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Cansado de "nóias", skatista monta rampa de skate na sala de sua casa

Vagner Magalhães

Do UOL, em São Paulo

26/05/2015 06h00

Quem chegar ao Jardim Luso à procura de Leonardo Tadeu Batista, 37, talvez tenha alguma dificuldade para encontrá-lo. Mas a chance aumenta se o apelido de Leonardo Tabacow for mencionado. Lá, o skatista mantém um projeto social para crianças. E para levar a ideia adiante, não hesitou em montar uma rampa de 4 metros de comprimento dentro da sala de sua casa, na periferia da zona sul da capital paulista, já na divisa com Diadema.

Tabacow, que  foi skatista profissional nos anos 90, ensina a modalidade desde 1999. O apelido vem dos tempos difíceis em que colava pedaços de tapete nos tênis para fazer as suas manobras. Já deu aula para crianças em projetos da Prefeitura. No Estado, atuou como voluntário. E a pista veio parar dentro de sua casa para evitar problemas de segurança nas ruas.

"Eu já dei aulas em vários locais. Aqui perto, comecei um projeto social. Eu levava os skates, levava os equipamentos. Mas sempre tem uns nóias. Teve um belo dia que eu estava lá dando aula, chega um cidadão e senta bem num obstáculo de skate. A molecada estava andando e ele sentou. Foi lá, começou a bolar um cigarro de maconha. Eu falei: 'vai fumar aí? Fuma lá no canto, só pra gente dar um trabalho com as crianças'. Passou um tempo e ele voltou fumando. E começou a xingar os moleques", lembra.

No meio da discussão, começou uma briga. "Como também não levo desaforo para casa, dei uns 'boxes' nele. Aí esse cara voltou com um monte de gente para me peitar. Uma mãe até intercedeu a meu favor. Expliquei para todos o que estava fazendo ali e no fim, ele acabou apanhando dos caras também", diverte-se. "Foi aí que eu pensei comigo. Não vale estar nesses lugares me arriscando. Foi quando fui para a Imigrantes".

A sua última experiência em uma pista pública foi no Parque das Fontes, onde está sendo construído o Centro de Referência Paraolímpico Brasileiro, próximo ao início da rodovia dos Imigrantes. "Ali era um lugar tranquilo, com segurança, mas a pista foi demolida para a construção da obra. É difícil conseguir apoio para um projeto mais amplo".

Tabacow se recorda que no final dos anos 80, a favela Buraco do Sapo, que fica na região, era a que tinha um dos maiores índices de violência da cidade. "Hoje a situação mudou um pouco. Aqui há vários projetos sociais que ajudam a educar as crianças", diz.

Ele  afirma que a vontade de ensinar partiu de um drama pessoal. Em 1996, ao fazer uma manobra em um corrimão, sofreu uma queda. "Quebrei a bacia.  Bati as costas não senti as pernas.  Foram três cirurgias e uma placa de titânio na coluna. Ainda dói um pouco. Faço tratamento de coluna".

Hoje, ele afirma dar treinamento para 13 crianças, incluindo o seu projeto social e algumas aulas particulares,  na pista montada em sua casa.

Durante a semana, bate ponto no marketing de uma empresa de calçados para skate. Formado em Educação Física, batizou o projeto com as iniciais do nome de seus pais, Marcos e Hermínia, que morreram em um intervalo de 27 dias, em 2011.

O pai passou mal e foi socorrido por uma viatura policial. Em uma lombada, a porta se abriu e ele caiu, sofrendo traumatismos. A mãe foi atropelada por uma perua escolar. "Foi um período muito difícil, mas isso aqui me ajudou a superar tudo", diz.

Desde que começou Tabacow diz ter formado quatro profissionais. "Sempre aparece um pessoal talentoso, mas muitos meninos acabam desistindo. Essa geração tem mais pressa para conseguir as coisas. Não têm muita paciência".