Anderson era chorão no taekwondo e idade é empecilho para 2016, diz mestre

Na semana em que completou 40 anos de forma melancólica, Anderson Silva voltou às suas origens como lutador, ao revelar o sonho de disputar as Olimpíadas do Rio, em 2016, lutando taekwondo, uma das primeiras artes marciais que treinou antes de virar um astro do MMA. O caminho para atingir o objetivo é árduo, assim como foi duro seu início neste mundo. Em entrevista ao UOL Esporte, o primeiro mestre de taekwondo do ex-campeão do UFC contou que muitas vezes o garoto terminava treinos chorando e colocou em dúvida a participação nos Jogos, por conta da idade.

Anderson teve como primeira experiência nas lutas a capoeira, com 8 anos, na escola em que estudava em Curitiba. Dois anos depois, vendo amigos treinarem taekwondo, ele quis tentar a sorte. Faltava, no entanto, dinheiro. O garoto conversou então com o coreano Hong Soon Kang, o Mestre Kang, que aceitou o aluno. O combinado incluía um serviço: Anderson podia treinar, mas teria que se incumbir da limpeza da academia. O pior é que ele ainda tinha de mentir para a tia, em casa, que não o queria lutando.

“Fiz taekwondo por cerca de cinco anos. Cheguei a participar de algumas competições, torneios regionais sem grande importância”, contou Anderson, na biografia que lançou pela editora Primeira Pessoa, em 2012. O Spider chegou à faixa preta, e depois passou a lutar também jiu-jítsu, muay thai, boxe e outras artes para formar sua base no vale-tudo.

Em conversa por telefone, Kang, que ainda mostra um grande sotaque para falar português, relembrou os tempos em que trabalhou com o pupilo. “Ele vinha na academia treinar e ficou por uns seis anos. Ele era muito dedicado, muito forte no taekwondo. Ele é muito bom”, afirmou o técnico, 10º dan em hapkido e 9º dan em taekwondo.

As sessões de treino de Kang não eram nada fáceis, segundo ele mesmo indica. “Hoje ele é um astro no MMA e dava para ver que tinha talento. Ele começou como todos, treinava forte. Ele era muito pobrezinho, não tinha chance na vida. Hoje, 20, 30 anos depois, está muito melhor. Aprendeu muito, mas o treino era muito forte, ele chorava quase todo dia”, conta Kang.

Ao falar sobre o sonho olímpico de Anderson, mestre Kang admitiu que não tem conhecimento das regras para classificação aos Jogos. Ainda assim, sua análise indica que a idade pode ser um fator a dificultar a participação do lutador de MMA.

“Anderson tem muita qualidade, é um lutador muito bom, com técnica boa. Mas os lutadores costumam estar na melhor forma com 25 a 30 anos”, pontuou ele.

Mestre Kang, nascido na Coreia do Sul em 1943, serviu o exército do seu país atuando como médico. Mais tarde, chegou ao Brasil em 1978. Do Rio de Janeiro, partiu para Curitiba, onde se instalou, sempre mostrando suas técnicas de hapkido e taekwondo. Hoje, também é presidente da Câmara do Comércio e Indústria Brasil/Coreia, e segue com sua academia de artes marciais.