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Medina diz como ganhou o respeito no surfe. E, junto, as "marias-parafinas"

Fábio Aleixo

Do UOL, em São Sebastião (SP)

07/11/2014 06h00

Sensação do surfe mundial na atualidade e líder do ranking a uma etapa do fim do campeonato, o brasileiro Gabriel Medina tem hoje um status de fazer inveja a muitos de seus rivais. Aos 20 anos, está prestes a se igualar ao norte-americano Kelly Slater como o mais jovem campeão da história. A consagração poderá ser no Havaí, templo sagrado da modalidade, em dezembro.

Porém, até o começo deste ano, o paulista de São Sebastião era mais visto como uma promessa do que uma realidade no Circuito Mundial (WCT). Mas tudo começou a mudar logo na primeira etapa, quando ficou com o título em Gold Coast (AUS) ao desbancar o astro local Joel Parkinson. Os triunfos em Tuvarua (Fiji) e Teahupoo (Taiti) só fizeram aumentar o respeito.

“Talvez, muitos ainda pensem ser estranho ver um brasileiro chegando e dominando o circuito. Mas ganhei diversas etapas etapas importantes e fui ganhando o respeito de todos. Tem muitos caras que me admiram, muitos que torcem contra, mas isso é algo normal do esporte”, disse Medina em entrevista exclusiva ao UOL Esporte em Maresias, distrito de São Sebastião, sua cidade natal. Nesta semana, ele disputa no local uma etapa do WQS, espécie de segunda divisão do surfe mundial.

E não foi apenas o respeito dos adversários que Gabriel Medina com sua campanha no WCT. Solteiro, ele revelou que o assédio feminino também cresceu.

“No surfe, chamamos de maria-parafina. Não estou namorando, e é normal que aumente o assédio. Todo esporte tem suas fãs e quando tem alguém despontando, é normal que cresça, sempre vai ter a 'maria-parafina'. É normal, faz parte”, disse o surfista.

Mas não foi só isso que mudou. Financeiramente, Medina vem tendo ganhos importantes. Só neste segundo semestre, assinou acordo com a Gilette para participar de uma série de ações promocionais e nesta semana anunciou a Samsung como sua patrocinadora até dezembro de 2015. No total, já conta com 11 parceiros. Os valores, entretanto, são mantidos em sigilo.

“Mudou muita coisa na minha vida em termos de mídia, fãs, questão de patrocinadores. Devido aos meus resultados, minha vida tem sido muito corrida, mas também muito legal. É tudo novo”, disse Medina, que chega ao Havaí com 56.550 pontos no ranking, contra 53.100 de Mick Fanning e 50.050 de Kelly Slater. Os dois são os únicos com chances de impedir o título do brasileiro.

Confira a entrevista exclusiva de Gabriel Medina ao UOL Esporte.

UOL Esporte: Qual a expectativa para a última etapa, no Havaí, e como você está agora que falta só um mês para a decisão?
Gabriel Medina: Minhas expectativas são as melhores. Vou dia 20 para o Havaí, mas já na  segunda-feira vou começar meu treino. Estou confiante, estou feliz, estou em Maresias com minha família e amigos. Está sendo bom para recarregar as energias.

UOL Esporte: O que te trouxe para Maresias?
Gabriel Medina: Voltei para competir e aproveitar família, amigos,  e participar de um campeonato literalmente em frente de casa. É uma semana divertida, mas também de trabalho.

UOL Esporte: O que significa Maresias para você?
Gabriel Medina:  Maresias é o lugar onde renovo as energias, um lugar tranquilo, onde consigo relxar. Gosto porque é bem calmo. É bom ficar em casa.

UOL Esporte: Como é o assédio em Maresias?
Gabriel Medina: Aqui o assédio é menor, porque conheço a maioria das pessoas, mas ainda tem. Sempre preciso parar para tirar foto, dar autógrafo, mas é maneiro. Devido aos meus resultados, aumentou muito o assédio, mas faz parte.

UOL Esporte:  Como é o assédio feminino? Aumentou? No futebol, existem as maria-chuteiras, no surfe existe algo parecido?
Gabriel Medina: No surfe, chamamos de maria-parafina. Não estou namorando, e é normal que aumente o assédio. Todo esporte tem suas fãs e quando tem alguém despontando, é normal que cresça, sempre vai ter a maria-parafina. É normal, faz parte.

Medina 2 - Divulgação Mitisubishi - Divulgação Mitisubishi
Gabriel Medina assina revista durante evento da Mitsubishi, uma de suas patrocinadoras
Imagem: Divulgação Mitisubishi

UOL Esporte:  Falando da última etapa, o que dá para esperar lá no Havaí?
Gabriel Medina: Estou confiante, estou liderando o campeonato e só dependo de mim. Eles (Mick Fanning e Kelly Slater) dependem deles e de mim e existe mais pressão em cima deles. Eles são mais experientes, e eu estou passando por isso pela primeira vez. Tenho 20 anos, por isso estou super tranquilo. Se não der agora, tenho mais dez anos de carreira para ser campeão.

