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Açaí com peixe, chuva e carimbó: UFC faz imersão na cultura de Belém

Arena Mangueirinho ficou cheia para o UFC Belém - Adriano Wilkson/UOL
Arena Mangueirinho ficou cheia para o UFC Belém Imagem: Adriano Wilkson/UOL

Adriano Wilkson

Do UOL, em Belém

04/02/2018 08h52

A passagem inédita pelo Norte do Brasil deu cores diferentes ao UFC. Em Belém pela primeira vez, o principal torneio de MMA do mundo viveu um fim de semana de imersão na cultura paraense. “Agora acho que posso ir ao [mercado do] Ver-o-peso tomar um açaí e comer um peixe”, disse Douglas da Silva no octógono após vencer o equatoriano Marlon Vera.

Diferentemente do resto do país, os paraenses costumam tomar o suco do açaí durante grandes refeições e misturado a pratos salgados, como peixe frito, camarão e carne de sol.

Mas o lutador de Castanhal, uma cidade de 173 mil habitantes a 75 km de Belém, não foi o único a aproveitar o que a região tem a oferecer. A também paraense Polyana Viana revelou que recebeu uma visita surpresa horas antes de sua luta: outro paraense, Iuri Marajó (sim, houve seis lutadores locais no evento) apareceu para lhe presentear um pouco de açaí.

Marajó, já tinha dito que na véspera da luta comeria caldo de turu, um molusco de aparência verminosa que cresce em árvores mortas no litoral do Estado. Na ilha do Marajó, de onde o atleta vem, o animal é uma popular iguaria.

Quem não lutou também se refestelou na celebrada gastronomia da cidade. O peso médio Paulo Borrachinha, que esteve em Belém apenas para assistir aos combates, foi visto em um ponto turístico comendo um prato de pato no tucupi com jambu, o carro-chefe da culinária paraense.

A região também esteve representada em outros aspectos. Lyoto Machida, que venceu a principal luta da noite, foi a um treino aberto em um shopping e surpreendeu o público com passos de carimbó, a dança folclórica do Estado.

Valentina Shevchenko, atleta do Quirguistão que venceu a segunda luta principal, disse em entrevista coletiva que já conhecia a região por ter feito uma viagem de barco pelo rio Amazonas, durante a qual dormiu em redes.

Ao pegar o microfone após sua vitória, o paulista Serginho Moraes fez menção ao acaso que liga o passado de Belém à história de sua arte marcial de especialidade, o jiu-jitsu. Foi na capital paraense que Carlos Gracie começou a treinar judô, ao conhecer o mestre japonês Mitsuyo Maeda.

Quando a família se mudou para o Rio, ele e os irmãos começaram a criar o que se tornaria o jiu-jitsu brasileiro. “Se hoje eu tenho uma profissão e posso sustentar meus filhos”, disse o tetra campeão mundial da modalidade, “é porque os Gracie se encontraram com um japonês nessa cidade em 1913.”

Mais de 10 mil pessoas compareceu à arena Mangueirinho e a multidão se empolgou com a apresentação dos brasileiros. No meio da noite, quando uma das lutas parecia morna demais, uma parte da arena resolveu reeditar a rivalidade futebolística local. Ouviu-se o grito de “Remo, Remo”, e, logo depois, a resposta na forma de um canto tradicional da torcida do Paysandu.

E a Amazônia também esteve representada no céu, já que uma chuva torrencial castigou a cidade durante o sábado inteiro. Como o caminho do estacionamento até a entrada da arena não era coberto, os torcedores tiveram que vencê-lo correndo sob o aguaceiro. Muitos chegaram ao UFC completamente encharcados.

Para completar a imersão, o UFC Belém foi patrocinado pela Cerpa, uma marca de cerveja paraense fundada em 1966. O acordo fez com que os torcedores bebessem a cerveja local durante toda a noite.

O clima empolgante pode ter feito a diferença para os brasileiros, que venceram todas as lutas menos duas. Shevchenko, a estrangeira mais aplaudida pela torcida, coroou sua vitória com uma dancinha curiosa, aparentemente típica do leste europeu, e levou o público à gargalhada.

Ao final, o UFC saiu satisfeito com o primeiro evento na cidade, principalmente pela sintonia entre público e atletas. “Nós certamente estaremos aqui de volta”, disse Dave Shaw, o vice-presidente internacional da companhia.