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Joanna Maranhão troca aposentadoria por vida saudável e volta a ser aposta

Joanna Maranhão chegou a anunciar aposentadoria no início de 2014, mas voltou a ser esperança da natação brasileira para a Rio-2016 - Satiro Sodré/SSPress/Divulgação
Joanna Maranhão chegou a anunciar aposentadoria no início de 2014, mas voltou a ser esperança da natação brasileira para a Rio-2016 Imagem: Satiro Sodré/SSPress/Divulgação

Guilherme Costa

Do UOL, no Rio de Janeiro

21/04/2015 06h00

Onze anos mudaram muita coisa na vida de Joanna Maranhão. Em 2004, a nadadora era uma novata promissora na equipe que bateu o recorde sul-americano do 4x200m livre (8min05s29 nos Jogos Olímpicos de Atenas). No dia 8 de abril de 2015, a pernambucana de 27 anos fez parte do time do Esporte Clube Pinheiros que finalmente derrubou a marca (8min03s22 no Troféu Maria Lenk, no Rio de Janeiro). Entre um recorde e outro, ela conquistou medalhas internacionais, processou um ex-treinador por abuso sexual, criou uma ONG para combater a pedofilia, anunciou a aposentadoria das piscinas, voltou a nadar, passou a morar em São Paulo e abraçou um estilo mais saudável de vida. Tudo isso para não mudar uma questão especial: convocada para os Jogos Pan-Americanos de Toronto (Canadá) e para o Mundial de esportes aquáticos de Kazan (Rússia), Joanna voltou a ser uma das maiores esperanças do Brasil na modalidade.

Entender todo esse contexto é fundamental para analisar a comemoração de Joanna após o recorde batido no Maria Lenk. A pernambucana chorou muito, abraçou quem apareceu pela frente e repetiu algumas vezes que “achou que nunca mais estaria ali”.

“Acho que o mais impressionante é que eu comecei com 17 anos de idade. Uma pessoa muda muita coisa dos 17 para os 27. É a mudança da cabeça de uma adolescente para a cabeça de uma adulta, que continuou com a mesma vida restrita e regrada de uma atleta. Em alguns momentos errando, e eu errei achando que estava abdicando demais. Paguei o preço”, disse Joanna em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.

“Principalmente em questão de festa. ‘Ah, eu quero ir para festa’. Coisa boba, de criança, que hoje eu não faço a menor questão de ir. Mas foi importante eu errar ali para dar valor hoje e ser mais inteligente com meu corpo, mais saudável. Hoje eu sou muito mais forte do que eu era com 17 anos, e eu acho isso incrível. Muito mais magra e muito mais forte”, completou a nadadora.

A mudança de comportamento incluiu uma nova rotina para Joanna. Natural de Recife, a nadadora trocou a capital pernambucana por São Paulo no início de 2015. Para acertar com o Pinheiros, pensou numa estrutura que tornasse viável a vida sem carro: vive num flat perto do clube e se desloca apenas de bicicleta.

“Estou morando sozinha num flat com meus dois cachorros, o Ippon e o Wazari. Eu já morei sozinha, mas São Paulo é muito diferente. O que eu procurei fazer foi não levar carro. Eu faço tudo de bicicleta: vou para o treino de bicicleta, faço feira de bicicleta, vou ao médico de bicicleta, vou passear de bicicleta, vou à missa de bicicleta... Tudo”, explicou a nadadora.

“Em São Paulo, se você se deixar engolir pela velocidade da cidade, é de enlouquecer. Acho que é isso que estressa as pessoas. Vejo meus colegas chegando ao treino nervosos, e eu estou sempre paz e amor porque estou pedalando, botando endorfina para fora. ‘Ah, mas não cansa a perna?’. Pode cansar, mas a cabeça fica inteira”, adicionou.

A vida saudável ajudou Joanna a se acomodar em São Paulo. A nadadora tem uma rotina ligada ao estilo – frequenta feiras de produtos orgânicos, por exemplo – e descobriu que é mais fácil cozinhar no que ela chama de “nova pegada”: “O saudável é mais simplista. Você usa menos temperos, escolhe coisas mais saudáveis e começa a apreciar a comida mais natural, da terra, e não aquela coisa industrializada”.

Essa mudança de estilo foi algo que Joanna decidiu adotar em 2010, quando teve uma lesão no ombro. “Ali eu falei: ‘Bom, meu corpo não é mais um carro 0km. É preciso cuidar melhor, trocar o óleo’. Não posso ficar comendo besteiras, e ingerir bebida alcoólica é uma coisa que eu não faço mais. Até por conta da minha história de vida, da minha depressão. Não sinto a menor falta”, resumiu a atleta.

Em janeiro de 2014, Joanna anunciou que estava se aposentando das piscinas. Dona de duas medalhas de prata e três bronzes em Jogos Pan-Americanos, além de um quinto lugar nos 400m medley dos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004, ela comunicou a decisão em um post em redes sociais. Disse apenas que estava “feliz” e que o esporte em que acreditava “não é o esporte que eu presencio”.

A ideia de ficar longe das piscinas, porém, durou menos de um ano. Joanna voltou a competir ainda em 2014, pouco antes de assinar com o Pinheiros. Talvez pelo período curto, o afastamento tirou pouco da nadadora. Pouco antes dos Jogos Olímpicos que serão disputados no Rio de Janeiro, ela já retomou o posto de esperança.

“Não tenho dúvida de que 2016 vai ser o ano dos meus melhores tempos. Já estou fazendo meus melhores tempos agora, e a felicidade que eu sinto de estar trabalhado ainda... Quem pode dizer que tem 15 anos de carreira de alto rendimento e continuar na seleção? Eu sou muito abençoada de poder fazer isso com qualidade, cada vez melhor”, finalizou Joanna.