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Há 10 anos, Anderson Silva se tornava campeão do UFC na base das joelhadas

Anderson Silva acertou uma sequência impressionante de joelhadas em Franklin - Reprodução / UFC
Anderson Silva acertou uma sequência impressionante de joelhadas em Franklin Imagem: Reprodução / UFC

Guilherme Dorini

Do UOL, em São Paulo

14/10/2016 06h00

14 de outubro de 2006. Foi nesta data, há exatamente dez anos, que Anderson Silva começou a escrever sua história de campeão do UFC. Naquela noite de sábado, em Las Vegas, nos Estados Unidos, Spider entrou no que ainda se transformaria o cage mais importante do mundo para nocautear Rich Franklin com uma sequência inesquecível de joelhadas e ser pela primeira vez o dono do cinturão dos médios (até 84 kg) da organização.

Em um bate-papo com o UOL Esporte, Anderson admitiu não lembrar que seu feito completava dez anos, mas comentou a importância que aquela luta teve em toda sua carreira. Além disso, ele recordou outros detalhes daquele período, como quando conquistou seu primeiro título mundial nas artes marciais mistas e sua chegada ao UFC, além de falar sobre o futuro de sua academia - a Muay Thai College - e a nova geração de lutadores do esporte.

Spider dominou Rich Franklin - Josh Hedges/Zuffa LLC - Josh Hedges/Zuffa LLC
Spider dominou Rich Franklin
Imagem: Josh Hedges/Zuffa LLC

“Cara, para ser sincero, não lembrava desta data, não”, foi honesto. “A luta com Franklin foi muito importante para mim e para minha carreira, até hoje agradeço muito por essa oportunidade que ele me deu. É um grande campeão, grande pessoa e tem todo o meu respeito. Foi um grande feito, as grandes histórias que você conseguiu escrever durante sua trajetória, ficam. Mas ainda estou escrevendo a minha”, completou.

Apesar de chegar com moral ao UFC - já que era o campeão dos médios do Cage Rage, evento inglês de MMA -, Anderson Silva ainda precisou fazer uma luta para ter a oportunidade de disputar o cinturão do Ultimate.

Spider estreou como protagonista da luta principal do UFC Fight Night 5, quando enfrentou Chris Leben em Las Vegas, nos Estados Unidos. E não teria forma melhor para debutar. Logo no primeirou round, acertou uma sequência de golpes que desnortearam o norte-americano e finalizou o combate com uma joelhada ainda no primeiro assalto, sendo considerado o melhor nocaute daquela noite.

O bônus conquistado na luta anterior bastou para que Dana White logo lhe desse a chance de disputar o cinturão. O atual campeão da categoria era Rich Franklin, norte-americano que iria para sua terceira defesa de título. Anderson, no entanto, não se abalou. Sem pressão nas costas, lutou leve e sequer deu chances ao rival.

Depois de passar um minuto e meio "tímido", arriscando apenas alguns chutes baixos, Anderson partiu para um clinch de muay thai (quando segura o adversário com as duas mãos pela nuca) e, sem perder a posição, começou uma sequência impressionante de joelhadas. Foram 20 seguidas em 50s, depois, mais seis em 30s, nocauteando Franklin com 2min59s do primeiro round. O penúltimo golpe, em cheio no rosto do rival, inclusive fez o norte-americano fraturar o nariz.

DO CAGE RAGE AO UFC

Spider com cinturão do Cage Rage - Reprodução - Reprodução
Spider com cinturão do Cage Rage
Imagem: Reprodução

Anderson Silva revelou como foi sua ida do Cage Rage ao UFC. Spider tinha mais uma luta em seu "contrato de honra" com a organização inglesa, mas o Ultimate não queria que ele corresse o risco de perder e chegar em baixa ao novo evento.

