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Analistas veem rumos para Anderson se redimir: ingenuidade e nova vitória

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

20/02/2015 13h50

Mais de duas semanas após estourar seu caso de doping, Anderson Silva se pronunciou pela primeira vez na madrugada desta sexta-feira. O ex-campeão dos médios negou ter cometido trapaça e prometeu investigar todos os medicamentos tomados em sua recuperação e preparação para tentar entender os exames positivos para anabolizantes e ansiolíticos. O UOL Esporte ouviu especialistas em imagem para explicar os desdobramentos do posicionamento do lutador e saber o que ele pode fazer para se defender e para tentar salvar sua imagem.

O post de Anderson no Instagram deixou aberto o caminho de uma tese de defesa que use a argumentação de “ingenuidade” quanto às substâncias ilícitas encontradas em seu corpo. “Todos os remédios que tomei desde a minha fratura estão sendo analisados. Busco a verdade tanto quanto todos que se surpreenderam com os resultados divulgados” afirmou ele, no comunicado.

Georgios Hatzidakis, sócio-diretor da Olympia Sports, lembra que o doping pode vir não só do uso consciente feito por um atleta que sabe dos riscos por que está passando, mas também por influência da equipe médica. “O doping tem essa questão. E os médicos envolvidos, quem está receitando o que o atleta toma? Será que a informação está chegando de forma adequada? Pode acontecer, tomar algo na ingenuidade. Como ele afirmou que vai fazer essa investigação, deve tentar comprovar que houve má orientação”, analisou ele.

Erich Beting, blogueiro do UOL e editor executivo da Máquina do Esporte, concorda que este pode ser um caminho de defesa indicado pelo post do Spider. “O Anderson continua na defensiva, ainda está negando e é verossímil que ele possa ter sido pego por tomar algo que não sabia. Existe ingenuidade também. Temos a ideia do picareta, como o Lance Armstrong, mas tem de se separar. Antes do julgamento, temos de presumir a inocência, e realmente pode ter sido falta de profissionalismo em saber o que estava tomando.”

Tanto Georgios quanto Erich apontam a tese como mais provável, o que, na verdade, não influiria na pena que Anderson sofrerá, e sim na sua imagem. A Comissão Atlética de Nevada tem como protocolo suspender atletas pegos pela primeira vez entre nove meses e um ano, e isso só é alterado com a comprovação de erro nos exames ou na coleta. O fato de Anderson ter consumido intencionalmente ou sem saber nada muda diante do positivo apontado no teste.

Ex-gerente de atletas da 9ine, Fábio Kadow trabalhou com Anderson Silva por mais de dois anos, auxiliando na criação da imagem de superastro do Spider, que o levou a ricos patrocínios e aparições constantes na mídia. Fábio relata que em seu tempo com o lutador, problemas com doping não eram um assunto presente e que se surpreendeu com o caso após o UFC 183.

Para o especialista em marketing e comunicação, a tese de um erro é plausível. Mas, opina ele, ainda foi deixado espaço para que Anderson admita um uso das substâncias como forma de curar sua lesão. “Me passa a sensação de que nada teria sido utilizado com um propósito total de ficar mais forte, mas talvez para precisar voltar a lutar, por conta da pressão e da recuperação de sua perna. É uma diferença pequena. Não tenho capacidade de julgar se está correto ou errado, mas há duas formas que poderia haver uma admissão”, explicou ele, sobre o que seria uma reviravolta na atual defesa do Spider.

Reconstrução

Além da resolução do caso, explicando o caso de doping, Anderson Silva terá futuramente de trabalhar a reconstrução de sua imagem. Apesar da idade avançada, o ex-campeão ainda não deu indícios de seu futuro, e se pegar uma pena de até um ano, pode ter chances de voltar para tentar limpar sua barra e fazer mais um combate, buscando uma aposentadoria em alta.

Para os especialistas, essa é uma forma não só de reconstruir o que foi abalado pelo doping, mas de tirar sombras do passado de Anderson, que passou a ter suas performances fantásticas questionadas.

Para Erich Beting, há dois casos extremos: Lance Armstrong e Cesar Cielo. “Lance é o exemplo da picaretagem e acabou com a sua imagem. Já o Cielo teve o erro de laboratório (em 2011), mas voltou, competiu, seguiu ganhando e o doping ficou em segundo plano. É um desafio. Anderson está no fim da carreira, é difícil voltar a ter performance que tinha. E tudo isso se associa a antes, porque ele pode ter se dopado sempre... O desafio é provar uma tese de ingenuidade, e ao mesmo tempo voltar a uma performance esportiva que prove que ele não era um dopado antes.”

O fato de Anderson ter uma imagem de combate ao doping deixou um “abismo” a ser trabalhado, já que o baque foi maior, analisa Fabio Kadow. Bad boys como Chael Sonnen se levantam mais facilmente ao admitir suas falhas, diferentemente do brasileiro.

“Historicamente, o esporte tem casos que são apagados ou compensados por suas performances. Um atleta tem seu ápice da imagem quando o que acontece dentro e fora do esporte se cruzam estando em alta. Mas o que fica muito forte é o que faz como performance, então há chance de se recuperar”, explica.

Já Georgious defende que uma aposentadoria de Anderson quando houve a fratura teria sido o melhor momento. Mas que agora, parando ou não, é a forma como o lutador tocará seus fãs que definirá o quanto de sua imagem ainda pode ser preservada ou recuperada.

“Agora ele tem ou de admitir erro e pedir desculpas, ou aguardar a suspensão, voltar e mostrar que pode lutar limpo. As pessoas aceitam quando alguém se desculpa e mostra que houve uma falha. Ele pode até virar um exemplo ao mostrar o erro”, concluiu.

Anderson Silva será ouvido pela Comissão Atlética de Nevada em março, quando poderá apresentar sua defesa e ser penalizado pelo duplo flagra nos exames antidoping realizados para o UFC 183.