Topo

Joanna Maranhão revela medo de ex-técnico e novo assédio sexual no Recife

Joanna chora ao receber medalha no Pan; nadadora inspira os jovens - Flávio Florido/UOL
Joanna chora ao receber medalha no Pan; nadadora inspira os jovens Imagem: Flávio Florido/UOL

José Ricardo Leite

Do UOL, em São Paulo

25/03/2013 06h00

O fim das atividades da natação no Flamengo levou Joanna Maranhão de volta ao lar. Com poucos patrocinadores, ela retornou a Recife e trabalha atualmente no Clube Português com o técnico Nikita, treinador do início de sua carreira e com quem mantém fortes laços de amizade.

Mas a volta à cidade natal para viver com a família e ficar mais próxima dos amigos é apenas um dos lados da moeda para a nadadora de 25 anos, duas vezes medalha de prata em Jogos Pan-Americanos.

O lado ruim é ter de conviver na mesma cidade com Eugênio Miranda, ex-treinador com quem Joanna trava processo na justiça. Ela acusa Miranda de abuso sexual, em caso que ganhou grandes proporções.

Em fevereiro de 2008, Joanna Maranhão reuniu coragem para revelar numa entrevista que havia sido abusada por um ex-treinador. Depois disso, foi aprovada uma lei federal que leva seu nome, trazendo como novidades a alteração nas regras sobre a prescrição do crime de pedofilia e estupro praticados contra crianças e adolescentes.

Joanna admite que não se sente tão confortável vivendo na mesma cidade que Eugênio. “Rezo para não encontrá-lo em Recife agora que voltei a morar aqui. Minha mãe diz que eu preciso enfrentá-lo de cabeça erguida, eu digo que gostaria, mas me sinto desprotegida perto daquele homem”, falou em entrevista ao UOL Esporte. “Na última vez que cruzei com ele foi na primeira audiência e eu senti uma fraqueza, um medo...não foi legal, foi péssimo”, completou.

A nadadora falou sobre o caso ao ser questionada se perdoaria o agressor. Não sabe dizer isso ao certo, já que as sensações sobre o ocorrido ainda são confusas em sua mente.

“Não sei explicar o que sinto por ele, não é algo que me faça bem e nem está muito resolvido dentro de mim. Gostaria de perdoá-lo, mas não consigo e não tenho vergonha de admitir. Essa história toda me fez crescer, mas tem traços de minha personalidade que tenho dificuldade em controlar e isso é o resquício de tudo que passei”, falou.

“Mas a vida vai me dando forças, quem sabe um dia eu consiga te responder essa pergunta e dizer que o perdoei? Espero que eu consiga para o meu próprio bem. O que me incomoda mais é ele não admitir o que fez, isso me dá uma raiva muito grande”, afirmou.

Joana encoraja jovens e novo caso de abuso é revelado no Recife

O caso do abuso sexual relatado há alguns anos encoraja mais pessoas a não se calarem e denunciarem esse tipo de situação, diz Joanna. A nadadora pernambucana disse que houve um caso de assédio recentemente em seu clube com um menor de idade, que relatou o caso para a família.

“Outro dia no meu clube um 'senhor' tentou assediar um dos meus companheiros de equipe, um adolescente de 15 anos. O menino falou e essa pessoa foi encontrada. Há uns anos atrás esse menino talvez se calasse por vergonha, por achar que as pessoas poderiam acusá-lo de mentiroso. Essa é a diferença, é o legado da lei, que se perpetue e a gente consiga erradicar esse mal”, afirmou.

A nadadora não revelou se a pessoa em questão era um funcionário do clube ou apenas um associado. “Prefiro não dar mais detalhes porque a justiça e a diretoria do clube já estão tomando conta da situação e eu não quero ser a responsável pela identidade do adolescente ser exposta. Ele fez o certo, quero que ele siga com a vida dele e não passe mais por situações assim”, disse.

O UOL Esporte entrou em contato com o Clube Português. Maria Auxiliadora, gerente geral do clube, afirmou que o pai do garoto fez a denúncia ao clube e que a pessoa foi identificada. 

Segundo o que foi informado, o pai do menor disse ao clube que tomaria suas providências na Justiça. O clube ainda não informou se tem um posicionamento jurídico sobre a questão e se a pessoa é funcionária do clube.

Meta é Barcelona

Dentro da piscina, Joanna comemora o reencontro com Nikita. “É uma volta completa às origens. O Nikita me passa uma segurança muito grande, me proporciona tudo que preciso e está sempre em busca de mais. Como técnico é a pessoa que mais me conhece como  atleta e pessoa, então estou em excelentes mãos”, contou.

“A preparação está muito intensa. Hoje conversamos mais a respeito da programação e estamos sempre mantendo esse contato porque Nikita administra a academia e tem dificuldade em estar na borda da piscina. Para isso, Keycy Florêncio que já nadou comigo hoje é assistente técnica, fica nessa ponte entre a gente”, finalizou.

Joanna treina para a disputa do Troféu Maria Lenk, no Rio de Janeiro, e para o Brasileiro Sênior para obter índice para o Mundial de Natação que será realizado em agosto, em Barcelona.

NAMORO E BOA RELAÇÃO COM LUCIANO CORREA

  • Reprodução/Twitter

    Apesar de agora estar mais longe do namorado, o judoca Luciano Corrêa, Joanna não lamenta e exalta todas as qualidades do lutador. O casal é um dos mais famosos do esporte olímpico brasileiro e demonstra bom relacionamento e sorrisos sempre que visto em competições. “Você já viu alguém falar um "ai" do Luciano? Não, né? E ele é assim mesmo, ele ama o esporte de uma forma muito pura, tem um prazer imenso em colocar o kimono na bolsa e ir treinar. Por isso se tornou campeão mundial, por essa perseverança, essa força de vontade”, falou. “E eu consegui reviver um pouco disso dentro de mim desde que nossas vidas se cruzaram. Admiro muito a pessoa dele, o filho que ele é, o atleta e principalmente a pessoa que ele me tornou. Uma admiração mútua e uma benção a gente ter podido viver momentos tão especiais juntos: Mundial Militar, Pan-Americano, Jogos Olímpicos, uma troca muito bacana. Sou fã incondicional da pessoa dele, Deus me deu um presente".