"O momento é nosso"

Copa do Mundo feminina conquista holofotes, empolga Globo e Band e quer romper barreiras

Ana Carolina Silva Do UOL, em São Paulo Aurelien Meunier - FIFA/FIFA via Getty Images

A cada quatro anos, países inteiros se mobilizam para torcer na Copa do Mundo. No Brasil, a idolatria é tanta que escolas cancelam aulas, chefes liberam funcionários e ruas ficam desertas quando soa o apito para um jogo de seleção. A Copa que começa nesta sexta-feira, às 16h, com França x Coreia do Sul, pode começar a mudar essa periodicidade. Em vez de passar quatro anos aguardando a Copa masculina, é possível aproveitar, também, o Mundial feminino.

Essa Copa é a primeira de uma nova era da modalidade, que inclui torneios de clubes robustos, seleções nacionais fortes e mais patrocinadores - além da criação de uma base de torcedores global. O futebol feminino, enfim, é visto como um produto que pode ser rentável para as grandes marcas. Até no Brasil.

Prova disso é a atenção das TVs. A Globo, pela primeira vez, transmite o evento ao vivo: a estreia terá Galvão Bueno, a maior estrela do esporte da emissora, e todos os jogos do Brasil estão previstos na grade. A Band também vai transmitir uma partida por dia, não só do Brasil. Além disso, o SporTV mostra quase todas as partidas na TV fechada.

Mas o que você, leitor, pode esperar como experiência na Copa do Mundo? O UOL Esporte explica, agora, porque você deve assistir à Copa feminina.

Aurelien Meunier - FIFA/FIFA via Getty Images
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divulgação/Nike

Alto nível e dinheiro

O passado já teve grandes craques, mas nunca se falou tanto de futebol feminino quanto agora. E o motivo disso está na Europa. A Liga dos Campeões feminina se fortaleceu e, na temporada 2018/2019, as mulheres do poderoso Barcelona chegaram à final do torneio pela primeira vez. Foi o Lyon que conquistou o título - aliás, as francesas levaram as últimas quatro edições. Mas a presença de um time francês e de um espanhol na decisão mostra que o futebol feminino competitivo não está mais restrito aos poucos países que foram pioneiros no incentivo à modalidade (como a Alemanha).

O sucesso da Super League, o campeonato inglês feminino, é outra prova disso. Arsenal, Chelsea, Liverpool e Manchester City, por exemplo, têm projetos robustos envolvendo seus times femininos e trabalham em regime profissional desde o ano passado. Em março, o banco Barclays, que patrocinou a Premier League até 2016, decidiu investir cerca de 50 milhões de reais na versão feminina do torneio.

Com isso, a premiação da próxima competição será de R$ 2,5 milhões para as campeãs - para efeito de comparação, não existia prêmio em dinheiro anteriormente. A empresa também passa a investir na FA Girls' Football School, projeto que pretende facilitar o acesso de mais de 6 mil meninas ao futebol.

Como a Europa não olha apenas para a Copa do Mundo de 2019, mas para o futuro do futebol feminino, outras empresas também se interessaram. Em 2018, a Visa assinou contrato de sete anos e se tornou a primeira grande companhia a apoiar financeiramente o futebol feminino da Uefa. Enquanto a Adidas patrocina a Liga dos Campeões masculina, a Nike enxergou na versão feminina da competição uma chance de levar a melhor sobre a rival e tornou-se fornecedora oficial do torneio das mulheres.

Esse apoio tem um efeito inédito: pela primeira vez, foram criados uniformes exclusivos para 10 das 14 seleções patrocinadas pela empresa. As exceções são África do Sul, Chile, Coreia do Sul e Nigéria, que optaram por repetir o desenho das camisas masculinas de 2018. O Brasil, por exemplo, vestirá pela primeira vez um modelo com design diferente do usado pelos homens.

Ainda não é possível comparar estes fatores com o investimento que marcas fazem há décadas no futebol masculino, mas o dinheiro, enfim, está chegando ao feminino.

David S. Bustamante/Soccrates/Getty Images

Não tem público?

