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Cielo abandona o Mundial de natação e ficará 12 semanas fora de ação

Guilherme Costa

Do UOL, em Kazan (Rússia)

05/08/2015 09h19Atualizada em 05/08/2015 21h16

O Brasil perdeu seu principal representante no Mundial de esportes aquáticos disputado em Kazan, na Rússia. O nadador Cesar Cielo desistiu de defender seu título nos 50m livre, abandonou a competição e já está retornando ao país, segundo informou a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA). Uma lesão no ombro esquerdo foi a culpada pela saída do atleta, que terá de ficar 12 semanas fora de ação, fazendo apenas trabalho de fisioterapia.

"Essa lesão foi evoluindo à medida que ele nadava. Ontem tivemos 24 horas de repouso e pudemos observar melhor a evolução da lesão. Optamos em fazer um ultrassom do ombro que mostrou que o processo inflamatório era maior e um pouquinho mais avançado do que a gente imaginava, acrescentando outros diagnósticos à hipótese inicial médica", afirmou o médico da delegação brasileira, Gustavo Magliocca.

"Considerando o estado físico dele, o pouco tempo que tínhamos aqui e, principalmente, o foco nos Jogos Olímpicos do Rio-2016, optamos pelo corte neste momento para preservá-lo e iniciar o mais rápido possível a reabilitação desse ombro. Nós tivemos preocupação com o ciclo (olímpico). Pensamos no melhor para ele no momento mais importante. O corte foi por motivos médicos", explicou Magliocca.

"O importante foi preservar a integridade do atleta. O nadador, até pelo perfil competitivo, nunca gosta deste tipo de notícia. Ele tentou seguir, mas optamos pelo corte", completou.

Por conta das 12 semanas de tratamento, Cielo poderá até perder o Troféu Open, entre 16 e 19 de dezembro, na cidade de Palhoça (SC). A competição será a primeira que valerá para a obtenção do índice olímpico. 

"Geralmente a gente fala em 12 semanas, mas são atletas diferenciados e que têm estrutura muscular diferenciada. Acaba sendo muitas vezes mais rápido em um atleta como esse. Mas no caso do Cesar, a segurança é o que a gente vai colocar como prioridade. O retorno dele só vai ser realmente efetivado quando ele estiver 100% dessa lesão e seguro que pode entrar no ciclo. Ele é um atleta de alta intensidade e treina muito forte", disse Magliocca.

"É uma situação desgaradável e foi uma decisão difícil de ser tomada. Mas tem situações que a gente abre para o departamento médico decidir. Tinha a possibilidade de ele ficar aqui, mas o entendimento geral foi de que o melhor para ele é que cuidasse disso (problema no ombro) em casa", disse Alberto Pinto da Silva, o Albertinho, técnico da equipe masculina.

Campeão olímpico dos 50m em Pequim-2008, Cielo buscava o tetracampeonato mundial nos 50 m livre. O brasileiro conquistou a medalha de ouro nas edições de 2009, 2011 e 2013. Sem seu principal representante, o país será representado por Bruno Fratus na prova.

Na outra prova que disputou na Rússia, Cielo foi apenas o sexto colocado na disputa dos 50 m borboleta, na última segunda-feira (3). Na ocasião, o próprio nadador admitiu não viver um bom momento, reclamou do frio de Kazan e revelou ter competido com uma  inflamação no ombro esquerdo. Por isso, vinha sendo submetido a sessões de fisioterapia e tratamento intensivo na vila dos atletas.

"Mais do que perder a prova, eu não fiz o que eu sei fazer. Para ser sincero, eu ontem [domingo] saí com a sensação de que não ia pegar nem a semifinal. Depois, saí com a sensação de que não ia nem pegar a final. De algum jeito, eu ainda entrei. Estou com 70% ou 80% da minha capacidade. Para mim agora é um 'já foi'. Não tem como voltar no tempo, e para ser sincero não tem muita lição por trás disso a não ser ver que foi aqui e não no Rio de Janeiro", comentou Cielo após a disputa.

"É como Fórmula 1: a gente não acertou o carro para agora. A gente errou a mecânica. Então, é tentar corrigir alguns detalhes para o ano que vem. Para agora, acertar um parafuso ou outro que tiver para apertar, mas no geral o carro vai ser o mesmo", completou.

Principalmente porque o problema não é apenas o desempenho pessoal. Cielo vem sendo pressionado pela evolução de Florent Manaudou, francês que venceu os 50m livre em Londres-2012. Em Kazan, também foi do gaulês a medalha de ouro nos 50m borboleta.

A perspectiva pessimista de Cielo antes da desistência reflete algo muito mais relevante: o brasileiro não está confiante no trabalho que tem feito. Ele iniciou o ano com um 23s28, que na época era a melhor marca do mundo nos 50m borboleta, mas evoluiu pouco depois disso. O brasileiro fez 23s21 na prova decisiva de Kazan, e o líder Florent Manaudou fechou o percurso em 22s97.