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Como iniciou a "guerra" na CBDA que culminou na prisão de Coaracy Nunes

Celso Pupo / Fotoarena
Imagem: Celso Pupo / Fotoarena

Demétrio Vecchioli

Colaboração para o UOL, em São Paulo (SP)

06/04/2017 13h33

A disputa pelo controle do polo aquático dentro da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) está no centro da prisão do ex-presidente da entidade, Coaracy Nunes, e de outros dirigentes, entre eles o responsável pela modalidade, Ricardo Cabral.

As ações contra Coaracy começaram há cerca de um ano, quando o Ministério Público Federal de São Paulo suspendeu a assembleia geral da CBDA alegando irregularidades no estatuto da entidade. À época, estavam à frente do processo as promotoras Karen Louise Jeanette Kahn e Thamea Danelon Valiengo.

Karen Kahn é mãe de dois jogadores das categorias de base do polo aquático do Clube Paineiras do Morumby, ambos treinados pelo ex-jogador Léo Vergara, também conhecido como Léo Paraíba. Este, por sua vez, é pai de dois dos melhores jovens jogadores do País: Pedro e Rafael Vergara, ambos prejudicados pela decisão da CBDA de não enviar a seleção juvenil para o Mundial da categoria, em 2015. A equipe treinava em São Paulo, com cinco jogadores do Payneiras, quando soube pela imprensa que a CBDA havia cancelado a viagem ao Casaquistão.

Ali começou uma guerra entre a “velha guarda” do polo aquático nacional (basicamente o time da AMPA – Associação Máster de Polo Aquático -, que tem Léo Paraíba entre seus líderes) e a direção da CBDA. Foi naquele momento que houve um rompimento entre Marcos Maynard, então diretor de polo aquático da CBDA, e Ricardo Cabral, que era seu superior, ainda que assinasse como coordenador - um pedido da UFRJ, onde ele é professor.

Maynard, dirigente do Pinheiros e amigo íntimo de Léo Paraíba, foi contra a decisão de não levar o time juvenil ao Casaquistão, enquanto Cabral defendeu que não havia dinheiro, alegando que a verba disponível havia se tornado insuficiente com a alta do dólar na comparação com o que estava no planejamento enviado ao Ministério do Esporte. Ao ouvir um: “ou ele ou eu”, Coaracy optou por ficar ao lado de Cabral. No final de agosto de 2015, Maynard foi desligado da CBDA.

Quando o MPF suspendeu a assembleia da CBDA, em março de 2016, os dirigentes da entidade se defenderam apontando essa ligação entre a promotora Karen Kahn e o grupo de Maynard e Vergara. Além disso, os filhos delas eram federação à Federação Paulista Aquática, então presidida por Miguel Carlos Cagnoni, já então candidato declarado à sucessão de Coaracy na CBDA.

A partir dali, as investigações contra a CBDA no MPF deixaram de serem atribuídas a Kahn, ficando apenas sob a tutela Thamea Danelon Valiengo, que foi quem solicitou o afastamento de Coaracy do cargo, em outubro do ano passado, sendo atendida pela Justiça Federal.

Entre as alegações da PF para deter Coaracy e Cabral nesta quinta-feira está a denúncia apresentada pela promotora com relação à compra de materiais esportivos no endereço de um pet shop e também a ausência da seleção juvenil no Mundial. Além disso, a CBDA também não teria distribuído entre os atletas a premiação de US$ 50 mil obtida pela medalha de bronze na edição de 2015 da Liga Mundial Masculina.

A reportagem do UOL Esporte procurou o Ministério Público Federal de São Paulo, que ainda não respondeu os questionamentos. Já Léo Vergara negou que tenha procurado a promotora mãe de seus atletas. “Não tive absolutamente o mínimo contato com ela. Depois que tudo isso aconteceu é que eu fiquei sabendo que ela estava envolvida na história. Trabalho com meus atletas sem saber quem são os pais”, garantiu.

Ele também negou de forma veemente que o fato de seus dois filhos terem sido prejudicados pela decisão de a CBDA não levar equipe ao Mundial do Casaquistão tenha influído no início desta “guerra” com a entidade. “Essa luta não tem a ver com clubismo, com briga entre estados, nem nada. Foi uma luta pelo polo aquático brasileiro”, garantiu Léo, que jogou pela seleção até 1992 e diz que nunca aceitou sentar à mesa com os dirigentes da CBDA.