Na capital da Espanha, no dia 17 de março, mais de 60 mil pessoas foram ao Wanda Metropolitano especialmente para ver o confronto entre Atlético de Madri e Barcelona. Não teve golaço de Antoine Griezmann ou dribles de Lionel Messi. A noite foi de futebol feminino. Mais do que isso: era um jogo comum do Campeonato Espanhol, sem mais atrativos do que a qualidade e a tradição dos dois clubes.

O time catalão conquistou três pontos na tabela naquela tarde, mas foi a modalidade que saiu vencedora. O jogo quebrou o recorde de público em uma partida feminina (60.739 expectadores) e mostrou que, sim, existe público. O Atlético de Madri feminino, por exemplo, costumava mandar seus jogos em um estádio com capacidade para 3.500 pessoas. Portanto, jamais saberia que era possível atrair tantos torcedores para uma partida se não tivesse ousado colocar o jogo em seu novo estádio.

Esta ainda não é uma realidade consolidada no Brasil. Por aqui, os principais clubes não costumam colocar seus times femininos para jogar em grandes estádios. Pelo paulista feminino, São Paulo e Palmeiras se enfrentaram no Pacaembu, mas esta oportunidade foi uma exceção, não regra.

Este é o momento que vai virar a chave do futebol feminino no mundo inteiro. O momento é nosso. A gente vai estar em visibilidade em muitos países, em todos os continentes. A chave já está virando

Alline Calandrini, ex-jogadora de futebol e comentarista da Band

Marcelo Pereira/ALLSPORTS

Agora vai?

Mesmo assim, o momento também é positivo no Brasil. A partir de 2019, os clubes da Série A do Campeonato Brasileiro masculino foram obrigados a manter times femininos, no nível adulto e de base. Entre os grandes, destacam-se Corinthians, Santos, Internacional e Flamengo, que estão na elite do nacional - São Paulo, Palmeiras, Grêmio e Cruzeiro começaram suas participações na Série A2 feminina.

A Conmebol adota regra parecida e faz a mesma exigência para os times participantes da Copa Libertadores e da Sul-Americana. Na Argentina, a equipe feminina do Boca Juniors fez história ao obter, neste ano, a sonhada aprovação do clube para jogar na Bombonera. Em março, nossos vizinhos da Associação do Futebol Argentino anunciaram a profissionalização da modalidade no país.

Ou seja: o sentimento de "agora vai" não é exclusivo das europeias. Está mais perto da nossa realidade do que se imagina.

Globo/João Cotta

Globo na Copa

O UOL Esporte apurou que a TV Globo escalou seus três principais narradores para a Copa do Mundo. Galvão Bueno narrará a estreia da seleção brasileira contra a Jamaica, no dia 9 de junho. As transmissões dos outros dois confrontos do Brasil, contra Austrália e Itália, serão comandadas por Cleber Machado e Luis Roberto - o canal não confirmou a ordem em que os dois trabalharão.

Ana Thais Matos será comentarista ao lado de Caio Ribeiro. Ela comenta jogos de futebol masculino desde o Campeonato Paulista deste ano e já trabalhou em partidas do período de preparação da seleção feminina. "Como alguém que tentou ser jogadora e não conseguiu, eu me realizo através da visibilidade que o futebol feminino vem conquistando. 2019 será um ano determinante para a modalidade. A chave virou, e eu tenho certeza de que a modalidade não sairá nunca mais do radar", afirma a jornalista, com os pés no chão sobre a própria conquista.

A equipe de reportagem será liderada por Lizandra Trindade e Carol Barcellos.

Milene e Nadja no SporTV

A ex-jogadora Milene Domingues estará no site do Globo Esporte e no SporTV. Repórter e ex-atleta de tênis, Nadja Mauad será a principal comentarista do canal de TV fechada. No programa "Bem, Amigos", Galvão fez questão de pedir para que ela opinasse sobre a seleção brasileira e ouviu atentamente a análise da profissional, que chega ao Mundial com prestígio.

"É uma responsabilidade imensa em uma posição nova dentro da transmissão. Já são 11 anos trabalhando como repórter de campo, e sempre gostei de expor a minha opinião. Sempre assisti, estudei e conversei muito sobre futebol. Poder viver esta nova realização em uma Copa do Mundo feminina, torneio que tem uma visibilidade tão grande, é uma realização", afirmou.

