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Nadador surpresa do Maria Lenk foi convencido pela mãe a deixar a faculdade

Brandonn Almeida celebra vitória na final dos 1500m no Troféu Maria Lenk - Reprodução/CBDA
Brandonn Almeida celebra vitória na final dos 1500m no Troféu Maria Lenk Imagem: Reprodução/CBDA

Guilherme Costa

Do UOL, no Rio de Janeiro

08/04/2015 06h00

O rosto, a empolgação pós-vitória e o desconforto diante dos microfones entregam a juventude. Brandonn Cruz Almeida, contudo, não é um garoto comum. Aos 18 anos, ele foi a principal surpresa do segundo dia de competição do Troféu Maria Lenk de natação, na piscina do Fluminense, no Rio de Janeiro. Na última terça-feira (07), venceu os 1500m com tempo de 15m12s20, cravou o novo recorde brasileiro da prova e assegurou vaga nos Mundiais de esportes aquáticos adulto (em Kazan, na Rússia, em agosto) e júnior (em Cingapura, em setembro). E tudo isso teve enorme participação da mãe do atleta, Miriam, que o convenceu a deixar a faculdade para se dedicar integralmente ao esporte.

“Ele sempre estudou muito, mas neste ano eu pedi para ele deixar a faculdade. Achei que ia ficar complicado demais levar as duas coisas, mas o Brandonn não queria parar, não”, relatou a mãe do nadador.

Brandonn fazia nutrição na Unip, em São Paulo. Ele cursou dois semestres e iniciaria o terceiro em 2015, mas resolveu trancar o curso para se dedicar integralmente à natação. Em vez de dividir o tempo entre piscinas e salas de aula, passou três semanas treinando na altitude e depois viajou com a seleção brasileira para a França.

“Em nível nacional, comecei a me destacar mesmo no ano passado. Comecei a treinar em dois períodos, mudei de técnico, e a partir disso a minha rotina virou só natação”, explicou Brandonn.

O nadador ainda não definiu se vai optar pelo Mundial adulto ou pela competição júnior. Brandonn pensa em disputar as duas competições, mas ainda depende de um aval de seu estafe técnico.

“É uma sensação muito boa, que eu desejo para todo mundo, mas eu ainda quero melhorar. Estou trabalhando para isso, e agora quero buscar o recorde sul-americano”, disse o nadador na terça-feira (07).

Enquanto dava entrevistas, Brandonn era observado pela mãe. Miriam usava uma camiseta com os nomes do atleta e de Bruce, filho um ano mais novo, que também é nadador.

Mãe pé-quente II

Outra que chamou atenção foi Maria Cristina, mãe de Thiago Simon, 23, que venceu os 200m peito com tempo de 2min11s79. Enquanto ele dava entrevista após a prova, ela tirava fotos e acenava da arquibancada.

“Fazia dois anos que ela não vinha a uma prova minha. Minha família mora no interior de São Paulo, e geralmente as competições são bem longe. Nas últimas duas que foram em São Paulo ela não pôde ir”, contou o nadador, que é natural de Penápolis-SP.

A vitória classificou Simon para os Jogos Pan-Americanos e para o Mundial de Kazan – ele será debutante nas duas competições. Entretanto, nem assim o nadador ficou plenamente satisfeito com o desempenho: “Errei algumas viradas – esperava nadar para 2min10, como fiz em 2014, mas 2min11 ainda é uma boa marca. Pode ter certeza que no Pan eu vou melhorar bastante isso”.

Classificação surpresa

Nos 100m borboleta, Arthur Mendes venceu (52s33) e conseguiu vaga no Mundial de Kazan. O nadador do Corinthians será outro estreante na competição – ele conseguiu um bronze na categoria júnior em 2011. E até o atleta ficou surpreso com isso.

“Na realidade, nem pensava em Mundial. Vim para cá para ajudar o time. Mundial era a última coisa que eu esperava. Sinceramente, não achei que ia nadar 52s3”, admitiu Mendes, que representa o Corinthians, mas treina em Auburn, no Alabama (Estados Unidos).

“Eu faço pelo menos três temporadas por ano. Minha primeira foi de janeiro até uma semana atrás, quando eu tive uma competição nacional americana. Saindo de lá eu tive só três dias de treino na piscina longa para adaptar”, adicionou o nadador.

Mister Pan com agenda cheia

O Troféu Maria Lenk também serve para definir os nadadores que representarão o Brasil nos Jogos Pan-Americanos de 2015, em Toronto – a escalação será anunciada apenas em maio, e os resultados da competição serão contabilizados. E ninguém parece mais interessado nisso do que Thiago Pereira.

Atleta brasileiro com mais medalhas de ouro na história do Pan (12), Thiago Pereira tem um total de 18 pódios na competição. Ele está a um de igualar a marca do também nadador Gustavo Borges, recordista brasileiro, e a quatro do cubano Erick López Ríos, da ginástica, líder do evento em todos os tempos.

“Infelizmente, não deu para fazer menos. Meu melhor ainda é 52s2 no ano passado, mas o importante eu fiz: consegui me classificar em mais uma prova para o Pan e alcancei também o índice dos 200m peito. Acabei ficando dentro dessa seleção. Até agora eu somo 100m costas, 100m borboleta, 200m peito, 200m medley, 4x200m livre e as duas chances no 4x100m medley, que vai ser decidido lá, tanto no costas quanto no borboleta. E ainda tem o 400m medley, em que eu também vou tentar me classificar”, enumerou o nadador após bater 52s57 e ficar com a terceira posição nos 100m borboleta.

Etiene desiste de nadar prova final dos 100m borboleta

A maior surpresa na prova final dos 100m borboleta foi a ausência de Etiene Medeiros, que havia feito o melhor tempo das eliminatórias (58s52). A atleta decidiu preterir a disputa por não ser sua especialidade.

“Calma, eu não estou doente! Aliás, nada do tipo. Acho que hoje eu tenho um planejamento voltado a duas provas como principais, que são o costas e o livre, mas acho que lá para frente eu tenho de amadurecer mais os 100m borboleta. É uma prova em que eu estou vindo numa progressão de resultados. Futuramente posso pensar, sim”, explicou a nadadora.

O tempo que Etiene fez na eliminatória seria suficiente para classificá-la para o Mundial de Kazan. Daiene Marçal já tinha índice na prova – foi obtido no Troféu José Finkel –, e Daynara Ferreira, que venceu a disputa do Maria Lenk com 58s82, também conseguiu vaga (ela havia marcado 58s68 na eliminatória).