UOL Esporte: Qual será sua maior dificuldade? Qual seu maior trunfo?
Gabriel Medina: Vou me concentrar em mim, vou surfar. É isso que vou fazer. É a última etapa.

UOL Esporte: Você tem algum trabalho psicológico para lidar com a pressão?
Gabriel Medina: Eu não faço nada diferente. Tenho surfado bastante com meus amigos para relaxar. Na hora da competição, respiro fundo, tento manter a tranquilidade. Claro que você sente um friozinho na barriga, mas não é de medo, mas sim de ansiedade. Mas é algo normal, é a primeira vez que estou brigando pelo título. Apesar disso, consigo me manter tranquilo. Meu pai sempre me disse que eu era um cara frio, sempre consegui ser frio. Eu achava que isso era um defeito, mas hoje vejo que é bom.

UOL Esporte: Como você se vê podendo ser um ídolo brasileiro? Quem eram seus ídolos na infância?
Gabriel Medina: Quando eu era jovem, era apaixonado por surfe, via mais surfe do que qualquer outro esporte. Eu assistia ao Adriano de Souza (Mineirinho), Fabio Gouveia, grandes surfistas do Brasil que quase chegaram lá. Mas o meu ídolo hoje é o Senna. Assisti o filme dele, vi a história de vida que era muito inspiradora, um grande competidor. É uma pessoa que virou o ídolo só pelo filme. Gostaria de ter conhecido ele.

UOL Esporte:  Você disse que via muito surfe na sua infância e o Kelly Slater já era um cara que se destacava. Como é competir contra ele agora?
Gabriel Medina: O Kelly sempre foi o Kelly. Quando conheci o surfe, ele já tinha vários títulos mundiais, um cara que eu sempre olhava como exemplo, sempre fui fã. Agora, estou disputando título com ele, é muito louco.

Medina 1 - Divulgação/ASP - Divulgação/ASP
Gabriel Medina venceu três das dez etapas do WCT disputadas em 2014
Imagem: Divulgação/ASP

 

UOL Esporte:  E como é sua relação com o Mick Fanning, seu outro concorrente?
Gabriel Medina: Pelo terceiro ano seguido, vamos ficar juntos na mesma casa no Havaí. Temos o mesmo patrocinador e eles alugam esta casa, que é bem em fente ao local da competição. O Mick sempore foi um amigo, um cara que me dava muitas dicas. Imagino que neste ano ele não vai dar tantas dicas. Mas será tranquilo dividir casa com ele. Ele é tranquilo, eu também. É cada um no seu quadrado, espero que tudo saia bem.

UOL Esporte: Em 2014 você tem sido o destaque, lidera o ranking. O que de fato mudou em sua vida?
Gabriel Medina: Esse, de fato, é o meu melhor ano. Estou liderando o ranking mundial, com grandes chances de título. O Brasil nunca teve isso. Mudou muita coisa em termos de mídia, fãs, questão de patrocinadores. Devido aos meus resultados, minha vida tem sido muito corridas, mas também muito legal. É tudo novo.

UOL Esporte:  O que significaria para você a conquista do título?
Gabriel Medina: Vai ser muito bom para o Brasil, para mim e para o esporte. O Brasil nunca teve campeão mundial. É mesmo uma oportunidade única.

UOL Esporte:  Pelo que você vê, você é um cara muito de família. Seu tio cuida da sua agenda, seu padrasto é seu treinador, sua mãe te acompanha em quase todas as etapas. Como é esta relação?
Gabriel Medina: Sempre estive com minha família, sempre me ajudaram muito. Muitos caras pegam treinador dos Estados Unidos e Austrália, mas eu e meu pai sempre tivemos uma conexão forte. Ele sempre me ajudava a consertar meu erros, só fui melhorando. Esse é o motivo.

UOL Esporte: Como é para um brasileiro chegar lá e dominar o circuito? Existe preconceito? Te olham torto?
Gabriel Medina: Depende. Talvez eles devam pensar assim, ver um brasileiro chegando e dominando. Mas cheguei ganhando diversas etapas e fui ganhando o respeito de todos. Tem muitos caras que me admiram, muitos torcem que contra, é algo normal do esporte.

UOL Esporte: E como é sua relação com os outros brasileiros, principalmente com o Mineirinho que foi o grande nome do surfe brasileiro nas últimas temporadas e hoje foi ofuscado por você?
Gabriel Medina: Eu e o Mineiro somos amigos. Ele sempre representou muito bem o Brasil. Até o ano passado estava lá no Top 5, melhorando. É um cara que sempre esteve lá batendo de frente com os outros. Ele serve como exemplo. 

O repórter viajou a convite da Samsung