Além de Nadja, Raphael Rezende comentará os jogos do Brasil no SporTV. Os narradores serão Luiz Carlos Junior, Gustavo Villani e Milton Leite.

Globo/João Cotta Globo/João Cotta

Ana Thais + Nadja Mauad

As principais comentaristas do Grupo Globo falam sobre a Copa de 2019

Quebra de paradigmas

Ana: "A quebra de paradigma não é só pelas mulheres que amam futebol, mas por todos que gostam e, por algum motivo, não se identificam com o tradicionalismo. Precisamos de mais mulheres, negros, gays. O futebol tem de ser plural."

Nadja: "Isso é fruto de muito trabalho, preparação e estudo, como no caso de qualquer profissional. Temos outras colegas que também trabalham em jogos de futebol ou outras competições esportivas e dão conta do recado. Não é questão de gênero, mas de capacidade e trabalho."

Preparação pessoal

Ana: "Eu tento introduzir o contexto para quem não é familiarizado com as atletas e com as histórias, mas o mais importante é a análise do futebol, do jogo. Evito fazer comparações do tipo 'Marta é o Pele de saias' ou 'Marta é melhor que Messi'. Prefiro comparações do tipo 'improvisar a Andressa Alves de lateral ou de volante seria como pegar o Coutinho e colocá-lo na posição do Casemiro e depois na do Marcelo'. Eu não estou comparando o potencial, mas tento ilustrar o que está acontecendo para quem não acompanha o futebol feminino. Pesquisei o que o público do futebol feminino gosta, do que sente falta nas transmissões, para valorizar. Então tenho tentado unir as duas pontas: o público que já consome e quem quer assistir aos jogos, mas não está familiarizado."

Nadja: "Precisamos ser didáticas para contextualizar o momento de uma seleção, a história de uma jogadora e do próprio jogo. Aos poucos, o público vai se aproximando e se identificando com o futebol feminino. Isso aumenta a nossa responsabilidade. Já há algum tempo, contudo, temos grandes profissionais fazendo excelentes coberturas do futebol feminino."

Desenvolvimento da modalidade

Ana: "O futebol feminino no Brasil nunca dependeu da boa vontade de quem apenas quer criticar para evoluir ou não. A maior prova disso foi após a Rio 2016, com o choro da Marta pedindo para que não abandonassem o futebol feminino. Nesse período aconteceu de tudo com a seleção feminina, e sabe o que mais repercutiu? A saída da Emily Lima, da forma como foi. Eu cobri essa situação na época, todos os veículos quiseram entender o que aconteceu, e ali virou o jogo para quem comanda a seleção feminina. O Brasil entrou no radar da mídia em geral e, consequentemente, de quem acompanha futebol. (...) Quem tem má vontade com o futebol feminino vai continuar assim, e o futebol feminino nunca vai depender dessas pessoas. A minha maior preocupação hoje é a seleção feminina do Brasil."

Nadja: "Cabe a nós, jornalistas, ressaltar a quantidade de talentos que existem aqui, o potencial que temos e a capacidade de transformação de vidas que o esporte proporciona. Com ou sem boa campanha na Copa do Mundo, precisamos de investimento duradouro. E esse ponto precisa ser ressaltado sempre."

Atenção dividida com Copa América masculina

Ana: "Vejo esse momento como uma oportunidade única para o futebol feminino. Não acho que vá atrapalhar. Espero, inclusive, que isso motive as pessoas a assistirem bastante ao Mundial Feminino."

Nadja: "Os jogos do masculino contra Honduras [amistoso] e do feminino contra a Jamaica [estreia na Copa] são no mesmo dia [9 de junho], mas em horários diferentes. Então o torcedor vai poder acordar cedinho para acompanhar a estreia do Brasil contra o Jamaica na Copa do Mundo, e depois ver o amistoso da seleção do Tite contra Honduras. Vai dividir a atenção, mas não vai atrapalhar ou tirar o brilho da estreia da seleção feminina."

