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Briga de lutadora com taxista começou por causa de R$ 7. Saiba os detalhes

Gustavo Franceschini

Do UOL, em São Paulo

31/03/2015 05h00

Protagonista de um dos eventos mais importantes do UFC no ano, Bethe Correia foi envolvida em uma polêmica no último fim de semana: Edelson Silva, seu treinador e namorado, agrediu um taxista em uma briga no Rio de Janeiro. A rival de Ronda Rousey no UFC 190 viu tudo e chegou a chutar Cleonardo de Freitas, que fez um boletim de ocorrência por conta do envolvido.

A disputa ocorreu por volta das 18h do domingo retrasado, dia 22 de março. Bethe Correia e Edelson Silva estavam hospedados no hotel Qualicom Midas, na zona oeste do Rio de Janeiro, quando pediram um táxi por um aplicativo de celular.

Depois de entrarem no veículo, Bethe, Edelson e Silvana, irmã da lutadora, mudaram de ideia e decidiram cancelar a corrida. Até aí, o estafe da atleta e o taxista estão de acordo. As cenas que se seguiram, porém, mostram um grande conflito de versões. Baseado no depoimento de Cleonardo de Freitas e do porta-voz da rival de Ronda Rousey, o UOL Esporte detalha a história a seguir:

1- Bate-boca dentro do carro
Cleonardo explica que Bethe o questionou sobre o custo de uma corrida até um restaurante da região. O taxista, então, acionou o taxímetro. Quando entraram no veículo, os três teriam mudado de ideia para poderem comer no próprio hotel. A contagem apontou R$ 5 e Bethe ofereceu R$ 7 ao motorista. É aí que começa a discórdia.

O taxista diz que procurava o troco quando Edelson, no banco de trás, se revoltou. “Ele disse: ‘Eu já morei no Rio, sei como é isso. Não existe isso de pagar para ficar parado, esse cara está roubando a gente’. Eu falei que estava trabalhando e não ia ser xingado no meu carro. Mandei ele descer”, disse Cleonardo.

Gustavo Tourinho, porta-voz de Bethe, apresenta uma versão bem diferente, de acordo com a lutadora e o namorado. “Eles entenderam a chateação do taxista porque ele perderia a vez dele sem a corrida. Por isso deram a mais do que marcava no taxímetro. Ele não aceitou e começou a agredir verbalmente”, disse ele.

2- Primeiro ato da briga
A partir da troca de ofensas dentro do carro, Cleonardo e Edelson desceram do carro. A cena antecede o momento que aparece no vídeo divulgado. Os dois estão do lado do passageiro e iniciam a confusão, mas as versões, mais uma vez, são conflitantes.

Segundo o taxista, o namorado de Bethe Correia partiu para cima e o agrediu pela primeira vez com um soco. “Eu fiquei irritado e falei: ‘Isso não vai ficar assim’. Disse que ia chamar a polícia”, disse Cleonardo.

O estafe de Bethe Correia sustenta que não houve essa agressão inicial. Segundo o porta-voz da lutadora, Edelson se recusou a dar mais dinheiro ao taxista, que teria ameaçado pegar uma arma no porta-luvas do veículo. E aí começam o vídeo divulgado e uma nova controvérsia.

3- Celular ou arma?
Cleonardo nega veementemente ter ameaçado buscar uma arma de fogo no carro. Sustenta que dirigiu-se à porta do motorista de seu veículo com o intuito de pegar o celular para chamar a polícia. A ideia, segundo ele, era não deixar barato a suposta agressão que teria sofrido momentos antes.

Para Bethe Correia, a ameaça com o revólver é a explicação para toda a confusão. “[O motorista] disse que ele ia pegar uma arma no porta-luvas. Quando ele disse isso, minha irmã avançou em sua direção, mas eu a puxei. Eu poderia ter usado todo meu conhecimento em artes marciais para pará-lo. Mas eu não queria brigar, eu estava calma”, disse a lutadora ao site MMA Fighting, no fim de semana.

O vídeo mostra que o primeiro a chegar em Cleonardo foi Edelson, que o empurra e reinicia a discussão, desta vez diante das câmeras de segurança do hotel. Silvana, irmã de Bethe, entra no meio e empurra o taxista.

No meio da confusão, Edelson acerta um soco no rival, que se desvencilha de Silvana, tenta revidar e leva mais dois chutes, um deles de Bethe Correia, que está ao lado sem participar do empurra-empurra. Depois de agredir o taxista, a lutadora é afastada da confusão pela irmã. Ato contínuo, Cleonardo atira uma lixeira na direção do treinador de MMA, sem acertá-lo.

O objeto, no entanto, tira Edelson do sério. Quando o taxista se afasta e vai para trás de uma pilastra, os dois passam a brigar diretamente. Cleonardo desvia de dois socos e escapa de uma rasteira, mas o treinador acerta alguns golpes no taxista.

