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Anderson fez tudo nos treinos. Mas só ao lutar terá certeza de estar 100%

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

27/01/2015 06h00

Os exames mostram que Anderson Silva está pronto. Os técnicos aprovam seu retorno. E o próprio lutador não demonstra hesitação para voltar a lutar. Mas é só quando a porta da jaula for fechada que o ex-campeão dos médios do UFC terá a garantia de que o “velho Spider” ainda existe dentro dele. Um ano e um mês depois de fraturar a perna contra Chris Weidman, o brasileiro põe à prova a recuperação e preparação mais duras de sua carreira e enfrenta Nick Diaz para provar a si, ao seu time, ao UFC e aos fãs que seus 39 anos e a haste dentro de sua perna são apenas obstáculos facilmente transponíveis.

O UOL Esporte conversou com parte da equipe de técnicos e sparrings e com o velho amigo e companheiro Rodrigo Minotauro para traçar um raio-X da preparação do ex-campeão dos meio-médios. Na ponta da língua de todos estão palavras como superação e dedicação e a certeza de que Anderson deu tudo de si nos treinos, chegando ao nível de seus melhores momentos como lutador. Tão importante quanto isso, no entanto, o preparador físico Rogério Camões admite: “Na hora da luta é que ele vai mesmo se testar, que vamos ver se está tudo funcionando mesmo. Mas (a perna) está pronta para funcionar”.

É a mesma opinião de Wendres Carlos, o Godzilla, que pela primeira vez treinou com o astro. O sparring viu um Anderson treinando pesado, dando o máximo. “Ele estava chutando muito, chutando forte mesmo, com a perna quebrada. Mas, rapaz, é complicado. Porque treino é uma coisa e luta é outra. No treino, até no de sparring, ele estava chutando bastante com a perna quebrada, mas vamos ver o psicológico de luta no sábado”, opinou o lutador.

A primeira fase da recuperação de Anderson Silva foi um período de muita dor e fisioterapia. O próprio lutador afirmou diversas vezes que fugiu dos medicamentos, para evitar ficar viciado. Assim, teve de aguentar a agonia de semanas de exercícios para a perna esquerda, ainda em processo de calcificação, e depois todo o fortalecimento muscular, já que sua perna perdeu 40% da potência.

Rogério Camões, presença constante ao lado do ex-campeão, é o responsável  pela preparação física. “A prioridade no trabalho do Anderson foi a recuperação total da perna dele lesionada. Levamos um tempo muito grande para conseguir. Ele perdeu força, potencia muscular, teve atrofia, com perda de massa muscular.... Mas conseguimos recuperar no prazo para ele fazer a preparação específica da luta. Diante disso, o trabalho em seguida foi o de sempre, sem restrição”.

Para Rogério, Anderson já estava pronto há três meses. Agora, vê o pupilo ainda melhor, e sem padrões de dor, o que poderia ser uma preocupação. “No começo, ele sentia dor, incomodava, mas isso passou. Hoje, nos treinos, preciso perguntar até qual é a perna que lesionou, porque já esquecemos, já está no automático.”

Anderson treinou até mais que o normal. Já são seis meses em preparação forte, metade mais focada na parte técnica do próprio Anderson e no aprimoramento físico, e os últimos três dedicados também a simular o que pode encontrar pela frente diante do perigoso NicK Diaz, um lutador bom de boxe e de perigoso jiu-jítsu. No jiu-jítsu, teve treinos com Ramon Lemos e Ricardo de la Riva. No boxe, trabalhou com Edelson Silva e também com Luiz Dórea.

Mas a grande adição foi a presença do mestre em muay thai Kop Pako, da Tailândia. Bem ao nível dos treinos de boxe tailandês, o técnico não deu colher de chá para o Spider. Foi em um desses treino na Team Nogueira, que o dono da academia, Rodrigo Minotauro, teve a certeza de que Anderson estava pronto.

“Um dia eu vi o treinamento que ele dá, com muito impacto naquela perna. Coisa que machucaria até a minha. Foi ali que vi que ele estava preparado”, afirmou o peso pesado. “O Anderson se forçou muito a chutar com essa perna, colocou muito impacto, até para ajudar a solidificar e ficar 100%. Eu mesmo precisava de um estímulo para treinar. E consegui. Ele passou por tudo aqui, vai voltar e, para mim, deveria servir de incentivo para muito brasileiro.”

Edelson Silva, que trabalha o boxe de Anderson, também lembrou deste momento com o tailandês como um ponto de virada nos treinos e acrescentou outra cena. "Eu fiz um treino no saco com ele, e ele chutou o saco com muita vontade. Aí, acabou o treino e ele ainda veio dizer: 'eu posso fazer mais'. Eu percebi nesse momento que ele estava pronto."

Porrada nos sparrings

Os treinos de Anderson tiveram períodos no Rio de Janeiro, nas academias Team Nogueira e X-Gym, e ele também passou por outras fases em Los Angeles, onde tem sua academia. E ele se aventurou até fora do ambiente mais comum. Buscou o ar livre para subir escadarias, fez sessões dentro de estacionamentos, pulou pneus...

Anderson e Jones - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Anderson Silva treinou até com Jon Jones durante esta preparação. Mas esta foi uma sessão única, quando eles se encontraram em Las Vegas para um evento para o Ultimate
Imagem: Reprodução/Instagram

Na hora de trocar porrada, ele teve até Jon Jones em sua frente por uma sessão em Las Vegas. Mas quem esteve no dia a dia foi um time variado de sparrings. Douglas Moura, Andre Dedé, Wendres “Godzilla”, Rick Monstro e Damasio Pereira (o Dandan) foram alguns dos nomes que ficaram frente a frente com o Spider e testaram as habilidades do ex-campeão. Também foram responsáveis, em certos momentos, por simular o jogo do canhoto Nick Diaz. "Ele tem que misturar muito o jogo dele pra lutar com o Nick Diaz", explicou Edelson.

No caso de Douglas, um caso que acabou ganhando fama foi o de um suposto nocaute de Anderson, com uma joelhada. As imagens foram mostradas pelo Esporte Espetacular, mas minimizadas pela equipe, dizendo que a edição foi tendenciosa e não mostrou sua recuperação. Deixando esse caso para trás, Douglas, um especialista no chão, mostrou confiança no parceiro.

“Eu já participei de outras lutas dele, desde a época do combate com o Thales Leites (em 2009). E não mudou muito no Anderson, mesmo com a idade e a lesão. Ele fortaleceu bem a parte física, está muito bem, está chutando. Eu senti que ele está bem focado, quer voltar com tudo. Não o vi com receio de chutar, e acho que vai dar um grande espetáculo”, avaliou ele.

Dedé e Godzilla foram os principais responsáveis por imitar a postura de boxe de Diaz, um lutador que caminha para frente e boxeia o tempo todo. “O Anderson deve tentar manter a luta no chão. É onde ele sempre foi melhor, e não tem porque fazer diferente. Nunca vi alguém com um muay thai tão bom”, elogiou Godzilla.

A equipe toda assistiu aos vídeos para poder preparar Anderson para evitar os fortes do rival. No jiu-jítsu, são os triângulos e chaves de braço, parte que Douglas tentou treinar com o Spider. “É uma luta boa para o Anderson. O Nick é duro, não é qualquer um, mas o Anderson tem mais poder de nocaute, é mais criativo e versátil”, analisou Douglas.

Minotauro concluiu falando sobre o que espera não de Anderson, mas da torcida. “Está todo mundo ansioso, mas, mais que cobrança - já que o brasileiro cobra perfeição – é hora de dar força para ele”, pediu o ex-campeão dos pesos pesados.