Topo

MMA


MMA em Palmas tem "ginásio sauna" e sangue perto de prefeito

Paulo Capoeira venceu Nildo Katchau no Jungle Fight - Divulgação / Jungle Fight - Divulgação / Jungle Fight
Paulo Capoeira venceu Nildo Katchau no Jungle Fight
Imagem: Divulgação / Jungle Fight

Daniel Lisboa

do UOL, em Palmas (TO)

14/09/2015 06h00

Palmas, a capital tocantinense, é tão quente que lá a água sai da torneira como se tivesse sido aquecida a gás. Andar na rua quando o sol está a pino é tarefa para os bravos, e aguentar um local fechado sem ar-condicionado é literalmente se submeter a uma sauna.  Essa peculiaridade climática, porém, não impediu que 1800 pessoas encarassem juntas o calor do ginásio Ayrton Senna - que não tem ar condicionado - na noite de sábado (11) e madrugada de domingo. O motivo foi a realização de mais uma edição do maior evento de MMA da América Latina: o Jungle Fight.

Palmenses mobilizados

A competição teve ao todo 18 lutas e contou com seis lutadores locais. Um deles, Maike Linhares, entrou no octógono para a luta mais importante da noite, que valia o cinturão do peso galo, e cumpriu com sua missão. A presença dos conterrâneos foi uma atração a mais para o público local, que só conseguiu ingressos por meio de um sorteio feito pela prefeitura e pela promoção realizada por uma rede de lojas de camisas. Quem levasse duas camisas, levava também o ingresso.

Uma longa fila se formou na entrada do ginásio (que foi reinaugurado com o evento) cerca de uma hora antes do início das lutas. Com um evento deste porte na cidade, os amantes de MMA não tinham muitas preferências: quem estava para entrar, queria ver todas as lutas. É o caso de Gualtiery Lopes, que conhece alguns dos lutadores palmenses, mas está lá pelo prazer de assistir ao vivo a todos os combates. “Sou faixa preta de jiu-jitsu, fã de MMA, me inscrevi para os ingressos assim que pude”, conta Gualtiery.

Gustavo Henrique também acompanha MMA e também luta. Já viu de perto alguns dos lutadores de Palmas e aposta em Diogo Teles como o favorito. “Boto fé nele, mas não sei quem é o adversário”, diz Gustavo, referindo-se a Diego Magalhães (Diogo venceu a luta).

Duas camisas por um ingresso

Já Hugo Oliveira resolveu não contar com a sorte para conseguir os ingressos e decidiu apelar à promoção da camisaria. “Já fui à loja direto. Comprei duas camisas. Deu cento e tantos reais. Acho que valeu a pena, né?”, diz Hugo, que “veio para ver nocaute”.

Curiosamente, se muita gente deve ter se frustrado por não conseguir ingresso, havia quem quisesse se desfazer dele. “Eu ganhei esse ingresso, mas não tenho ninguém para entrar comigo e decidi desistir”, reclama Ana Tatiane, que tenta vender seu bilhete do lado de fora do ginásio. “Eu amo lutas, mas não vou assistir sozinha. E nem sei por quanto vender porque foi de graça. Vinte, trinta reais?”, pergunta a garota, pedindo uma sugestão.

Dentro do escaldante ginásio, a interação do público era total, mas o tom subia quando eram os palmenses em ação. Alguns dos lutadores, inclusive, tinham um batalhão de parentes, amigos e admiradores assistindo suas performances.

Derrotada por ídolo

Um dos competidores que lutam “em casa” é Karol Tigres. Com uma tarefa difícil pela frente – encarar a campeã mundial de jiu-jitsu submission, Polyana Viana, ela conta que seus pais ainda não se habituaram direito a vê-la em ação. “Meu pai está aqui hoje, veio poucas vezes, e minha mãe ainda não consegue vir. Eles ainda têm receio em me ver lutando”, diz Karol. Ela revela que conhece muito bem o estilo de luta da adversária, e por um motivo peculiar.