Neste momento, os dois desaparecem do campo de visão das câmeras para uma disputa atrás do táxi. O último relance da briga é o momento em que o motorista está sem camisa, leva um soco e vai ao chão. Segundo Cleonardo, ele estava ligando para a polícia no instante em que recebeu o golpe.

4- O lado do carro
Cleonardo e seu advogado, Bruno Saccani, fazem um questionamento a um ponto nevrálgico da briga, a suposta ameaça de uso de arma de fogo recebe um questionamento. Segundo Bethe e Edelson, o motorista diz que vai buscar o revólver em seu porta-luvas, o que teria provocado a reação do treinador e, posteriormente, a briga.

No vídeo, é possível ver que o taxista corre e chega a abrir a porta do motorista de seu veículo. Se a arma estava no porta-luvas, portanto do outro lado, por que ele teria corrido para o lado de quem dirige?

“Quando divulgaram o vídeo eles fizeram essa segunda versão para explicar o porquê da agressão. Por isso que eu peço para que a Bethe Correia se retrate. Isso é crime de calúnia”, disse Saccani ao UOL Esporte.

“Ali, o Edelson só quer que ele fique longe do carro. Ele disse que ia pegar a arma no porta-luvas, mas o Edelson não queria arriscar a família dele deixando que ele chegasse perto do carro. Ele reagiu, como todo mundo faria numa situação daquela”, disse Gustavo Tourinho, porta-voz de Bethe.

5- O que foi dito à polícia
A acusação de Saccani de que Edelson teria mudado a versão leva a uma outra controvérsia. O advogado do taxista sustenta que no depoimento que deram à polícia, no dia da confusão, Bethe, Silvana e Edelson não mencionaram a ameaça com a arma.

A viatura chegou ao local minutos após o auge da briga. Segundo Cleonardo, Silvana e Edelson se apresentaram e estavam sendo levados sozinhos à delegacia quando um recepcionista do hotel identificou uma terceira participante da briga: Bethe Correia, que foi obrigada a descer do carro em que estava e ir ao 42º DP, no Recreio.

“Quando o policial chegou eles primeiro disseram que a Bethe não chutou ninguém. Depois, os vídeos mostraram que sim. Aí disseram que tudo foi motivado pela ameaça com a arma, só que não disseram isso na hora e ele [Cleonardo] vai à porta do motorista, e não do passageiro”, argumenta Saccani.

O estafe de Bethe Correia nega a construção feita pelo advogado. Segundo Gustavo Tourinho, o trio incluiu, sim, a ameaça de uso de arma de fogo no boletim de ocorrência original. Ele não soube informar, no entanto, se o policial que foi ao hotel inspecionou o carro de Cleonardo, como seria praxe. O taxista diz que, como não houve denúncia de ameaça, também não houve vistoria no táxi.

6- Repercussão do caso
Tanto Cleonardo quanto Bethe alegam terem sofrido com a confusão. O taxista diz que perdeu horas de trabalho encaminhando o processo ao lado do advogado e diz que teme represálias de pessoas do MMA. Até por isso, pede que sua imagem não seja divulgada.

Bethe Correia vai pela mesma linha. Em preparação intensa para a luta mais importante da carreira, contra a supercampeã Ronda Rousey, ela diz que voltar a se focar totalmente nos treinos, mas não tem conseguido. Um dos motivos são os ataques que têm recebido pela internet. A imprensa especializada em MMA, por exemplo, repercutiu bastante as ameaças de morte sofridas pela atleta.

O porta-voz de Bethe explica que os ataques chegam a ter conotação racista, já que Edelson é negro, e chegam principalmente por mensagens diretas de Facebook e Whatsapp. Segundo ele, o material foi recolhido e enviado à polícia do Rio de Janeiro, para que ela não corra riscos na capital fluminense. O estafe da lutadora acredita que há ligação entre os agressores virtuais e Cleonardo.

“Está nas mensagens que eles são amigos do cara. Dizendo que ela não sabe com quem mexeu, que vai ter troco. A gente tem tudo documentado”, disse Gustavo Tourinho. Cleonardo nega veementemente. “Não sei de onde está saindo isso. Eu sou a favor de que o cara que ameaçou, mostrou arma e chamou de macaco seja preso”, disse o taxista.

7- Motivação da denúncia
Feito o boletim de ocorrência, o caso foi encaminhado a um Jecrim e se desenrolará no âmbito judicial. Pai de um garoto de 4 anos, Cleonardo diz que está com as prestações da casa própria, comprada com financiamento da Caixa em 2010, atrasadas. Diz que quer Justiça e entende que lhe cabe uma indenização.

“Se vem uma indenização ia ser bom, claro. E eles iam pensar duas vezes antes de fazer isso de novo. Sou um cara do bem. Não guardo mágoa nenhuma dela, inclusive torço para que ela ganhe a luta [contra Ronda]”, disse Cleonardo, alegando que teve lesões no rosto e perdeu horas de trabalho.

O estafe de Bethe, no entanto, entende que não é para tanto. “Eles estão criando uma tempestade em copo d’água. Foi uma briga que ele mesmo iniciou”, disse o porta-voz da lutadora.