"Antes de eu ir para o UFC, lutava na Inglaterra, em um evento chamado Cage Rage. Era o campeão dos médios e tinha mais uma luta combinada para fazer. Só que lá, como conhecia o dono e tudo mais, meu contrato era de honra, de palavra. Então, veio um telefonema do Joinha (Jorge Guimarães), que é meu empresário ao lado do Ed (Soares), falando que o UFC queria que eu lutasse lá. No entanto, eles não queriam arriscar que eu perdesse minha última luta e chegasse lá com derrota. Eles não iam aceitar se eu chegasse com uma derrota. Então falei: 'não estou preocupado com o que vocês pensam. Tenho meu compromisso e vou lutar. Se eu perder e vocês ainda me quiserem, tudo bem. Se não, tudo bem também. Vou honrar meu compromisso com o evento’. Fiz o que tinha que ser feito, cumpri minha palavra, venci e deu tudo certo".

PRIMEIRO TÍTULO MUNDIAL
 
Anderson Silva com o cinturão do Shooto - Reprodução - Reprodução
Anderson Silva com o cinturão do Shooto
Imagem: Reprodução
 
"Meu primeiro título mundial foi no Shooto, no Japão (2001). Foi a primeira vez que entendi a importância da minha responsabilidade de lutar para o meu país. Cheguei lá para lutar, deixei minhas coisas em um canto e um cara virou e falou: 'você não pode deixar suas coisas aqui. Aqui só passam os campeões'. Então, o Sérgio Cunha, que estava comigo na época, falou: 'pode deixar suas coisas aqui, sim, porque é por aqui eu você vai voltar'. Lutei, fui campeão e fui lá buscar minhas coisas. É uma coisa que me marcou".
 
E O FUTURO? EXPANDIR A MUAY THAI COLLEGE?
 
Anderson Silva possui uma academia em Los Angeles - Reprodução - Reprodução
Anderson Silva possui uma academia em Los Angeles
Imagem: Reprodução
 
"Estou trabalhando nisso há muito tempo, ainda estou ponderando. A Muay Thai College não é uma academia para formar lutadores. É onde você desenvolve suas habilidades marciais e aprende a conviver com o aprendizado e as dificuldades das artes marciais em geral. Muita gente me questiona por que não monto um time. Hoje em dia é muito difícil montar um time de MMA. Têm atletas que chegam do jiu-jitsu, boxe, muay-thai... Cada um com uma certa experiência, com um certo costume e aprendizado".
 
NOVA GERAÇÃO DE LUTADORES
 
Spider teme por nova geração de lutadores de MMA - Dean Mouhtaropoulos/Zuffa LLC/Zuffa LLC via Getty Images - Dean Mouhtaropoulos/Zuffa LLC/Zuffa LLC via Getty Images
Spider teme por nova geração de lutadores de MMA
Imagem: Dean Mouhtaropoulos/Zuffa LLC/Zuffa LLC via Getty Images
 
"Quando comecei tive que aprender uma disciplina, a respeitar essa disciplina, e depois fui aprendendo outras modalidades, me formando. Hoje o crescimento é muito acelerado. O esporte ainda tem suas barreiras, não é visto com bons olhos... Acaba que você não tem uma base fundamentada para começar a lapidar um atleta. Você precisa passar por vários segmentos para ser bom o suficiente para se tornar um campeão. A prova disso é que, além do Zé (José Aldo) e da Amanda (Nunes), o Brasil não tem mais nenhum campeão. Não temos mais atletas despontando nesse esporte. Não temos esse despontamento justamente por isso. Os atletas chegam só com o objetivo de ser campeão, bem-sucedido e não se dão tempo para galgar espaço em outras modalidades. É preciso que você vá lutar boxe, participe de torneio só de jiu-jitsu ou até muay-thai. É isso que te dará experiência para saber lidar com todas as dificuldades na fase decisiva de sua carreira. Hoje em dia é tudo com muita pressa, não temos um trabalho de base. Quando trabalhávamos a base, tínhamos cinco, seis atletas fazendo a diferença. Por muito tempo tivemos vários cinturões ao mesmo tempo, o que não acontece hoje".
 
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