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Game, lutinha e cachoeira. Surfistas tentam aguentar dias de folga no Havaí

Em dias sem competição, Medina fica em casa com o padrasto e brinca de "lutinha" - Rafael Reis / UOL Esporte
Em dias sem competição, Medina fica em casa com o padrasto e brinca de 'lutinha' Imagem: Rafael Reis / UOL Esporte

Rafael Reis

Do UOL, em Oahu (EUA)

17/12/2014 11h00

A espera é intrínseca ao surfe. O mar pode até estar cada vez mais previsível, mas ainda está longe de ser controlável. Antes de pegar boas ondas, surfistas aprendem a esperar boas ondas, tornando praticamente obrigatório que se desenvolva a paciência antes das rasgadas e dos aéreos.

O sucesso da nova geração brasileira no WCT e a possibilidade do título mundial de Gabriel Medina apresentaram o surfe para muitos que nada conheciam do esporte. E na ansiedade de ver Medina levantar o caneco, várias pessoas têm se perguntado por que raios a etapa demora tanto para ser concluída.

Acontece que o mar tem que estar grande o suficiente para proporcionar tubos e manobras, mas não a ponto de gerar risco desnecessário ao atletas. Por isso a janela de espera das competições é tão grande. E se você acha ruim esperar, o que será que pensam os surfistas envolvidos? E o que eles fazem em dias sem competição, por exemplo, numa ilha como Oahu, no Havaí?

Os atletas da elite podem ter muitas coisas comuns entre si: o calendário apertado, rotina de treinamentos, viagens pelo mundo e compromissos comerciais. Mas se tem algo que os diferencia, é o que fazem no famoso “dia de folga” das etapas.  

E se você imagina dias intensos, repletos de emoção e loucuras de uma juventude pouco ortodoxa, pode esquecer. O que os surfistas da elite querem é um tempo para descansar.                   

No terceiro dia consecutivo sem competições em Pipeline, Medina fez um treino leve na frente da casa onde está hospedado, sob os olhares de um espectador inusitado: o jogador Alexandre Pato que, de férias, veio até aqui para torcer para o amigo Medina.

Para focar no título mundial, Gabriel está “fechado” dentro da casa com o padrasto Charles e outros membros da equipe de seu patrocinador. A ideia é blindar o surfista, que acaba ficando com energia acumulada. Sobra para Charles, que vira saco de pancadas de Gabriel, em repetidas brincadeiras de lutinha.

"Primeiro que ele é muito mais forte que eu, né? Eu falo pra ele assim ó: Não tô nem fazendo esforço (risos). Mas realmente, ele está com uma energia sobrando”.

Ficar dentro de casa não parece ser problema para outro brasileiro do WCT, o potiguar Jadson André: "Eu sou um cara que não gosto muito de sair de casa. Eu gosto bastante de ficar assistindo vídeo dos eventos, para continuar focado. Já vamos para o terceiro lay day seguido e eu saí de casa duas vezes (risos)”, diz Jadson que confessa que nem a bela ilha havaiana o anima a sair. “Eu não costumo fazer muita coisa aqui no Havaí, não. Ainda mais quando estamos na espera do PipeMasters. Eu fico mais na internet, fico conversando com a família. Procuro sempre surfar uma horinha no dia, só pra ir mantendo o ritmo mesmo."

Jadson André - Rafael Reis/UOL - Rafael Reis/UOL
Em dias sem onda, Jadson André fica em casa para ver filmes e jogar games online
Imagem: Rafael Reis/UOL

Isso, porém, não quer dizer que o brasileiro não tenha hobbies e passatempos para os momentos de espera. “Cara, eu gosto muito de jogar pôquer e ver filmes de terror”. Talvez daí venha a coragem para dropar as maiores bombas de Pipeline. Mas até os mais cascas-grossas têm um outro lado mais moleque e Jadson revela o seu: “Eu gostava muito de jogar GunBound (jogo online de estratégia em que o jogador tem como objetivo calcular a distância do oponente e atingi-lo). Eu era muito bom!”, revela.

Miguel Pupo é outro que costuma ser caseiro durante as etapas do circuito mundial.

"Nos dias que não tem campeonato a gente fica aqui em casa mesmo. Só surfa pra ficar no ritmo. A gente come, dorme e fica com os amigos, não faz nada."

E se viajar o mundo soa como uma bela oportunidade para conhecer a culinária de diversos países, Pupo admite que essa não é uma de suas prioridades.

"A gente sempre faz comida em casa, a gente não sai muito não. Já faz a compra grande com todo mundo pra cozinhar em casa".

Filipe Toledo - Rafael Reis/UOL - Rafael Reis/UOL
Filipe Toledo destoa dos outros brasileiros. Em dias de folga, gosta de desbravar a natureza local
Imagem: Rafael Reis/UOL

Já o brasileiro mais jovem no WCT tem uma outra ideia de descanso. Quando o campeonato para, Filipe Toledo gosta de desbravar os territórios: "O que a gente costuma fazer quando dá lay day aqui no Havaí é aproveitar pra dar uma descansada, fazer algum passeio, ir para o outro lado da ilha, ir em alguma cachoeira ou fazer uma trilha. Sei lá, alguma coisa diferente. Mais para aproveitar pra descansar, porque nessa maratona de campeonato e de onda grande, a gente rema o dia todo. É surf, bateria, tensão, toda hora essas coisas. Então a gente aproveita para descansar bastante, para quando o campeonato voltar estarmos com 110% de energia”, conta Filipe.