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Substância do doping de Anderson necessita várias aplicações para funcionar

Guilherme Costa

Do UOL, em São Paulo

04/02/2015 11h28

Flagrado em exame antidoping por uso de substância anabolizante, o lutador brasileiro Anderson Silva ainda vai ser submetido a uma contraprova. No entanto, caso a utilização de drostanolona seja confirmada, o “Spider” não poderá alegar que foi algo isolado. O produto é injetável, não funciona em aplicação única e depende de um ciclo de até três semanas para fazer efeito.

Também conhecido como masteron, o proprianato de drostanolona é um anabolizante muito utilizado por fisiculturistas. Trata-se de uma substância androgênica, que aumenta os níveis de testosterona sem elevar o estrogênio.

“Ele melhora a qualidade muscular e normalmente é utilizado em atletas que têm baixo nível de gordura corporal. Ele evidencia o músculo e dá mais força. Fisiculturistas costumam usar no momento de secagem final”, explicou Theo Webert, nutriendrocrinologista com pós-graduação em medicina esportiva.

O ciclo de aplicação do proprianato de drostanolona varia de um a três meses de injeções hormonais. Essa diferença depende de vários fatores, mas o principal é que cada corpo reage de uma forma ao anabolizante.

O efeito não aparece apenas no término do ciclo, mas é imperceptível na primeira aplicação. “De um modo geral, a eficácia depende de uso contínuo”, confirmou Webert. “Existe um período de adaptação metabólica que pode ser de até três semanas”, adicionou.

Se usou a substância e se planejava ter vantagem esportiva com isso, portanto, Anderson não podia aplicar apenas uma vez. O proprianato de drostanolona se decompõe rapidamente no corpo – menos de uma semana, em alguns casos –, o que dificulta a detecção em exames antidoping.

“Não tenho como precisar isso porque o doping depende de uma série de fatores, que vão desde o comportamento individual até tempo de utilização e dosagem. São coisas que circundam isso e que são determinantes para dizer quando o atleta deve parar de tomar o doping para não ser pego em um exame”, explicou Webert.

"É uma droga realmente muito eficiente na queima de gordura. Ela tem função de ajudar a secar porque aumenta a massa muscular e evita a retenção de líquido. Os caras usam no finalzinho da preparação, naquele último gás. O testosterona é o contrário: aumenta a retenção e deixa o atleta inchado", disse a nutricionista Elaine de Pádua.

Os riscos do uso do masteron vão desde acne e perda de cabelo até propensão ao desenvolvimento de câncer. Esses efeitos também dependem, evidentemente, de fatores como o tempo de consumo e a quantidade ingerida. "A decomposição é muito rápida. A meia-vida é de dois dias, e por isso a pessoa vai fazendo ciclos", contou Elaine.

Anderson testou positivo em avaliação surpresa realizada no dia 9 de janeiro, 22 dias antes do combate contra Nick Diaz – o norte-americano também foi flagrado em antidoping pós-luta, mas por metabólicos relacionados a maconha. Segundo o UFC, a luta do último sábado (31) só aconteceu porque o laboratório atrasou a entrega do resultado.

O exame antidoping de Anderson também identificou 17-methyl-5b-androstane-3,17-diol. "[O masteron] é uma droga escolhida por muitos porque tem efeitos colaterais menores do que outras, mas não é tão eficiente se for consumido sozinho. Esse é um caso de combinação", afirmou Elaine.

O resultado do exame foi confirmado pelo UFC em nota oficial. O lutador ainda não se pronunciou oficialmente, mas negou ter feito uso da substância e pode pedir contraprova. Uma audiência sobre o caso está marcada para o dia 17 de fevereiro.

Se o doping for confirmado, Anderson pode receber suspensão de nove meses a um ano. Além disso, como Diaz também foi pego, a luta realizada em Las Vegas passaria a ser considerada sem vencedor – o brasileiro venceu por pontos.