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Atletas do jet ski defendem esporte: "acidentes acontecem com quem não deveria pilotar"

Praticantes do jet ski não consideram a modalidade perigosa - Divulgação
Praticantes do jet ski não consideram a modalidade perigosa Imagem: Divulgação

Bruno Doro

Do UOL, em São Paulo

29/02/2012 06h00

Nas últimas semanas, dois acidentes no estado de São Paulo fizeram a opinião pública eleger o jet ski como vilão. Em Bertioga, no litoral norte de São Paulo, uma menina de três anos foi morta na praia após ser atropelada por uma embarcação. Dias depois, na represa Billings, na Grande São Paulo, um garoto de nove anos que era arrastado por um jet ski também morreu, após se chocar contra uma pilastra.

PRIMEIRA PROVA DE POPULARIDADE SERÁ EM MARÇO, NA GUARAPIRANGA

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    No dia 30 de março, o jet ski vai testar se os acidentes do verão feriram a imagem do esporte. A primeira etapa do Campeonato Brasileiro de Jet Ski está marcada para o fim do próximo mês, na represa de Guarapiranga.

    “Acho que o campeonato não vai ser abalado. Já recebi vários contatos de pessoas do Brasil e do Mercosul para participar”, conta Luiz Marcel Teixeira, da Associação Brasileira.

    Brunna Luz teme que a repercussão dos acidentes afaste ainda mais os patrocinadores. “Vai ser mais difícil [encontrar patrocínio], mas se conseguirmos mostrar que o erro não é do equipamento, mas humano, talvez possamos continuar praticando o esporte com o devido incentivo”.

    PEDIDO AOS PAIS – Teixeira vê o campeonato como chance de mostrar aos pais a maneira correta de apresentar os filhos ao esporte. “Se você tem dinheiro para colocar um jet ski na mão do seu filho, que faça isso nos campeonatos , com supervisão e regras e em um ambiente controlado”.

    Atletas menores de 18 anos podem competir, mas precisam de autorização judicial. Além disso, o equipamento tem potência menor, inclusive em relação à maioria dos jets que circulam pelas praias.

Em comum, os dois casos envolveram pilotos que não estavam habilitados para controlar jet skis. Para os praticantes do esporte, casos como esses mostram problemas na fiscalização e não riscos envolvidos na prática do jet ski.

“Esses acidentes são uma somatória de erros, fatalidades e irresponsabilidade. Primeiro, dos proprietários dos jet skis, que permitem que crianças que não têm noção da força do equipamento pilotem. Depois, esses equipamentos estão sendo utilizados em locais inadequados e por pessoas que não estão habilitadas legalmente e nem aptas ou treinadas para pilotar um jet ski. Utilizado por pessoas responsáveis, seguindo as regras e normas, o jet ski é um equipamento muito seguro, com ótimos dispositivos de segurança”, analisa Brunna Luz, campeã brasileira e dona de um quarto lugar em Campeonatos Mundiais.

Nos dois acidentes relatados acima, as pessoas que conduziam os jet skis não tinham a documentação necessária. Para pilotar qualquer embarcação a motor em rios, represas ou praias é necessário tirar a Carteira de Arrais Amador, concedida pela Capitania dos Portos de cada estado.

“Em 99% dos casos, quem provoca acidentes como esse não tem a Carta de Arrais. O problema é que o número de jet skis está aumentando muito. E é uma embarcação que atrai todo o tipo de pessoa. Como a fiscalização é pequena, acaba surgindo o jeitinho e o cara que não deveria estar pilotando acaba com um jet nas mãos. A culpa não é do jet ski, da polícia ou da marinha. É de quem deixa um cara irresponsável entrar no mar com um equipamento que ele não sabe como funciona”, fala o presidente da Associação Brasileira de Jet Ski, Luiz Marcelo Teixeira.

“Eu tenho 30 anos, ando de jet ski desde os 12. Nesse período, acho que a marinha só pediu meus documentos duas vezes. Não tem fiscalização”, conta o tricampeão mundial Denísio Casarini Filho. “Espero que o que aconteceu agora aumente o investimento nessa área, porque só assim as coisas vão mudar. Quando você desce a serra para o litoral, vê três, quatro, cinco carros da polícia. Mas no mar, você nunca vê um barco da marinha”, reclama.

Outro pedido dos atletas envolve a própria certificação dos pilotos. A prova para a Carteira de Arrais é teórica (uma prova prática deve ser usada a partir do segundo semestre) e vale para quem quiser pilotar barco, bote ou jet ski, embarcações que, segundo os esportistas, têm características diferentes. “Nessa prova, acho que 10% das perguntas envolvem jet ski. O resto é importante para barcos. É a mesma coisa que fazer uma prova só para quem vai pilotar carros e motos. Acho que a Capitania dos Portos deveria fazer uma prova diferente para cada tipo de embarcação”, sugere Denísio.

SAIBA MAIS SOBRE OS ACIDENTES

CASO GRAZIELLY Grazielly Almeida Lames, que visitava o mar pela primeira vez, brincava com a mãe na área rasa da praia quando o jet ski a atingiu na cabeça. Ela foi levada de helicóptero ao Hospital Municipal de Bertioga, com traumatismo craniano, mas chegou já morta. O adolescente suspeito de dirigir o jet ski fugiu do local sem prestar socorro. Posteriormente, o menor confessou que pilotava a embarcação.


ACIDENTE NA BILLINGS Poucos dias depois, outra morte foi causada por jet skis, desta vez na represa Billings. Mitchill Guilherme Pereira de Carvalho, de nove anos, estava em uma boia náutica que era puxada pelo jet ski conduzido pelo pai, Antonio Edivan Moreira de Carvalho. Ao passar perto de uma ponte, a bóia perdeu o controle e bateu contra uma pilastra.