Bruno Teixeira/Corinthians

Futebol feminino é "xodó" da Band

Na Band, que vai transmitir um jogo por dia durante o mês do Mundial, a principal comentarista será Alline Calandrini, ex-zagueira com passagem pela seleção brasileira. "A Band sempre apostou no futebol feminino de modo geral, com Luciano do Valle. O futebol feminino sempre foi um xodó para a Band. Internamente, eles estão rindo, estão sorrindo. Estão todos muito contentes com a cobertura", afirma.

Ela está ciente que a disputa direta com a Globo será difícil, mas até admite curiosidade com a emissora rival. "A Globo acaba sendo a Globo, naturalmente, mas a Band tem uma fidelidade com o futebol feminino. De fato, até eu tenho curiosidade de ver o que Galvão vai falar sobre o futebol feminino", diz ela. Vale destacar que a Band também detém os direitos de transmissão do Brasileirão feminino.

Calan não chegou a disputar uma Copa do Mundo e está radiante com a oportunidade de realizar o sonho por um caminho alternativo. "Sempre bati muito na trave com a seleção principal, então tem esse gostinho também. Conheço este universo melhor do que qualquer pessoa, tenho contato com as atletas, sei da dificuldade. Fico muito, muito feliz e ansiosa. Parece que vou entrar em campo e jogar!"

"A ansiedade é normal, o importante é estar preparada", afirma. E ela faz questão de dizer o quanto tem estudado e pode acrescentar às transmissões. "Eu tenho uma vivência de atleta, então os narradores sempre perguntam como é isso, como é aquilo. Isso enriquece o conteúdo. Tento passar didaticamente o estilo de jogo do adversário, os destaques, a história do futebol feminino naquele país. Quando pedem opinião de atleta, estou lá", completa.

Assim como incontáveis outros nomes ligados ao futebol feminino, Alline diz acreditar que a "chave" será virada de vez com esta Copa do Mundo. "A gente está quebrando recordes. Eu acredito que logo mais a gente [Copa feminina] vai ser o terceiro maior evento global, atrás de Copa do Mundo e Olimpíada. São coberturas internacionais, ingressos sendo vendidos, muita mulher envolvida. Vai ter mulher comentando na Globo, e eu na Band", comemora Calan.

"Quando eu falo que tenho ansiedade, é por isso tudo. A gente vive um momento muito importante no Campeonato Brasileiro, que a Band vai transmitir o ano inteiro [aos domingos]. O saldo positivo disso tudo vai ser muito maior do que o saldo negativo. O povo brasileiro ainda é machista, mas antigamente a cobertura do futebol feminino tinha fotos de mulheres seminuas, eram bibelôs. A gente está plantando, plantando, e daqui a cinco anos teremos um cenário consolidado", prevê.

Jose Breton/NurPhoto via Getty Images Jose Breton/NurPhoto via Getty Images

Mas e a seleção brasileira?

Marta & Cia. estreiam no domingo (9), às 10h30, contra a Jamaica

O cenário é ótimo para o futebol feminino. Mas e para a seleção brasileira? Bem, aí o assunto fica mais delicado. Depois de sofrer a nona derrota consecutiva às vésperas da Copa do Mundo, o técnico Vadão propôs uma conversa franca com o time ainda no vestiário e, segundo as atletas, deu liberdade e voz a todas. Aquele foi o início de uma promessa de autocrítica em uma seleção que tem grandes nomes, como Marta, Cristiane, Formiga e Andressa Alves, mas não consegue se encontrar tática e coletivamente.

A menos de duas semanas da estreia contra a Jamaica, marcada para o dia 9 de junho, a camisa 10 sofreu lesão de grau 1/2 no músculo bíceps femoral da coxa esquerda e passou a semana seguinte em fisioterapia. A contusão em si não é grave, mas o período de recuperação a tirou dos treinamentos com o restante do grupo. Ou seja, a seleção teve de realizar boa parte da preparação sem sua maior referência. As outras duas adversárias do Grupo C são Austrália, no dia 13, e Itália, no dia 18. As australianas eliminaram as brasileiras nas oitavas em 2015.

