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Colecionador de skates reúne mais de três mil peças e quer abrir museu

Paulo Anshowinhas

Do UOL, em São Paulo

17/10/2013 06h22

Ele começou a andar de skate em 1974 e nunca mais parou. Nesse período, o analista ambiental Carlos Eduardo “Yndyo” Tassara Rodrigues, 51 anos, construiu a maior coleção de peças de skate do Brasil.

"Tudo o que desliza fascina. Quando o deslizar pode ser controlado, daí você se apaixona”, resume Yndyo, que mantém na sua casa em Guaratinguetá, interior de São Paulo, um dos mais concorridos acervos da modalidade no país e um dos principais do planeta.

"A maior coleção do mundo é do californiano Todd Huder, dono da Skatelab House em Simy Valley (Califórnia), onde ele mantém mais de 20 mil itens, sendo a maioria skates”, afirmou Yndyo, que ainda recorda do canadense But Watt como um dos poucos concorrentes ao seu imenso patrimônio esportivo cultural.

Skatista desde a década de 70, Yndyo foi um dos responsáveis pela construção da lendária pista de skate de Guaratinguetá, que durante a década de 80 sediava os maiores e mais respeitados campeonatos de skate do Brasil.

“Em 1981, eu fazia parte de um grupo de skatistas chamado equipe Super Dog. Eram garotos que só queriam ter sua própria skatepark no clube [Itaguará de Guaratinguetá]”, afirmou. “O difícil foi fazer o clube liberar a grana para a construção de um bowl (pista em formato de uma cesta de concreto), pois além de ser um investimento muito alto, aos olhos do presidente e dos conselheiros era muito dinheiro para poucos praticantes”, completou.

Apesar da resistência inicial, a pista foi construída e existe até hoje. Foi graças a essa conquista que Yndyo começou a guardar os skates antigos dele e dos amigos, assim como qualquer coisa sobre o assunto. “Acho que herdei da minha mãe essa mania de guardar tudo”, disse, rindo.


A peça mais rara de toda sua coleção que atinge cerca de três mil itens entre jornais, revistas, skates, livros, roupas, cartazes, VHS, DVDs, acessórios e equipamentos é um skate Roller Derby de 1958 de 18 polegadas (cerca de 46 centímetros), com rodas de aço, que era vendido como brinquedo. Ele conseguiu comprar pela internet.

Ele prefere não comentar o valor pago, mas para efeito de comparação skates da década de 70 em bom estado de conservação não são encontrados por menos de R$ 5 mil no mercado paralelo ou em sites de leilão.

“No começo eu já vendi algumas peças, mas depois me arrependi e agora eu apenas compro, ganho e guardo”, explicou Yndyo, que guarda sua coleção num galpão no quintal de sua casa.

 

Preparando o museu

Entre as publicações que ele mantém em arquivo - mas nunca contou exatamente quantas possui -, estão títulos nacionais dos anos 70, como a Esqueite, Brasil Skate e Jornal do Skate, dos anos 80, a Yeah!, Overall, Skatin’, Skate News, dos anos 90, Tribo, SKT e Cemporcento, além de centenas de revistas estrangeiras de países com destaque para a Thrasher, Transworld, Juice e Big Brother, entre muitas outras.

Essa “matéria prima” se transforma em conteúdo editorial do seu blog, o Skate Curiosidade, especializado em bizarrices do esporte que tem atualizações diárias e mais de dois milhões de acessos.

O reconhecimento veio através de um prêmio da ESPN, como o Troféu EXPN, onde o blog dele concorreu com 50 selecionados de surfe, skate, motocross e corrida de aventura. Apesar da quantidade volumosa de produtos, skates montados são cerca de “apenas” 90 modelos, divididos em cinco décadas de evolução.

Para manter o blog e a coleção viva, Yndyo conta com a colaboração de skatistas brasileiros, americanos e europeus, e costuma ganhar peças de muita gente pelo blog, assim como também compra “baratinho” peças que estão “estorvando” na casa de alguém. Por outro lado, ele afirma que quando tem uma peça repetida ele também doa para outros colecionadores. “Voce não pode imaginar como os caras ficam felizes com isso”, afirmou.

De todas as postagens curiosas que incluem skates de oito rodas, celebridades que já colocaram o pé no carrinho, tombos, recordes, novos produtos e coisas bizarras, a que mais marcou para ele foi a de um rapaz no ano passado. No dia da morte de Neil Armstrong, ex-astronauta norte-americano que foi o primeiro homem a pisar na Lua, no ano passado, ele se vestiu de astronauta e com seu skate carregou a bandeira americana pelas ruas de Cincinatti. A imagem circulou em todo o mundo.

Entre outras histórias memoráveis, ele cita além dessa passagem a de um banks (pista parecido com uma piscina redonda) cheio de água usada para pescaria, uma roda mais do que gasta, um skate com líquido que brilha no escuro, um skate de cinco metros de comprimento e outros objetos conceituais.

Várias pessoas já ofereceram a possibilidade de transformar esse rico acervo exclusivo em museu. “Sim, muitos já falaram a respeito, mas até hoje ainda não consegui concretizar esse projeto, que seria um marco histórico para o Brasil, assim como já existe o Museu do Surfe nos Estados Unidos e os de skate americanos”, disse.

“Hoje somos campeões mundiais em quase todas as categorias do skate, e nossos skatistas são respeitados em todo canto do planeta, mas muita gente se esfolou (literalmente) para o skate nacional estar nesse patamar, por isso guardar essa memória é algo de extrema importância”, afirmou.

Questionado se nunca lhe ofereceram um valor que lhe fizesse balançar para vender sua coleção ou alguma peça em particular, ele é rápido na resposta: “Não, e é melhor nem vir”, disse, rindo. “Mas se for pra doar skates dos anos 60 a 80, pode mandar”, finaliza ao comentar que sempre tem espaço para mais um.