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Após moda, parkour some de mercado publicitário e aposta em escolas

Praticante de "parkour" salta de edifício em Taizhou, na China  - Reuters
Praticante de 'parkour' salta de edifício em Taizhou, na China Imagem: Reuters

Guilherme Costa

Do UOL, em São Paulo

08/08/2013 06h01

A moda passou. Febre no mercado publicitário brasileiro durante a década passada, o parkour, modalidade que une elementos como escalada e saltos em cenários cotidianos, vivenciou um declínio de participação em comerciais. Com isso, enquanto perseguia um novo perfil, a prática precisou encontrar novas fontes de receita e apostou nas aulas.

É o caso da Tracer, academia de parkour situada em São Paulo. Fundado em 2011, o espaço tem cem alunos atualmente – o pacote mais indicado pela escola, com duas aulas por semana, custa R$ 190.

“Como praticante do parkour, vi que faltava instrução. Mais do que espaço, existia uma carência por uma metodologia que ajudasse as pessoas a evitarem erros que nós cometemos quando começamos”, explicou Jean Wainer, fundador da escola.

O empresário é um exemplo de praticante de parkour que apostou na educação como fonte de receita, mas ele já trabalhou no segmento comercial. Em 2007, Wainer fez parte de um comercial da empresa de telefonia Claro.

“Mas se você pegar o pessoal da academia, com professores e alunos, o portfólio de comerciais é bem grande. Eu acho que teve um pequeno boom, mas sinto que esse volume caiu um pouco”, avaliou Wainer. “Porém, continua estável. Não vejo uma linha decrescente. Continuamos tendo uma frequência razoável de testes”, completou o empresário.

Como figurante, um praticante de parkour ganha entre R$ 1 mil e R$ 2 mil por comercial. O cachê para um protagonista pode chegar a R$ 6 mil.

“Hoje, os praticantes de parkour têm duas grandes fontes de renda. Como não tem competição, é difícil encontrar um patrocínio. Então, uma linha vai atrás de comerciais e eventos, tentando renda com mídia. Outro grupo aposta mais na área pedagógica, com aulas e treinos”, relatou Cássio Dias de Andrade, diretor da GAP Parkour, escola de Curitiba.

Fundada em 2010, a GAP é outro exemplo de aposta recente nas aulas como fonte de receita para o parkour. O espaço tem 50 alunos atualmente, e a meta é chegar a cem ainda neste ano.

O parkour surgiu na França durante a década de 1990. O jogo desembarcou no Brasil em 2004, quando um grupo de amigos viu na internet um vídeo protagonizado pelo ator e ex-lutador David Belle.

Ezequiel Corrêa de Araújo Neto, conhecido como Zico Corrêa, foi um dos precursores do parkour no Brasil. Ele pratica a modalidade desde 2004, e hoje em dia vive apenas disso.

O primeiro comercial gravado por Zico Corrêa foi feito em 2007. Desde então, o atleta contabiliza “cinco ou seis” participações em campanhas publicitárias: “A época que rolou mais foi até 2009. Era um teste atrás do outro. Depois veio até um por ano”.

A moda do parkour no Brasil tem relação direta com dois fatores: o início da prática da modalidade no país e o uso internacional. Sobretudo depois que o diretor Martin Campbell usou a técnica em uma cena de perseguição do filme “007: Cassino Royale”, lançado em 2006.

“O parkour realmente mudou o esquema dos filmes de ação. Antes você via caras correndo, tentando saltar de um telhado para outro, mas a movimentação não tinha técnica. Hoje em dia, o parkour é a base disso”, afirmou Corrêa.

O atleta exemplificou usando um exemplo: no filme “Blade Runner”, dirigido por Ridley Scott e lançado em 1982, há uma cena em que um ator persegue um androide por telhados de prédios. “Você vê que o humano não tem técnica e que pula todo torto. Hoje em dia, todo cara de um filme se move como o androide”, comparou o atleta.

Apesar de ter revolucionado os movimentos em filmes de ação, o parkour sumiu da publicidade. Uma das explicações para isso é que a moda em torno da modalidade passou.

“Quando o parkour foi disseminado globalmente, a propaganda, que está sempre atenta a novidades, decidiu usar. As pessoas queriam mostrar que estavam antenadas. Eu já vi parkour em propagandas de uma série de marcas grandes”, relatou Marcos Versolato, vice-presidente de criação da agência DM9DDB. “Mas é uma coisa que já está até fora de moda. Não é um esporte clássico, mas uma coisa diferente e marcante. Acabou ficando datado”, completou o publicitário.

A DM9DDB fez até uma campanha satirizando o parkour. Um comercial para internet do Guaraná Antarctica foi baseado em le petit parkour, versão minimalista da modalidade.

“Um redator aqui da agência fazia uma brincadeira com isso. Nós achamos engraçado e decidimos usar na propaganda. O redator é até um dos atores”, disse Versolato. O objetivo da peça era mostrar o Guaraná Antarctica de 3,3 litros e a versão “Caçulinha” da bebida.

A explicação de que “a moda passou”, contudo, não é corroborada pelos praticantes. Eles têm versões bem diferentes para a incidência do parkour em campanhas publicitárias no Brasil ter diminuído.

“Eu acho que o parkour ainda não foi plenamente explorado. Podia ser mais bonito, com mais espetáculo, mas as pessoas não aproveitam o potencial todo. Normalmente, temos uma locação pronta e um roteiro em que o diretor diz para o praticante: ‘você tem de ir daqui até lá’. Existe uma liberdade de movimentos entre os dois pontos, mas com alguns limites”, explicou Jean Wainer.

“Tem outra coisa, que é o perfil da galera. Tem chamada para comercial de parkour a toda hora na comunidade do Facebook, mas pouca gente se interessa. A gente não liga para competição ou para aparecer, a menos que a mensagem seja a que o esporte quer passar”, teorizou Zico Corrêa.

A explicação do precursor da modalidade no Brasil é que os praticantes têm uma visão baseada em sustentabilidade e no perfil do esporte: “É algo que vai muito contra a maré do mercado. A gente promove saúde, e por isso não faz campanhas de bebida alcoólica. A gente também fala de autonomia, o que dificulta o vínculo com o setor automotivo. E muitos até fazem as próprias roupas, limitando o alcance para confecções”.