Vadão é o nome mais criticado. O treinador foi questionado pelo público após improvisar (ou "testar", verbo que a comissão técnica usa para rebater a tese de improviso) a meia-atacante Andressa Alves como volante e, posteriormente, lateral-esquerda. A atleta até já havia atuado nestas e em outras posições ao longo de sua carreira, mas o técnico ficou exposto após tirá-la de sua função preferida. Apesar de não contar com resultados positivos para bancar decisões como estas, a comissão técnica tem apoio de Marco Aurélio Cunha, coordenador de futebol feminino da CBF.

Lucas Figueiredo/CBF

Dois meses se passaram desde a derrota para a Escócia, em 8 de abril, e a seleção não jogou novas partidas. Por opção dos comandantes, nem mesmo jogos-treino contra outras equipes foram agendados neste período. Por isso, a torcida tem dificuldade para confiar em uma reviravolta quando as únicas informações públicas são a lesão de Marta e a conversa do elenco. Enquanto isso, seleções como França e Estados Unidos, citadas como algumas das favoritas para o Mundial, jogaram amistosos e venceram.

"Uma conversa como essa pode até funcionar em algum time, mas não com o Vadão. Eu não vejo o Vadão com esse poder de 'vamos sentar, vamos fazer um pacto'. É muito mais fácil uma jogadora puxar todo mundo e falar 'vem cá, c..., vamos, é por nós, pela nossa família'. É muito mais a união delas, o chacoalhão entre elas. É o que falta!", explica Alline Calandrini, antes de citar um texto publicado pelo UOL Esporte, no qual Cristiane disse que tentaria sacudir as companheiras.

"A Cris é um nome que pode levantar o time. Andressa Alves também é uma menina que fala, dá as caras, se expressa. A gente vê a seleção cabisbaixa: se tomam um gol, a gente vê que o poder de reação é difícil. Elas têm de estar juntas. É o momento de dizer: 'Se tiver de mudar o esquema tático no meio do jogo, a gente muda e f...-se o Vadão. O Vadão não é paizão. Está faltando uma voz de comando, falta acreditar no grupo inteiro, não só as 11 titulares. E me desculpa, mas tempo todos tiveram. Todos", afirmou a ex-zagueira de Santos e Corinthians.

A presença de Cristiane é o principal ponto de diferença entre esta seleção e o time que perdeu nove partidas consecutivas. A atacante do São Paulo sofreu com lesões nos últimos meses e não entra em campo pelo Brasil desde 22 de abril de 2018, na vitória por 3 a 0 sobre a Colômbia, que deu às brasileiras o título invicto da Copa América. Ou seja, a maior artilheira da história dos Jogos Olímpicos foi desfalque na turbulência.

Lucas Figueiredo/CBF

CBF mostra indiferença a possíveis críticas da TV

Uma campanha negativa na Copa pode fazer com que a seleção seja criticada em rede nacional. Afinal, a TV Globo e a Band apostaram em comentaristas que conhecem o futebol feminino e estudam os times. Em meio às nove derrotas seguidas, Ana Thais Matos apontou fragilidade na equipe de Vadão. Além disso, Galvão Bueno não costuma esconder sua desaprovação. O narrador criticou o time masculino em 2016, ao dizer que Marta era melhor que Neymar, e em 2019, ao reclamar das declarações de Tite.

Mas Marco Aurélio Cunha não está preocupado. "Quem é 'Globo', neste caso? Uma comentarista, um narrador? Eu não considero a Globo como uma inimiga do futebol feminino, nem da seleção. Quanto aos profissionais individualmente, ninguém tem esse poder tão violento. Ninguém é tão poderoso a ponto de influir no emocional de atletas, comissão técnica. Isso é bobagem", afirmou.

"Se você ficar a tarde toda vendo TV... Se eu fosse acreditar em tudo que falam e aceitar tudo, não teria vivido tanto tempo no futebol. Não posso me influenciar por isso. Tenho de fazer o meu papel, dar às jogadoras as melhores condições de trabalho. Quem opina, muitas vezes, não está nem acompanhando diretamente o trabalho. Se você perguntar a escalação do time do Corinthians, essa pessoa não sabe. Se perguntar quantas jogadoras são as reservas da seleção, não sabe", concluiu o coordenador da CBF, sem nomear profissionais específicos da Globo.

