Bolsa Pódio prometida há 18 meses sai no meio do ciclo de treinos para 2016

Vinicius Konchinski

Do UOL, no Rio de Janeiro

Dezoito meses após o anúncio da criação do Bolsa Pódio, enfim, a maior parte da elite esportiva brasileira começará a receber o benefício criado para remunerar atletas em sua preparação para a Olimpíada de 2016. De acordo com o Ministério do Esporte, foi enviada nessa sexta-feira à Caixa Econômica Federal a ordem de pagamento de até R$ 15 mil a 117 esportistas, os quais o próprio governo considera que têm chances de ganhar alguma medalha olímpica nos Jogos do Rio de Janeiro, daqui dois anos e meio.

A Bolsa Pódio é uma das grandes novidades do plano Brasil Medalha, anunciado pela presidente Dilma Rousseff em cerimônia realizada setembro de 2012, na presença de parte da comitiva de atletas brasileiros que recém havia voltado da Olimpíada de Londres. O plano prevê investimentos de até R$ 1 bilhão no esporte olímpico nacional visando à Rio-2016. Contando com ele, o aporte federal na preparação dos atletas deve atingir os R$ 2,5 bilhões --R$ 1 bilhão a mais do que foi investido nos quatros anos que antecederam os Jogos de Londres-2012. 

Desde o anúncio da criação do Bolsa Pódio, 157 esportistas de elite do Brasil já foram considerados aptos a receber a remuneração mensal oferecida pelo governo. Entre eles: Emanuel, do vôlei de praia; Mauro Vinícius da Silva, o Duda, do atletismo; César Cielo, da natação; e Sarah Menezes, do judô.

Segundo o próprio Ministério do Esporte, entretanto, nenhum atleta havia recebido nenhuma parcela dos recursos reservados a ele até o início deste ano. Em janeiro, 16 dos 157 começaram a serem pagos. Neste mês, outros 101 passam a receber a bolsa. Os 40 restantes ainda precisam resolver questões burocráticas para passar a ganhar o benefício.

O ministério diz que não houve qualquer problema de pagamentos no Bolsa Pódio. Os meses que passaram desde o anúncio da criação benefício até o início de seu pagamento serviram para que o órgão realizasse, junto com as confederações, a seleção de atletas que seriam contemplados no Programa Atleta Pódio, do qual o Bolsa Pódio faz parte.

O edital para inscrição de atletas foi lançado em junho de 2013, nove meses após o anúncio de Dilma. A partir de então, esportistas tiveram que cumprir critérios legais para sua inclusão na lista de beneficiários e também apresentar ao governo um plano de treinamento focado na Olimpíada de 2016.

No final do ano passado, o Ministério do Esporte começou a anunciar os primeiros atletas contemplados com o Bolsa Pódio. O órgão informou, contudo, que a maior parte desses esportistas não passou a receber o benefício a partir daquele momento porque eles ainda tinham parcelas do Bolsa-Atleta para receber. Essa bolsa dá até R$ 3.100 por mês para atletas brasileiros --cerca de 20% do teto do Bolsa Pódio. Por lei, entretanto, o governo não pode pagar o Bolsa Pódio para quem já recebe qualquer benefício do Ministério do Esporte.

Por todas essas questões é que o Bolsa Pódio levou levou 18 meses para chegar a maioria dos atletas. O chamado ciclo olímpico de treinamento dura 48 meses.

O Ministério do Esporte informou que atletas que tinham direito a Bolsa Pódio, mas não o receberam por causa da Bolsa-Atleta terão os benefícios pagos retroativamente. O órgão afirmou também que, durante o período em que atletas não receberam o Bolsa Pódio, a maioria se manteve com outras bolsas e patrocínios. Por isso, a preparação para a Rio-2016 não foi prejudicada. 

Nem todos os esportistas avaliaram dessa forma, entretanto. Os irmãos boxeadores e medalhistas Esquiva e Yamaguchi Falcão, por exemplo, resolveram se profissionalizar e abandonaram o sonho de uma conquista olímpica em solo nacional. Esquiva reclamou de falta de apoio do governo ao justificar sua decisão. Na época, o Ministério do Esporte afirmou que o fato de o boxeador não receber o Bolsa Pódio estava relacionado aos procedimentos legais que regulam o programa.

Bolsa-Atleta bloqueado

Apesar de negar qualquer problema com o Bolsa Pódio, o Ministério do Esporte reconhece que o pagamento do Bolsa-Atleta não foi efetuado por três meses. Segundo o ministério, o problema deveu-se a trâmites burocráticos entre o órgão e a Caixa Econômica Federal.

Em fevereiro deste ano, todas as parcelas não pagas do benefício foram quitadas pelo governo. A partir de então, nenhum atleta deixou de receber seu benefício, a não ser aqueles que têm problemas específicos com seus cadastros.

O ministério esclareceu ainda que não houve atrasos em pagamentos do Bolsa Atleta. Os pagamentos não efetuados eram adiantamentos que o órgão realizou justamente para ajudar que atletas que tinham direito à bolsa passassem a recebê-la mais cedo.

Pela regra, atletas com bom desempenho esportivo em 2012, por exemplo, têm direito de se inscrever no Bolsa Atleta em 2013 e passam a receber o benefício em 2014. O governo decidiu por conta própria antecipar os pagamentos de 2013 para 2014. Eles, porém, não foram efetuados conforme o esperado.

COMITÊ RIO-2016 VAI GASTAR R$ 7 BILHÕES

  • Quatro anos após o Rio de Janeiro ser eleito sede da Olimpíada de 2016, o comitê organizador do evento finalmente divulgou seu primeiro orçamento dos Jogos. O órgão, que será o responsável pela operação do evento (alimentação de atletas, equipamentos esportivos, etc), informou que pretende gastar R$ 7 bilhões para cumprir com suas obrigações olímpicas. E mais: não usará nenhum recurso público para isso.

Veja também

UOL Cursos Online

Todos os cursos