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Delicada demais para lutar? Ela prova que não após assalto a levar ao MMA

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

31/10/2014 06h01

As mulheres já invadiram o UFC, e Ronda Rousey provou a força de uma lutadora, deixando para trás qualquer menção àquele ultrapassado termo “sexo frágil”. Mas, muitas aspirantes a estrelas do MMA ainda sofrem um bocado para mostrar seu valor. A catarinense Julie Werner sabe bem. Ela já teve de ouvir que era “muito delicada” para ter sucesso quando começou a treinar muay thai, uma reação que teve para se recuperar do trauma de um assalto.

Hoje com 33 anos e 7 vitórias e 4 derrotas no MMA, ela estreia neste sábado em seu maior evento, o XFC, contra a ucraniana Iryna Shaparenko (a RedeTV! transmite às 0h30 de sábado para domingo). Mas, há alguns anos, Julie era apenas uma garota um tanto indefesa.

“Eu era adolescente, tinha uns 17 anos mais ou menos, quando sofri o assalto. Estava num ponto de ônibus, e a pessoa nem estava armada, mas me ameaçou e fiquei apavorada, não sabia nada para me defender. Fiquei muito assustada e depois disso decidi procurar uma arte marcial e achei o muay thai. Isso me deu mais confiança”, conta ela, natural de Rio Negrinho e moradora de Joinville.

Mesmo ao entrar na academia, foi preciso mostrar sua fibra para provar seu talento. “O professor achava que eu não ia ficar nem um mês no treino, porque tenho um jeito delicado... Mas eu o surpreendi. Me tornei professora. Depois de um ano, não tinha intenção de competir. Mas apareceu uma menina para fazer sparring que batia em todo mundo. Eu não amarelei, fui para cima e ele viu que eu vingaria”, relata Julie, que poucos meses depois estava começando sua carreira no muay thai.

Julie foi uma atleta exclusivamente de muay thai até 2005, quando passou a lutar MMA. Apesar disso, seu enfoque não era sério como ficaria mais tarde. À época, ela apostava tudo em sua trocação e não fazia uma preparação diversificada, o que ajudou a ter suas três primeiras derrotas na carreira, todas para Vanessa Porto.

Mais recentemente, ela engatou uma série de triunfos, com cinco seguidos, e foi colocada frente a frente com uma potencial nova estrela do MMA, Holly Holm. A norte-americana foi campeã mundial de boxe e em abril venceu por nocaute no quinto round a catarinense. Depois disso, Holm foi contratada pelo UFC e estreia em dezembro com status de potência.

“A Holly foi fora da minha categoria de peso, então me preparei na medida do possível. Não era impossível, mas ela realmente é a lutadora mais forte que enfrentei até hoje, de punch, de potência. Mas foi algo fundamental para a minha carreira, sei que evolui bastante”, analisa a lutadora, que prevê: “Se ela fizer o jogo certo vai ser rival à altura para a Ronda (Rousey)”.

Estreia às escondidas

Julie sempre fez esportes, tendo praticado desde criança vôlei, basquete e atletismo. Ao lado disso, desde cedo ela trabalhou como vendedora, garçonete e produção, além de se formar em Educação Física.

As lutas surgiram como um destino bem diferente. A ponto de a catarinense fazer sua primeira luta de muay thai sem contar aos pais. “Minha estreia foi no Rio. Não falei para meus pais que ia competir, fui sem eles saberem. Contei só quando voltei, mas no fim eles realmente gostaram muito. Até me surpreendeu”, afirma ela.

Agora com apoio integral da família – e só pontadas de preocupação do pai -, o objetivo é despontar no XFC, lutar pelo cinturão e se manter no topo de sua categoria pelo tempo que puder.

O XFC deste sábado será realizado no ginásio do São Paulo Futebol Clube, na capital paulista, e terá na luta principal Allan “Puro Osso” Nascimento (13 vitórias, 2 derrotas) encarando o ucraniano Ruslan Abiltarov (16 vitórias, 4 derrotas).