Esta declaração de Marco Aurélio foi enviada pelo UOL Esporte ao Grupo Globo, que optou por não respondê-la. Tanto Ana Thais, quanto Nadja Mauad enviaram à reportagem suas opiniões sobre o time comandado por Vadão.

"Individualmente, essa seleção é ótima. Podemos questionar um ou outro nome e a não-convocação de jogadoras do Santos, que tem um dos melhores padrões táticos do país, por exemplo. Eu espero que o Brasil nos surpreenda na força dessas jogadoras. Apenas elas serão capazes de virar esse jogo e eu acredito nisso. O trabalho até aqui mostra uma seleção vulnerável em todos os pontos, porém, eu acredito na força individual de cada uma dessas mulheres", diz Ana.

Nadja destacou que a seleção esteve desfalcada nas últimas derrotas. "É inegável que o momento atual não é bom. São nove derrotas seguidas, e preocupa a desorganização tática da equipe. Nesses últimos nove jogos, a seleção encontrou dificuldade na marcação, teve um alto percentual de erros de passe, pouco criou. É claro que algumas jogadoras fizeram falta. Bárbara, Fabiana, Cristiane e Andressinha acabaram não participando de algumas dessas partidas. Mas sou otimista. Temos muita qualidade individual", avaliou.

Alline Calandrini estará na Band, mas defende que qualquer profissional do Grupo Globo tem direito de fazer eventuais críticas à seleção. "O comentarista tem, sim, todo o direito de falar o que pensa. Eu vou criticar o que não estiver legal e elogiar o que estiver bem. Assim como o Caio Ribeiro, ela [Ana Thais Matos] está sendo paga para isso. Eu conheço um monte de atletas e tenho amigas próximas ali, pode acontecer de uma ou outra ficar chateada. Desculpa, mas terão de ouvir muito de todas as emissoras, de youtubers, de blogueiros e do UOL", conclui a ex-atleta.

Ana Carolina Silva/UOL

França quer dobradinha

Jogo de abertura é hoje, às 16h, entre França e Coreia do Sul

Caminhar pelas ruas de Paris na semana que antecedeu a abertura da Copa feminina deixou uma coisa bem clara: os franceses querem comemorar de novo. Depois da festa em 2018, com o título no futebol masculino, a expectativa por uma "dobradinha" parece grande.

Esta foto, por exemplo, foi tirada na luxuosa Avenida Champs-Élysées e mostra um enorme cartaz com a seleção francesa. Tinha cerca de cinco metros de altura. Pedestres param para tirar selfies com a versão gigante das atletas.

Pelo metrô da capital, há incontáveis anúncios do famoso canal TF1, que promete transmitir todos os jogos das anfitriãs. Em meio a tanta publicidade pelo futebol feminino, os cartazes sobre a seleção masculina são ligeiramente ofuscados. É preciso olhar com muito mais atenção para se lembrar que Mbappé, Griezmann e Pogba terão partidas de Eliminatórias da Euro neste mesmo mês de junho.

Na última vez em que a França viveu uma Copa em casa, em 1998, os Bleus conquistaram seu primeiro título no Mundial masculino. Agora, as Bleues, como são chamadas as jogadoras que defendem as cores do país, podem levantar a taça pela primeira vez. Assim como em 98, Henry está no time: não é Thierry, mas a craque Amandine Henry, ansiosa para escrever a própria história.

O time dela é responsável pela empolgação dos franceses. Enquanto o badalado e endinheirado Paris Saint-Germain ostenta Neymar, Mbappé e Cavani no masculino, o Lyon domina a Europa no feminino. Além de Amandine, a equipe conta com a alemã Djenifer Marozsan, uma das melhores do mundo, e com a norueguesa Ada Hegerberg, dona da primeira Bola de Ouro entregue pela France Football a uma mulher.

Atual tetracampeão consecutivo da Liga dos Campeões feminina, o Lyon tem sete jogadoras convocadas pela França. Das 23 escolhidas para o elenco, apenas duas não jogam em clubes franceses. Ou seja, a seleção da casa nunca foi tão ameaçadora.

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