Má gestão de confederações acende alerta do governo rumo à Rio-2016

Vinicius Konchinski

Do UOL, no Rio de Janeiro

Basquete, ginástica, boxe e canoagem. O governo federal considera que o Brasil tem chance de obter medalhas nessas quatro modalidades durante a Olimpíada de 2016. Problemas administrativos nas confederações brasileiras desses esportes, entretanto, podem comprometer os resultados. Por isso, um sinal de alerta já foi ligado no Ministério do Esporte.

O órgão, encarregado de tocar o plano estatal de apoio a atletas visando à Olimpíada do Rio de Janeiro, identificou falhas na gestão das quatro confederações. Por isso, faltando menos de três anos para os Jogos de 2016, intensificou o contato com as entidades para tentar viabilizar soluções e reduzir qualquer repercussão dos problemas no desempenho dos atletas.

Quem lidera esse trabalho é o secretário nacional de Esporte de Alto Rendimento, Ricardo Leyser. Foi ele quem revelou ao UOL Esporte a preocupação do ministério com a gestão das confederações e com os possíveis impactos no resultado dos esportistas. E não é por menos: tanto o ministério quanto o COB (Comitê Olímpico Brasileiro) esperam que o Brasil termine a Olimpíada entre os dez países mais medalhas.

"Nossa meta é ambiciosa e estamos no caminho certo, mas há alertas", afirmou. "Em algumas confederações, a gestão nos preocupa. Não temos qualquer crítica contra um ou outro presidente, mas há problemas que precisam ser resolvidos."

Os problemas de gestão variam de acordo com confederação (veja detalhes abaixo). Na CBB (Confederação Brasileira de Basquete) e da CBCa (Confederação Brasileira de Canoagem), a questão é financeira. Ambas as confederações têm dívidas pendentes, o que acaba dificultando até o repasse de recursos públicos para as entidades.

Já no caso da CBG (Confederação Brasileira de Ginástica), o problema é a falta de pessoal. O ministério considera que a entidade não tem uma equipe administrativa suficiente para lidar com toda a burocracia que envolve a gestão esportiva. Por isso, investimentos acabam não saindo, o que tende a prejudicar os atletas.

Por fim, vem a dificuldade na "gestão de talentos" da CBBoxe (Confederação Brasileira de Boxe). Atletas da entidade garantiram três medalhas para o Brasil em Londres-2012. Os três medalhistas, porém, estão hoje fora da seleção nacional de boxe: dois de profissionalizaram e uma foi cortada. Sem eles, a esperança por conquistas em 2016 diminui.

Leyser disse que todos os problemas identificados estão próximos de uma solução. Ratificou, porém, que todas as confederações esportivas continuarão sendo monitoradas pelo governo rumo à Olimpíada de 2016.

FALTA DE "GESTÃO DE TALENTOS" AFETA CONFEDERAÇÃO DE BOXE

  • O boxe rendeu três medalhas para o Brasil nos Jogos de Londres, em 2012. Adriana Araújo ganhou uma prata. Os irmãos Esquiva e Yamaguchi Falcão ganharam prata e bronze, respectivamente. Todos esses medalhistas, porém, estariam fora das Olimpíadas do Rio caso ela fosse realizada hoje. Adriana foi cortada da seleção feminina de boxe por indisciplina. Esquiva e Yamaguchi se profissionalizaram e não podem mais disputar os Jogos Olímpicos. O Ministério do Esporte vê falta de "gestão de talentos" na CBBoxe. A confederação, por sua vez, diz que não tem como controlar decisões pessoais de atletas. A entidade ainda informou que a preparação dos boxeadores brasileiros para a Rio-2016 está no caminho certo. Resultados conquistados em 2013 comprovariam isso.

FALTA DE FUNCIONÁRIOS ATRAPALHA INVESTIMENTO NA GINÁSTICA

  • A ginástica garantiu ao Brasil uma das três medalhas de ouro que o país conquistou em Londres-2012. O Ministério do Esporte vê que a modalidade pode repetir e até melhorar seus resultados em 2016. No entanto, observa que existem falhas na administração da CBG para gerir todos os investimentos que precisam ser feitos no esporte. O número de funcionários é pequeno e recursos aplicados na ginástica acabam parando na burocracia. O campeão olímpico Arthur Zanetti já pediu uma melhor estrutura para preparação de atletas. Procurada, a CBG preferiu não se pronunciar sobre o assunto.

REDUÇÃO DE PATROCÍNIO REDUZ RECURSOS E CRIA DÍVIDA NA CBB

  • A Eletrobras reduziu de R$ 13 milhões para R$ 4 milhões anuais o patrocínio que dava à CBB. Com menos recursos, a entidade não conseguiu arcar com seus compromissos e acabou sendo processada por um banco por falta de pagamento de um empréstimo. Também por falta de recursos, a entidade não pôde pagar os seguros para contar com os atletas que jogam na NBA no Sul-Americano masculino. Resultado: perdeu a vaga para o Mundial. Tudo isso, preocupou o governo, que intensificou contato com a confederação para auxiliá-la a preparar suas equipes para a Rio-2016. A CBB informou que está a procura de novos parceiros. Entretanto, ratificou que o calendário para preparação das seleções está garantido, já adequado à nova realidade financeira da entidade.

DÍVIDA ANTIGA AINDA ATRAPALHA CANOAGEM BRASILEIRA

  • A CBCa acumula dívidas desde a década de 90. Por causa disso, ficou muito tempo sem poder receber recursos públicos e patrocínio de estatais. Esse problema está sendo resolvido, segundo o Ministério do Esporte. Mesmo assim, ainda preocupa o órgão, que vê atletas da modalidade com boas chances de medalha na Rio-2016. Recentemente, Isaquias Queiroz, medalhista de bronze no Mundial de canoagem, criticou a confederação da modalidade por não ter recebido nenhuma premiação por sua conquista. Isaquias ameaçou abandonar o esporte. O presidente da CBCa,  João Tomasini, informou que os problemas com qualquer atleta já foram solucionados. Com relação a dívida, ela já foi equacionada e a entidade já pode lutar pela ajuda do Poder Público.

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