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"Sempre alegre e humilde", skatista era promessa e morreu campeão

Skatista de 18 anos é natural de Camboriú-SC e vivia em Novo Hamburgo-RS - Reprodução/Instagram
Skatista de 18 anos é natural de Camboriú-SC e vivia em Novo Hamburgo-RS Imagem: Reprodução/Instagram

Gabriel Carneiro

Do UOL, em São Paulo

15/11/2018 04h00

Allysson Haniel do Nascimento, chamado no mundo do esporte de Allysson Pastrana, morreu no último domingo durante uma bateria das quartas de final do Mundial de skate downhill, realizada no Rio de Janeiro. O skatista brasileiro de 18 anos não resistiu ao choque com uma moto que fazia percurso contrário ao dele, que descia a última curva do trajeto com velocidade de cerca de 90 km/h. A conclusão da prova poderia aproximar Allysson de um inédito título mundial, e isso só confirmaria uma certeza de pessoas do esporte: ele era uma grande promessa.

Nascido em Balneário Camboriú, Santa Catarina, Allysson compete desde 2015. Ele descobriu a paixão pelo skate ainda na infância, na cidade gaúcha de Novo Hamburgo, onde passou a viver com os pais. Em apenas três anos desde que o hobby virou profissão foram três títulos brasileiros, nas categorias Iniciante, Amador 2 e Amador 1 de downhill speed - a tradução do inglês define o esporte ao pé da letra: velocidade morro abaixo. Em fevereiro deste ano ele foi aceito em uma lista restrita de atletas profissionais pela Confederação Brasileira de Skate e já brigava por um título mundial. 

Allysson Pastrana - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Título mundial era realidade para o brasileiro
Imagem: Reprodução/Instagram

Amigos e companheiros de treino definem Allysson como um skatista muito técnico e preocupado com a perfeição dos movimentos. Não é raro o comentário de que ele era "a maior promessa" do skate downhill em todo o país. "Perdemos um fenômeno, sem dúvidas seria o maior campeão que o Brasil fez no DH", diz o experiente Douglas Dalua, bicampeão mundial da modalidade na categoria open em 2012 e 2013. João Pedro Berlitz, outro amigo, define Allysson como "um cara puro, de coração bom, humilde, sempre alegre" e diz que "nunca mais vai ser a mesma vibe, os drops, os bowls, com ele sempre com energia mil grau".

Allysson Pastrana foi sepultado no fim da tarde desta quarta-feira. Houve cortejo pelas ruas de Novo Hamburgo e uma fila de esportistas que bateram os skates no chão como forma de homenagem e protesto.

Investigação considera falha humana em morte de skatista

Um erro de comunicação por parte dos organizadores do evento pode ter sido responsável pelo acidente que vitimou Allysson, a ser enquadrado como homicídio culposo, o que não há intenção de matar. O catarinense fazia o trajeto normal da prova até se chocar com a moto, que pertencia ao evento e naquele momento prestava apoio operacional levando outro competidor na garupa de volta à largada, de onde partiria outra bateria. A investigação visa descobrir de quem partiu a autorização via rádio para que a moto subisse a estrada em um momento inadequado.

O piloto da moto no momento do choque com Allysson e outros três competidores que se recuperam bem dos ferimentos já foi ouvido pela equipe da 19ª Delegacia de Polícia, na Tijuca, Zona Sul da capital. Ele disse, acompanhado de uma testemunha, que foi autorizado a subir pela estrada, o que indica um problema da organização. Federico Barboni Barbezio, presidente da Federação Internacional de Downhill, que voltaria à Itália na quinta-feira, teve um pedido de retenção de passaporte e restrição de saída do Brasil para prestar esclarecimentos sobre o caso. Ainda não há solução. 

Allysson Pastrana 2 - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Allysson estava profissionalizado como skatista downhill desde fevereiro deste ano
Imagem: Reprodução/Facebook

A comunidade brasileira do skate downhill tem demonstrado revolta com a morte de Allysson. Além do risco natural que o esporte já proporciona, há suspeita de negligência na prova do Rio de Janeiro. Foram registradas manifestações de competidores de que a última curva do percurso, onde Allysson morreu, não era adequada. A área de escape deveria ser maior, porque assim teria como ver a moto subindo, por exemplo. No momento do choque com a moto os fiscais de prova não tiveram tempo de reação para evitar o pior.

A Federação Internacional de Downhill não respondeu às acusações. Apenas emitiu uma nota de pesar sobre o caso: "Juntamente com toda a comunidade de corridas, estamos chocados e absolutamente devastados por esta perda. Com grande tristeza, oferecemos nossas mais profundas condolências a Allysson, sua família e todos os competidores do Brasil e do mundo. Allysson foi um jovem notável e uma estrela em ascensão entre a comunidade brasileira de downhill. Seu espírito esportivo e paixão pelo skate foram evidentes em todos que ele tocou com sua vida. A IDF está dedicando toda a sua energia para essa causa. Neste momento, esperamos que todos possamos nos unir para honrar e lembrar a vida e a memória de Allysson."