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Como Jéssica deixou sítio para ter dois sonhos: videogame e cinturão do UFC

Personagem de Jéssica Andrade no game UFC 2 - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Imagem: Reprodução/Instagram

Brunno Carvalho

Do UOL, em Dallas (EUA)

10/05/2017 04h00

Primeira brasileira contratada pelo UFC, Jéssica Andrade sobe no octógono no próximo sábado (13)  para consolidar uma carreira de apenas seis anos. Na segunda luta mais importante da noite de Dallas, ela terá a missão de fazer algo que ninguém jamais fez: vencer a polonesa e atual campeã dos palhas, Joanna Jedrzejczyk.

Natural de Umuarama, no interior do Paraná, Jéssica traz consigo uma história de vida que passou pelo trabalho na roça até o encontro com as lutas, um mundo que não a agradava de início. “Nunca gostei de lutar, não gostava de brigar. O que eu queria mesmo era ser jogadora de futebol”, contou ao UOL Esporte.

Um projeto na escola em que estudava na adolescência, porém, foi fundamental para que a veia de lutadora, que ela ainda nem sabia que existia, falasse mais alto do que a habilidade com a bola nos pés. “Quando surgiu o projeto de judô, ele acontecia bem no dia da minha folga no trabalho, então optei por matar a aula de futsal para poder lutar”.

Jéssica Andrade recebe medalha em evento de jiu-jitsu - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Jéssica sempre foi fanática por medalha
Imagem: Reprodução/Instagram

O sucesso nos treinos foi suficiente para que a carreira de Jéssica tivesse início. Depois do judô veio o jiu-jitsu, a “paixão” da brasileira. O interesse, porém, não era apenas nos combates, mas no que viria após as vitórias.

“Comei a treinar jiu-jitsu em 2011 e ele virou minha paixão. E eu sempre gostei de ganhar medalha. Ia nos eventos de jiu-jitsu pensando nas medalhas, que eram gigantes. Estava acostumada com aquelas de honra ao mérito da escola, então quando vi a do jiu-jitsu só pensava em ganhá-la”, relembra ela, que calcula ter mais de 60 guardadas na casa da mãe Neuza.

E foi no jiu-jitsu que surgiu o apelido "Bate-Estaca", tudo por causa do golpe usado em sua primeira luta na modalidade. “No primeiro campeonato, dei um bate-estaca na menina e fui desclassificada. Aí veio o apelido. Eu não gostava, mas quando você não gosta, é aí que fica”, brinca.

O bate-estaca consiste em uma queda em que você projeta o adversário no alto e o arremessa no chão. O golpe é ilegal no jiu-jitsu.

Vida no MMA e distância da família

Jéssica Andrade desfere golpe em Angela Hill - Tim Warner/Getty Images - Tim Warner/Getty Images
Imagem: Tim Warner/Getty Images

Depois de uma infância “muito boa”, em que se dividia entre ajudar os pais na roça e brincar com o irmão Fernando, Jéssica precisou tomar uma decisão importante em 2011: era hora de deixar o afastado sítio em que morava e se mudar para a cidade de Umuarama, decisão que a fez economizar uma viagem diária de 30km para treinar.

Em Umuarama, seu caminho cruzou pela primeira vez com Gilliard Paraná, dono da PRVT, atual academia de Jéssica. Em 2011, em sua primeira luta profissional de MMA, Bate-Estaca foi escalada para enfrentar Weidy Borges, pupila de Paraná, no Sagaz Combat.

“O evento era meu. Estava procurando uma lutadora para enfrentar a Weidy e me falaram de uma menina que havia vencido um campeonato na raça”, relembra Gilliard Paraná. “A Jéssica era meio desengonçada lutando e venceu a menina”.

No primeiro combate de sua carreira, Jéssica precisou de dois rounds para nocautear Weidy. A exibição fez com que Jéssica recebesse uma oferta de Paraná, mas a negociação não avançou. Apenas meses a parceira teve início – primeiro em uma filial da PRVT e em 2012 em Niterói, sede principal da academia.

Jéssica Andrade com a irmã Nicole e a mãe Neuza - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Jéssica com a irmã Nicole e a mãe Neuza: sonho é trazer a família para perto
Imagem: Reprodução/Instagram

A mudança para o Rio de Janeiro fez com que Jéssica tivesse que conviver com uma dura realidade: a distância para a família. A lutadora conta que o mais difícil de seus retornos à Umuarama era o momento de se despedir da irmã Nicole, à época com nove anos.

“Minha irmã chorava todos os dias. Foi muito difícil. Sempre que ia visitá-los, ela pedia para eu não ir embora e dizia que preferia que eu não ganhasse dinheiro, mas ficasse perto dela. Toda vez eu partia chorando”.

A distância chegará ao fim caso a vitória sobre Joanna se torne uma realidade, visualiza Jéssica. “Se eu vencer o cinturão, poderei trazê-los para morar comigo. E montar alguma coisa para eles trabalharem, porque minha mãe não gosta de ficar parada”.

Primeira luta no UFC e sonho realizado: um videogame

Jéssica assinou com o UFC em junho de 2013 e logo de cara foi escalada para enfrentar a ex-desafiante ao cinturão Liz Carmouche. O combate, porém, não terminou bem para a brasileira. No segundo round, a norte-americana acertou uma combinação de socos e cotoveladas que pôs fim à primeira luta da brasileira na principal organização do mundo.

Mesmo com a derrota, Jéssica conseguiu realizar um sonho: adquirir um videogame. Antes mesmo de receber o dinheiro pela luta, a brasileira contou com a ajuda de seu empresário para comprar um Playstation 3, principal modelo da época.

Com o passar do tempo e com as outras nove lutas que já fez pelo UFC, Jéssica trocou a geração do videogame e passou a conviver com uma curiosa realidade: jogar com ela mesma no “UFC 2”, game que ganhou de presente da mulher Fernanda.

Na versão, porém, Jéssica ainda aparece no peso galo e ela mesma não admite ter ficado muito impressionada com o que viu. “Vou te falar que ela (Jéssica do videogame) não parece muito comigo, não. Ela é bem feia, está bem gorda. Acho que no próximo que sair vão me trocar de categoria e vou ficar mais bonitinha”, brinca.

O combate entre Jéssica Andrade e Joanna Jedrzejczyk será o segundo mais importante do UFC 211, que acontece em Dallas, nos Estados Unidos. O evento ainda contará com a disputa de cinturão dos pesados entre Junior Cigano e Stipe Miocic.

UFC 211 (Dallas)
13 de maio

Card Principal

Pesados: Stipe Miocic x Junior Cigano
Palha feminino: Joanna Jedrzejczyk x Jéssica Andrade
Meio-médio: Demian Maia x Jorge Masvidal
Penas: Frankie Edgar x Yair Rodríguez
Moscas: Henry Cejudo x Sergio Pettis

Card Preliminar

Leves: Eddie Alvarez x Dustin Poirier
Penas: Chas Skelly x Jason Knight
Médio: Krzysztof Jotko x Dave Branch
Leves: Marco Polo Reyes x James Vick
Palha feminine: Jessica Aguilar x Cortney Casey
Penas: Jared Gordon x Michel Quinones
Pesados: Chase Sherman x Rashad Coulter
Penas: Gabriel Benítez x Enrique Barzola