Paulão Bueno começou neste mundo.

Outros integrantes da família já participavam da luta livre e do circo. “Eu era novinho, ia junto, participava, e às vezes tinha lutas reais no meio, desafios. A partir daí fui crescendo. Depois virei faixa preta de jiu-jítsu. Em 1994 fiz meu primeiro evento, que era em uma chacará, um evento fechado, no quintal. E de lá para cá tudo aconteceu”, relembra Paulão. Seus primeiros combates eram na época do vale-tudo, sem luvas.

“Eu fui crescendo, lutando, formei a família e meus filhos seguiram o caminho. Eles cresceram perto e foram gostando, mas nunca obriguei ninguém, nunca disse que tinha que treinar”, diz o lutador.

Hoje aos 38 anos, o líder do clã ainda não está aposentado. São 21 vitórias e 8 derrotas no seu cartel profissional, com quatro triunfos por finalização em seus últimos combates. Somam-se a ele Rickson, o filho Ranieri (18) que tem 14 vitórias e seis derrotas, o filho Riran (12) que já faz combates amadores de boxe e muay thai, o filho Raykon (6), que ainda está só brincando de lutas no quintal da família e o sobrinho Lucas Oliveira (19), com uma vitória no MMA. Isso sem contar os agregados, como Rodrigo “Dragão” Guelke (28), que disputará o cinturão peso pesado do Shooto em dezembro.

3 Comentários

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mlkbatman

O trecho que fala "Com 4 filhos e um sobrinho no caminho do MMA" está correto? Vejo alguns com futuro no Sumô... Agora devo convir que o Rickson tem futuro! :P

hal23

Eu já percebi que existe um número imenso de "projetos sociais" ensinando lutas ou então percurssão. No futuro, teremos imensos exércitos de lutadores e de tocadores de tambor.


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