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Brasil deve 1ª medalha em Kazan a meditação, ioga e dieta sem glúten

Guilherme Costa

Do UOL, em Kazan (Rússia)

04/08/2015 00h02

Na efêmera realidade de um atleta, idades acima dos 30 anos são sinônimo de questionamentos, queda de rendimento e problemas físicos. A primeira medalha da natação brasileira no Mundial de esportes aquáticos de Kazan (Rússia) tem a ver com um processo inverso. Forjado a base de meditação, ioga e uma dieta rígida, Nicholas Santos chegou ao melhor momento da carreira agora, aos 35 anos.

“O primeiro desafio é treinar com essa molecada, que tem aquela superenergia no dia a dia”, disse Nicholas na última segunda-feira (03). O brasileiro nadou os 50m borboleta em 23s09 e ficou com a medalha de prata no Mundial – foi superado apenas pelo francês Florent Manaudou.

Nicholas já foi campeão mundial dos 50m borboleta, mas numa competição de piscina curta (Istambul-2012). Na longa, bateu na trave em duas edições (quinto lugar em Roma-2009 e quarto em Barcelona-2013, depois de ter feito o melhor tempo das seletivas).

Em Kazan, aos 35 anos, o nadador brasileiro atingiu seu melhor momento em competições de alto nível. E segundo ele, a explicação para isso tem muito a ver com os hábitos fora das piscinas.

“Acho que o que eu mudei muito ao longo da carreira, que eu senti diferença, foi a alimentação. Mudei muita coisa. Não como glúten, lactose, açúcar.... Lógico que não dá para fazer tudo que eu gostaria, ou então eu teria de viver na montanha. Tudo é industrializado e tem muito sódio, por exemplo. Eu comecei a estudar isso e estou com uma recuperação muito boa”, relatou Nicholas.

O nadador começou a melhorar a alimentação em 2011, quando passou a estudar mais sobre o tema. Isso evitou erros bobos que ele cometia até então, como evitar dietas por não ter tendência a engordar: “A gente fez alguns exames também para saber os alimentos que causam inflamação. Eu sempre comia banana, e aí tinha azia e dor de cabeça. Cortei. Isso me ajudou bastante”.

A mudança de Nicholas, contudo, não abrangeu apenas o cardápio. Mais maduro, o nadador começou a procurar formas de se fortalecer forma da piscina e deu atenção especial à concentração. “O que eu faço bastante é meditação e ioga às vezes com a minha esposa, que vai todo dia e fica me cutucando para fazer. Sou bem ansioso – não para competir, mas para tudo. Sou muito organizado, e isso me deixa mais no centro”, contou ele. “Sinto muita diferença. A cabeça não para, fica o tempo todo pensando em alguma coisa, e às vezes vem uma coisa negativa que faz você não dar um tiro legal no treino”, completou.

Outra coisa que Nicholas cortou foi a vida noturna: “Balada eu não faço mais. Outro dia em Miami eu fui pra balada com a minha esposa, e no outro dia eu estava gripado. Bebi água o dia inteiro e falei ‘nossa, não aguento mais isso’. Fora isso, fico o tempo todo me desafiando e tento vencer meus próprios resultados”.

O brasileiro é um dos mais cheios de rituais entre os atletas que representam o país no Mundial de Kazan. A rotina pré-prova inclui coisas como não se depilar até a decisão e usar uma bermuda nova na prova que vale medalha, por exemplo.