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Nadador superou câncer e se reinventou por feito inédito em Mundial

Satiro Sodré/SSPress/CBDA
Imagem: Satiro Sodré/SSPress/CBDA

Rubens Lisboa

Colaboração para o UOL, em São Paulo

23/05/2019 04h00

Diogo Villarinho buscava uma vaga na maratona aquática para os Jogos Olímpicos Rio-2016, mas teve de lidar com outro desafio em 2015: um câncer na tireoide. "Salvo pela natação", como se define, ele passou a competir também nos 1.500 m e agora será o primeiro brasileiro a nadar em piscina e no mar em um Mundial.

O processo da doença foi complicado. Uma cirurgia de sete horas para retirar a tireoide e então o desafio de viver sem a glândula e precisar de medicação por toda a vida, além de acompanhamento médico rigoroso e exames frequentes.

"A natação foi o que me salvou de não pensar em coisa ruim. Muita gente pergunta se o câncer atrapalhou, se foi o que faltou para a vaga, mas eu acho que foi mais uma motivação para mim", diz o nadador de 25 anos.

A tireoide age na função de órgãos vitais no corpo e produz os hormônios T3 (triiodotironina) e T4 (tiroxina), que atuam em todos os sistemas do organismo. Viver sem ela significa ter de tomar hormônios por toda a vida e na dose certa, o que Villarinho levou quase um ano para conseguir ajustar.

"Foi muito difícil, baixei muito o meu rendimento na natação, foi um ano de descobrimento, de regular a dose de T4 para chegar no nível de uma pessoa normal, ter uma vida saudável e conseguir treinar sem estar fadigado demais", afirma o nadador, que lembra que sua medicação não traz ajuda esportiva.

"Não é uma coisa que vai te dar vantagem nenhuma. É uma coisa meio chata, mas já aprendi a conviver. Comparado à chance de perder a vida ou de ter uma coisa mais séria, acho que isso é o mínimo", completa.

Nadador goiano Diogo Villarinho - Satiro Sodré/SSPress/CBDA - Satiro Sodré/SSPress/CBDA
Imagem: Satiro Sodré/SSPress/CBDA

As dificuldades viraram motivação e, em 2017, ele mirou uma vaga na seleção brasileira de piscina, desejo de longa data, mas não bem-sucedido até então.

"Coloquei como um desafio. Já que tive que remodelar, tive que aprender a conviver com o meu corpo novo, então eu quero entrar na piscina", explica o atleta do Minas Tênis Clube.

Após superar a doença, ele se preparou por dois anos em busca do índice para o Campeonato Mundial de Gwangju, na Coreia do Sul, e conseguiu a marca em abril deste ano, durante Troféu Maria Lenk com o tempo de 15min06s80, o melhor de sua carreira na prova de 1.500 m livre.

"Mentalizei esse tempo, tenho até escrito na minha parede. Eu sonhava com essa vaga na piscina, era uma superação pessoal. Desde criança, sempre quis ir bem na piscina e não ia, ficava chateado. (Alcançar) a vaga foi algo extraordinário e eu conquistei na raça, estava na risca", afirma o goiano, que competirá nos 1.500 m na piscina e na maratona aquática de 5 km entre 21 e 28 de julho.

Enquanto atinge objetivos na natação, Diogo Villarinho quer motivar pessoas que encaram o mesmo adversário que ele teve.

"Nosso papel principal é conseguir inspirar pessoas que passam dificuldades, que estão passando pela mesma doença que eu passei anos atrás. Poder ajudar a cada uma dessas pessoas é algo muito especial, se eu puder ajudar uma pessoa, já terá valido a pena. Conseguir inspirar pessoas e a gente ter um mundo um pouquinho melhor, uma vírgula que seja", finaliza.

Vaga no Pan chegou a ser cassada por liminar

Villarinho também estará nos Jogos Pan-Americanos de Lima, embora tenha chegado a perder a vaga na última semana devido a uma ação na justiça desportiva movida pelo nadador Leonardo de Deus, que ficou fora da equipe do Pan e questionou os critérios que definiram a seleção brasileira.

A ação foi derrubada pelo próprio STJD da CBDA na última quarta-feira, véspera do encerramento das inscrições para o Pan. A situação causou apreensão em Villarinho enquanto não sabia se poderia ir a Lima, assim como Leonardo Santos, que também perdia a vaga até a queda da liminar.

"Eu estava preocupado, chateado com a situação porque dei meu melhor para conseguir a vaga e receber uma notícia dessa nunca é bom. Confesso que foi um dia tenso, fiquei bem preocupado, cheguei a conversar com o Leo Santos e ele também estava bem preocupado com a situação", afirmou Villarinho.

"Essa situação é um pouco chata, o Léo teve os motivos dele para achar que os critérios não eram claros. Para mim, os critérios eram bem claros, a CBDA deixou isso bem claro. Acho que está tudo resolvido, o Léo é um companheiro de seleção brasileira, vai para o Mundial junto com a gente e não temos que ficar nos apegando a isso", completou o nadador goiano.