Médicos divergem sobre peso do Mundial em pena branda dada a Cielo

Cesar Cielo e outros três nadadores receberam apenas uma advertência após testarem positivo para a furosemida. A decisão foi definida pelo painel de Controle de Doping da CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos), formado por quatro membros. No entanto, dois dos médicos integrantes discordam em um dos motivos que levaram à pena branda em casos do uso do diurético.

Em entrevista ao UOL Esporte, Sandra Soldan, médica da CBDA, deixa claro que a proximidade do Mundial de Esportes Aquáticos, que começa dia 16, foi determinante. Eduardo De Rose, maior autoridade brasileira na luta contra o doping, também em contato por telefone com a reportagem, nega e aponta o histórico do campeão olímpico e mundial como fator decisivo.

“Seria descabido fazer os meninos perderem o Mundial por causa disso. Esse fator [a proximidade do Mundial] e as provas contaram”, disse Sandra, médica responsável por antidoping na Confederação. O Mundial será disputado entre os dias 16 e 31 de julho em Xangai.

A posição é negada por De Rose, que presidiu o painel de Controle de Doping da CBDA. “[A proximidade do Mundial] Não interferiu em coisa nenhuma. A Sandra [Soldan] fala o que quer”, afirmou.

Em sua página que divulga as ações antidoping, a Fina (Federação Mundial de Natação) lista apenas quatro casos de punição por furosemida desde 2001. A menor punição foi a de Daynara de Paula, brasileira que ficou seis meses afastadas em 2010. Nos outros três casos, as punições foram de dois anos.

Especialista em doping, De Rose evitou qualquer comparação com outros casos e explicou que não existe uma determinação para pena mínima ou máxima em caso de uso da substância.

“Não pode se aplicar punições baseadas em outros julgamentos. A gente entende que não houve negligência nem culpa”, explicou De Rose. “É diferente do caso da Fabíola [Molina], por exemplo. Ela foi descuidada e negligente. Não teve intenção, é verdade. Mas não tomou os cuidados necessários antes de ingerir um produto desconhecido. Em casos de negligência, a pessoa alega que usou a substância pela primeira vez e não sabia, mas não consultou”.

Sandra Soldan também usa outro caso de doping, o de Daynara, para sustentar a advertência a Cielo: “Tudo é considerado [para definir a punição]. Depende da substância, do período em que aconteceu, se vai ter uma competição importante em breve ou não. A Daynara foi pega no Sul-Americano, mas não teria um torneio importante na sequência, então a suspensão não mudaria nada. Ela perdeu todas as medalhas. E tem também a questão da educação no caso dela, já que se trata de uma nadadora jovem e precisa aprender a ter cuidado desde o início”, admitiu.

Além de Cielo, Nicholas Santos, Henrique Barbosa e Vinícius Waked também testaram positivo para a furosemida. A decisão do painel de Controle de Doping da CBDA foi enviada ainda nesta sexta-feira para a Fina (Federação Internacional de Natação), que tem até 20 dias para se pronunciar sobre o caso.