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Palco do possível título de Medina tem galinha na praia e trânsito paulista

Acostume-se a conviver com galinhas: onde você vai, lá estão elas - Rafael Reis/UOL
Acostume-se a conviver com galinhas: onde você vai, lá estão elas Imagem: Rafael Reis/UOL

Rafael Reis

Do UOL, em Oahu (EUA)

11/12/2014 10h44

No North Shore de Oahu, as lentes e as atenções quase sempre estão voltadas para o mar. Sobretudo nesta semana, em que a etapa de Pipeline do Circuito de surfe pode sagrar Gabriel Medina como o primeiro brasileiro campeão mundial da modalidade.

Mas o que há na costa dessa ilha para além das cobiçadas ondas? Quais são as trivialidades e rotinas desse abençoado pedaço de terra no meio do Pacífico? Detalhes que são aparentemente comuns para quem vive ali, mas extremamente curiosos aos que pela primeira vez desembarcam na ilha.

Um dia sem competições na última etapa do Mundial -como aconteceu nessa quarta-feira- é a oportunidade perfeita para buscar tais respostas. E um bom lugar para começar a procurar é a Kamehameha Highway, uma das principais rodovias do Havaí, que costeia todo o charmoso North Shore.

Food on the road: nova moda em São Paulo e em outras cidades do Brasil, os food trucks já são consagrados no North Shore. Coloridos e estilizados, eles estão espalhados por todo o acostamento da rodovia. Os mais tradicionais são os Shrimp Trucks, com camarões servidos fresquíssimos e temperados à moda havaiana. Mas as opções não param por aí. Sanduíches que levam os nomes das praias, saladas exóticas e alguns pratos com, pasmem, arroz e feijão! Se você não vê sentido em comer a refeição do dia-a-dia fora de casa, pare de bobeira! Essa espécie de PF (prato feito) havaiano merece uma chance. Tudo bem que o arroz é grudento como o japonês e o feijão leva um tempero puxado pro mexicano...mas o resultado é bom!

Acostume-se a conviver com galinhas: onde você vai, lá estão elas. Inofensivas e aparentemente desambientadas? Que nada! As galinhas do North Shore adoram interagir com seres humanos e incorporam o verdadeiro espírito “aloha”. Não se espante se uma delas se oferecer para dividir uma refeição com você. Sem elas e seus cacarejos, o amanhecer em Pipeline na companhia da lua não seria o mesmo.

Comunidade nipônica:  Passeando por Oahu você impreterivelmente vai encontrar restaurantes com placas e anúncios em japonês. Isso porque os nipônicos marcam forte presença na ilha, são a segunda maior etnia, fruto de um processo de imigração que trouxe mudanças profundas ao Havaí. Além disso, muitos turistas japoneses visitam o local e alguns deles são grandes fãs do surfe, um esporte que cresce muito no Japão.  Na praia, os fãs orientais são os que mais tietam os ídolos do WCT.

A escola mais bem localizada do mundo: Se você imagina Banzai Pipeline como um reduto underground do surfe, infestado por locais “black trunks” raivosos, esqueça! Sabe o que se encontra atravessando a rua da praia? Uma pacífica e harmoniosa escola de educação infantil, arborizada, bem cuidada e com diversas quadras e campos esportivos. Assim, é muito comum encontrar os pequenos futuros Pipe Masters checando o mar antes da aula, de mochilas nas costas.

Surpresas agradáveis (ou não): Principalmente na temporada de inverno, quase impossível não trombar diversos surfistas da elite mundial no acessos das praias, tirando a prancha do carro ou se preparando para cair na água.  Você chega no pico e de repente se depara com aqueles caras que fazem coisas insanas em vídeos de surfe. É bem verdade que o North Shore pode também reservar encontros não tão fortuitos, com figuras pouco acolhedoras como os rebeldes Sunny Garcia ou Eddie Rothman. Mas vale o risco. Quem sabe você não flagra o cantor Jack Johnson pedalando na famosa ciclovia de Sunset, enquanto sonoriza o nascer do sol com assovios animados, como me aconteceu nessa manhã.

Casarões dos sonhos: A costa norte de Oahu é tomada por casas incríveis, ao melhor estilo pé na areia, muitas delas construídas com madeira, dando um tom rústico ao lugar. E pensar que muitos surfistas profissionais passam meses do ano em casas como essas...

Hawaii is America!: E o “american dream” já chegou lá há muito tempo.  A ilha é completamente desenvolvida, com ótima infra-estrutura e tudo o que você encontra nos EUA, de redes de fast food a lojas de grife. Vale lembrar que em 1959 o Havaí foi incorporado como o 50o estado dos EUA. Mesmo com todo o desenvolvimento, o North Shore tem suas raras belezas naturais preservadas e o contato com a natureza pode ser transcedental.

Engarrafamentos à la São Paulo: Se você vai ao Havaí para ser entubado pelas ondas perfeitas, saiba que pode acabar engarrafado antes de chegar até elas. Sem trânsito, os deslocamentos são fáceis, com estradas excelentes e carros seguem o padrão de todo os EUA. Para quem não planeja sair do North Shore, uma bicicleta pode ser suficiente.

Inverno? : Durante o dia, uma bermuda costuma ser toda a roupa necessária. A temperatura costuma ser agradabilíssima, quente na medida certa, com ventos que amenizam o calor. É possível passar dias seguidos no Havaí sem sentir falta de uma camisa ou um calçado. Mas no começo e no fim do dia, o inverno havaiano pelo menos mostra que existe.

Os lendários picos de surfe são de verdade: Para quem acompanha o esporte, ver pela primeira vez os picos mais famosos do planeta é uma experiência indescritível. Dirigir pela Kamehameha Highway e testemunhar Waimea Bay se descortinando à sua frente, de repente, perdida no meio da estrada, é de tirar o fôlego. E a onda nem quebra tão distante assim como parece nos filmes. Do acostamento é possível presenciar uma daquelas sessões que você já viu e reviu nas telinhas. Incrível também é descobrir que você pode caminhar de Pipe para Rocky Point, e depois para Sunset, a pé, pela areia, acompanhando un dos por-do-sol mais incríveis do planeta.