“A Polyana era meu ídolo. Eu acompanho a carreira dela desde o começo, somos amigas de Facebook e Instagram, então não dá para dizer que eu não sei como ela luta”, diz a lutadora de Palmas. “Mas tudo isso (a amizade) fica, claro, do lado de fora. No ringue, somos profissionais”, diz Karol. Para sua infelicidade, porém, a torcida dos familiares, e também dos alunos da sua academia, não foi suficiente. Polyana finalizou Karol após dois minutos e 24 segundos de combate. A palmense chorou após a luta, e para piorar a noite seu marido Fabio Mocotó também perdeu seu combate contra Kelles Fúria.

Recomeço com sangue

Rayner Silva, de Manaus, também tem motivos para considerar a noite especial. Após ganhar o cinturão em uma edição do Jungle Fight de 2013, ele teve duas derrotas seguidas. Segundo ele, por causa de uma contusão no menisco de um dos joelhos. A noite, então, era para ser a da retomada das vitórias, mas não foi isso o que aconteceu. Rayner ia bem na luta até sofrer o golpe mais violento da noite: uma joelhada na testa que lhe custou um corte profundo e espalhou seu sangue por boa parte do octógono. Tanto que o prefeito e primeira-dama de Palmas, que assistiam à luta, por muito pouco não foram tingidos de vermelho pelo jato do sangue vindo de Rayner.

Sauna antes do cinturão

Mas ninguém tinha tanta responsabilidade nesta edição do Jungle Fight quanto Maike Linhares. Lutando em casa pelo cinturão, ele aproveita que sua luta é a última do evento para deitar e relaxar no espaço do ginásio destinado aos competidores. “Não vou negar que tem uma ansiedade, uma pressão a mais. Mas ter a torcida ao meu lado é também um incentivo”, diz Maike. Ele acredita que a realização do evento em sua cidade pode contribuir com os lutadores locais. “Temos muitos lutadores aqui em Palmas, mas precisamos de mais estrutura, patrocínios”, diz o lutador.

Na pesagem, Maike estava com 500 gramas a mais e cogitou desistir da luta. Suou em uma sauna por duas horas e atingiu o peso ideal. E a decisão se mostrou a correta, porque Maike venceu sua luta contra Rodrigo Praia após 3 minutos e 24 segundos do segundo round. Ele finalizou o adversário, completou oito lutas de invencibilidade no MMA e fez o ginásio entrar em ebulição de uma vez.

Resultados do Jungle Fight 81 :

Maike Linhares finalizou Rodrigo Praia com triângulo de mão aos 3m24s do 2R
Paulo Capoeira venceu Nildo Katchau por decisão dividida 30-27 29-28 28-30
Martin Bravo venceu por decisão unânime 30-27 29-28 29-28
Polyana Mota finalizou Karoline Teles com mata-leão aos 2m24s do 1R
Rander Júnio nocauteou Jessé Mello com 1m29s do 1R
Jose Alday venceu Nelson Tampinha por nocaute técnico aos 3m46s
Toninho Marajó venceu Josimar Ninja por nocaute técnico aos 3m53s do 1R
Michel Sassarito nocauteou Lúcio Curado aos 2m26s do 2R

Card Social:

Denes Carvalho venceu Rayner Silva por interrupção médica aos 23s do 2R
Deroci Barbosa finalizou Carlos Almeida com triângulo de mão aos 2m36s do 1R
Herbeth Souza finalizou Delberth Lamarck com mata-leão com 1m44s do 1R
Herrison Sales finalizou Edmarom Santos com armlock aos 2m27s do 1R
Kelles Fúria venceu Fábio Mocotó por nocaute técnico aos 2m25s do 1R
Carlos Soares venceu Paulo Irmão por nocaute técnico aos 4m51 do 2R
Elias Índio venceu Joanio Radar com decisão unânime triplo 29-28
Mayra Cantuária finalizou Fabiana Barrenquevitz com armlock com 1m52s do 2R
Diogo Teles venceu Diego Magalhães por nocaute técnico aos 4m 38s do 3R
Daniel Barbosa nocauteou Hugo Tavares aos 3m12s do 1R