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Cigano estava inseguro e é muito melhor do que o que se viu, diz ex-técnico

UFC/Divulgação
Imagem: UFC/Divulgação

Rodrigo Garcia e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

26/12/2015 06h00

A noite de 17 de dezembro teve um sabor amargo para Luiz Dórea. Acostumado a acompanhar Junior Cigano em todas as suas lutas desde que o lutador iniciou sua trajetória no UFC, o ex-treinador do campeão precisou acompanhar pela televisão o desempenho de seu pupilo, que trocou os trabalhos do baiano pela preparação na American Top Team, nos Estados Unidos..

À distância, Luiz Dórea viu Cigano ter uma atuação abaixo do esperado contra Alistair Overeem e ser nocauteado em seu próprio jogo: o boxe. Com experiência de quem acompanhou o catarinense de perto por um longo período, o treinador contou qual foi a sensação de não estar perto do pupilo pela primeira vez.

“Foi uma sensação ruim, pois eu trabalhei com ele desde o início na base da academia. É uma ansiedade muito grande, porque a gente quer sempre o melhor, independentemente de ele estar perto ou longe. Tenho ele como um filho, é uma relação muito boa. Torci para que ele estivesse bem preparado e que eu conseguisse ver a luta, mas foi uma sensação ruim. Vi a luta de casa, sozinho”, declarou o treinador em entrevista ao UOL Esporte.

A sensação ruim que Dória sentiu no começo da luta foi piorando conforme Cigano ia lutando contra Alistair Overeem. Com dificuldades para encontrar a distância ideal, o brasileiro foi buscando a movimentação, mas sofreu para solucionar o problema e acabou nocauteado após um duro golpe no rosto.

“Senti ele um pouco inseguro com relação à distância para conectar os golpes, acredito que ele deveria ter andado um pouco mais para frente. Quando o Overeem trocava de base ele sentia mais distância como canhoto, só que ele sempre foi especialista em lutar contra canhotos por causa dos treinos na minha academia. Ele estava sem distância, inseguro e os golpes não tinham eficiência, ele não conseguiu se encontrar, ficou sem noção de tempo e não estava bem”, avaliou o treinador.

Deixar experiência no boxe de lado foi maior erro de Cigano

Para Luiz Dórea, Cigano errou ao não apostar em seu jogo de boxe para tentar garantir mais um triunfo no UFC, que poderia leva-lo a disputa de cinturão contra o vencedor do duelo entre Cain Velásquez e Fabrício Werdum. O treinador destacou que o catarinense deveria ter apostado mais em sua principal habilidade, já que foi o boxe que o levou a chegar ao cinturão da categoria.

“Não sei como foi o treino dele, mas ele estava diferente. Não usou a habilidade natural que ele tem, isso é óbvio, ele é um atleta muito superior ao que ele mostrou. Eu sempre digo: o boxe do Cigano está acima, mas ele sempre treina muito wrestling. Só que não podemos nos descuidar com o boxe, não se pode descuidar da sua maior arma, a arma que o fez campeão, perder sua essência. Overeem é um grande atleta, campeão do K-1 (torneio de muay-thai), mas na minha opinião, em um dia normal, se o Cigano conseguisse conectar dois, três golpes, não tenho dúvida que ele venceria”, projetou Dórea.

Apesar da relação paterna, Dórea conta que ainda não teve a oportunidade de conversar com Cigano sobre os erros cometidos na derrota. De acordo com o treinador, eles apenas conversaram sobre trivialidades para que o catarinense pudesse “esfriar a cabeça”.

“Eu conversei com ele tranquilo e apenas falei que estava com saudade e que era para ele vir para Salvador. Ele tem consciência do que aconteceu, é aquela coisa, toda vez que você faz mudanças, você corre riscos. Eu acredito que tudo tem a ver, tudo é válido, mas a mudança de camp no meio da competição é correr muitos riscos. É a forma que eu penso, treinar na Rússia, nos Estados Unidos, vale a pena, mas não no camp de competição. Não podemos perder a nossa raiz, a nossa base”, ressaltou o treinador, que concluiu citando não ter ficado chateado com a mudança de Cigano.

“Vou dizer uma coisa: para mim, o Cigano tem que estar ao meu lado, aqui em Salvador, na base onde tudo começou. Eu não vou falar a palavra chateado, mas o correto é ele estar em casa, aqui com a gente. Foi assim que ele foi campeão do mundo, eu criei uma metodologia de treino para o Cigano e ele se adaptou a esta metodologia, qualquer mudança corre risco, pode dar certo ou errado, mas infelizmente essa deu errado. Buscar conhecimento é necessário, mas depende da hora, do momento. ”