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Mãe de nadadora atropelada contesta versão de motorista e cobra justiça

Guilherme Costa

Do UOL, no Rio de Janeiro

04/05/2015 06h00

“Foi uma mulher no IML [Instituto Médico Legal] que me fez notar isso: a ordem natural é o filho enterrar o pai, e é triste demais quando isso se inverte. Ainda mais quando é um filho tão novo”. Sarah Corrêa, a filha de Maria Fátima Alves Gonçalves, tinha apenas 22 anos. Ex-nadadora, medalhista de prata nos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara-2011, ela estava na frente de um ponto de ônibus na última sexta-feira (01), na Estrada dos Bandeirantes, em Vargem Pequena (Zona Oeste do Rio de Janeiro). Abalroada por um carro em alta velocidade, morreu no hospital na tarde do dia posterior – o acidente teve outra vítima, Paulo Soares, de 58 anos, que morreu na hora. Sarah será enterrada às 14h desta segunda-feira (04), no cemitério do Caju, no Rio de Janeiro.

O funeral será um desfecho. Sarah foi levada ainda na sexta-feira ao hospital municipal Miguel Couto, no Leblon, e teve morte cerebral constatada no sábado. No domingo, os pais tiveram de passar mais de três horas no IML até a liberação do corpo.

O drama da família de Sarah, contudo, ainda está muito longe de um epílogo. “Eu não consigo nem explicar a dor que estamos sentindo”, disse Maria Fátima Alves Gonçalves ao UOL Esporte.

Além da dor de enterrar a filha, Maria Fátima tem de lidar com informações desencontradas sobre o episódio. O motorista do carro que atingiu Sarah não prestou socorro, mas se apresentou voluntariamente ao 42º DP (Recreio) no sábado (02). Em depoimento, disse que não ficou no local porque estava machucado e precisou ir ao hospital. Ele foi liberado após ter apresentado sua versão dos fatos – como ainda não há um inquérito aberto, a Polícia Civil não fornece dados sobre o suspeito.

“A história que eu sei é outra: ele fugiu para escapar do flagrante. A esposa foi encontrá-lo e o retirou do local – ele fugiu no carro dela. Aliás, o motorista nem estava tão machucado assim. Ele fugiu porque estava embriagado e viu que tinha matado duas pessoas”, disse a mãe da nadadora.

Em nota oficial, a Polícia Civil afirmou no último domingo (02) que já iniciou procedimentos para apurar o que aconteceu. Funcionários do 42º DP começaram a interpelar testemunhas e estão tentando recolher imagens de câmeras de segurança da região. Os oficiais também vão checar o boletim médico do condutor do carro.

Uma das câmeras de segurança mostra que o choque aconteceu precisamente às 17h57. O motorista estava em um carro prata, em alta velocidade, e deixou a pista em direção ao ponto de ônibus. Após atingir Sarah e Paulo, o veículo só parou quando bateu em um muro.

“Eu no momento estou voltada a sepultar minha filha, e depois preciso descansar um pouco. Foram dois dias de angústia. Mas depois eu quero conversar direito sobre isso e sobre a impunidade que temos aqui no país. A vida dela foi tirada estupidamente. Vou levantar uma bandeira pela minha filha”, afirmou Maria Fátima.

No sábado, a mãe da ex-nadadora chegou a dizer em post na rede social Facebook que a filha tinha sido “assassinada por mais um maluco bêbado do trânsito desta cidade”. Além disso, afirmou que brigaria por justiça: “Não vou descansar enquanto não acabar com esse cara”.

O pai de Sarah, Benedito Bismark Corrêa, também foi enfático na cobrança. “Amigos disseram que ele [motorista] passou a mais de 180 km/h. Ele derrubou um muro levando duas pessoas, matando duas pessoas. Isso não pode ficar impune. O que eu quero é que a justiça seja feita”, declarou à “TV Globo”.

Sarah havia sido medalhista de prata no revezamento 4x200m livre dos Jogos Pan-Americanos de 2011, disputados em Guadalajara. Em outubro de 2014, decidiu deixar as piscinas para se dedicar à carreira de modelo fotográfica. Ela também trabalhava como vendedora em uma loja.

“Minha filha era uma atleta e estava voltando para a natação. Ela tinha um acerto para voltar a treinar. Ela era atleta e modelo, mas isso a arrancou do meu convívio. Agora quero que ele descanse. Infelizmente, esse mundo é sujo demais para ela”, ponderou Maria Fátima.