Gênero nasceu com skatistas na Califórnia no ápice do punk rock
O grito das ruas do skate surgiu na Califórnia no final da década de 1970, provavelmente por meio do skatista Steve Olson, segundo o blog Skate 4 Life, que lembra que em 1978, Olson subiu ao palco para receber o prêmio de Skatista do Ano da revista americana Skateboarder, e o rapaz de cabelos espetados, em vez de fazer um discurso, cuspiu na cara das pessoas da primeira fila.
Surgia aí o sinônimo de rebeldia e da atitude do skate punk daquela época. Para Marcelo Finisguerra, que escreveu o artigo da Skate 4 Life, skatistas e punks são figuras urbanas que convivem na rua e na noite. Sempre andaram em locais proibidos e se envolviam em conflitos com a polícia.
Além do cabelo estilo punk, Olson também tinha uma banda chamada The Hood, cujo baixista migrou para o T.S.O.L (True Sounds of Liberty), e era amigo de Brian Brannon (que posteriormente se tornou editor da revista antológica Thrasher), além de fundar a lendária banda J.F.A. (Jody Foster’s Army), que disputa o pioneirismo do gênero skatepunk com os Big Boys (do skatista Gregg Murray).
A Thrasher Magazine também foi a responsável pela popularização do gênero musico-esportivo em todo o mundo, criando e divulgando a coletânea Thrasher Skate Rock, compilada pelo fotógrafo Morizen Foche, o “MoFo”, líder da banda Drunk Injuns.
Graças a esse impulso midiático, surgiram bandas como The Faction (com Steve Caballero), U.S. Bombs (com Duane Peters), Los Olvidados, Adolescents e centenas de outras que criaram um novo movimento.
Olson ganhou recentemente um documentário do diretor Patrick Pearse, da Desillusion Magazine, e há dois anos, ao lado do seu filho Alex, fez uma exposição em Los Angeles chamada Boom Boom, sobre contracultura urbana.
De acordo com o Urban Dictionary, o skatecore é um tipo de hardcore punk que tem como característica uma base de quatro notas, bateria no estilo surf music, e guitarras rápidas que lembram Ramones. Normalmente há uma parada no final do riff para dar ainda mais ênfase à composição.
Ainda segundo o dicionário virtual, o skate punk possui certa semelhança com o hardcore, sendo mais rápido que o punk rock tradicional. A diferença entre o skate punk e o hardcore é que o primeiro geralmente possui letras mais “animadas”, enquanto o segundo é mais agressivo.
O maior expoente do skate punk rock é a banda Suicidal Tendencies, criada pelo irmão mais novo do fundador da marca Dogtown (Jim Muir), Mike Muir, que traz o peso do som e as letras que navegam no universo do skate, como o hino Possessed to Skate (possuídos pelo skate, em tradução livre).
Para o skatista e empresário Jorge Kuge, fundador da marca de skatewear Urgh!, “Os Grinders é a banda mais autêntica e pioneira do skatepunk brasileiro” afirma.
Kuge viu a banda surgir dentro da sua primeira fábrica de shapes, local onde servia de estúdio improvisado para ensaios de bandas, como Garotos Podres, o que motivou Ronaldo Pobreza a montar uma banda alternativa de skate.
Humorista e ator global convidam pioneiros do skate rock para entrar no Mato Sem Cachorro
O punk virou piada, mas não perdeu a atitude. É o que parece que tem acontecido com a banda Os Grinders, que teve seu barulhento skate punk utilizado como trilha sonora do filme Dossiê Rebôrdosa (2008), do diretor César Cabral e, recentemente, foi procurada pelo humorista Danilo Gentili e o ator global Bruno Gagliasso para repetir a dose no longa Mato Sem Cachorro (de Pedro Amorim), com data de lançamento prevista para 4 de outubro.
Assim como Kuge, o lendário skatista Antonio “Thronn” dos Passos, que atualmente mora na Califórnia, também curtia a banda de porão do skate e diz que “ao contrário de outras bandas que fazem apologia as drogas, os caras d’Os Grinders sempre tiveram uma atitude positiva”.
“Quando lançaram o vinil d’Os Grinders, eu comprei logo dois, pois os caras representam o puro skate punk brasileiro”, diz Thiago Arruda Lopes, o Thiago Deejay, radialista e apresentador do programa A Hora dos Perdidos, na rádio UOL 89 FM.
Além d’Os Grinders, o barulho do skate rock nacional já conheceu bandas genuinamente de skatistas, como Lobotomia (com Billy Argel), Coquetel Molotov (com Lúcio Flávio e Tatu) e Switchstance Guys (com Bob Burnquist).
Para o jornalista, radialista e editor da revista Crvi3er Skateboarding, o carioca Guto Jymenez, de 51 anos, sendo 38 dedicados ao skate e 33 ao punk rock, “todo skatista brasileiro, no início dos anos 80, envolveu-se com o punk de um jeito ou de outro, em uma época onde as liberdade individuais ainda eram um sonho distante, e nosso estilo de vida era visto como piada por toda a sociedade”, prossegue.
“Pode-se dizer que fomos impulsionados a adotar a única forma de expressão individual que estava ao nosso alcance”, continua. “Andar de skate como se não houvesse um amanhã, ao mesmo tempo em que se escutava o rock mais violento que existia – o que podia ser melhor do que isso?” completa.
Guto, que também foi o editor dos fanzines Punkarioca, Fast Forward e Jimenezine, fez parte do movimento punk no Rio, que começou na pista de skate de Campo Grande, e estudou na mesma faculdade de Jorge Luiz de Souza, o “Tatu”(1957-2005), o líder do movimento na cidade, antes de criar a banda Coquetel Molotv com o skatista de freestyle Lúcio Flávio. “Eu não escolhi o skate punk, foi o estilo que me escolheu”, afirma.
Esse cenário musical foi mostrado pela revista Tribo, em edição especial em 2001, com direito a uma coletânea em CD do melhor do mundial de skate em áudio, com pérolas desse movimento.
Em 2005, o diretor de cinema Daniel Baccaro (Vida Sobre Rodas) criou o festival Street Rock e realizou 25 etapas com bandas como Hurtmold, Dead Fish, NX Zero, Os Grinders, Garage Fuzz, Hateen, Jail for Life entre muitas outras.
Mas no que depender da opinião da banda sobre esporte, Os Grinders são radicais: “Ande de skate ou morra!”, diz a canção.
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