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Sucesso de Medina inspira "brasileirinho" que desafia as ondas de Pipeline

Rafael Reis

Do UOL, em Oahu (EUA)

18/12/2014 09h02

Nos próximos dias, Gabriel Medina pode sagrar-se o primeiro brasileiro campeão mundial de surfe da história. Mas dificilmente será o último. O sucesso recente dos brasileiros no WCT está inspirando as novas gerações e muitas crianças estão iniciando precocemente na modalidade com o apoio dos pais, algo raro até poucos anos.

Yan Söndahl é uma delas. E lá vem ele caminhando o mais rápido que suas curtas pernas permitem pelas areias de Banzai Beach. Longos cabelos loiros ao vento, pranchinha debaixo do braço e olhos vidrados nas ondas que quebram por ali, refletindo a ansiedade típica de uma criança de dez anos prestes a iniciar sua brincadeira favorita.

Ele não tem nem um metro e meio e já surfa a temida Pipeline. Mas a pedida do dia é Off the Wall, para encher de rasgadas estilosas as ondas pequenas que colocaram o Pipe Masters em compasso de espera. Medo?

"Aqui hoje está sem coral. Toda a bancada de coral e de pedra está coberta com areia. E na Indonésia não tem isso, né. E eu comecei a surfar no coral lá. Então, sei lá, eu tenho uma confiança, já que eu só me machuquei umas cinco vezes", conta o pequeno surfista com uma naturalidade incrível e até cômica.         

A viagem para a Indonésia no ano passado mudou a vida de Yan. Lá, meio por acaso, conheceu seu maior ídolo no esporte: Gabriel Medina. "Eu comecei a ser amigo dele lá na Indonésia, ano passado em Keramas, no WCT que teve lá. A gente chegou no mesmo hotel que ele estava e a gente nem sabia. Daí o Gabriel veio perto da gente e começamos a conversar com ele. Brincamos na piscina que tinha lá e ele virou meu amigo", relembra animado. 

Além do líder do ranking mundial, Yan conheceu um dos melhores amigos de Medina, Jonathan Paiva, que acabou "adotando" Yan como pupilo.

"O Jô é meu amigo e ele está me treinando agora", conta o Yanzinho para explicar sua evolução no último ano.

Nascido em Balneário Camboriú, mas criado em Curitiba e São Francisco do Sul, Yan mudou-se recentemente com o pai para a praia de Maresias, no litoral norte de São Paulo, para se desenvolver no surfe e ficar mais próximo dos novos amigos. Essa não foi a primeira escolha que Carlos Sondahl fez em prol do futuro do filho no esporte.

Piloto de motocross, uma vez teve que escolher entre pagar a inscrição em um campeonato ou dar ao pequeno Yan a vaga em uma competição de surfe. Ali, a paixão de Yan que se iniciou aos 4 anos com o skate na capital paranaense e passou pelas aulas de surfe em São Francisco do Sul para suprir a falta de pistas, ganhou o primeiro apoio necessário para se tornar mais séria.

Hoje, Yanzinho participa de diversos campeonatos de base e viaja em busca das melhores ondas. Seguindo os passos do ídolo Medina, ele espera alcançar seu maior sonho:

 "O meu sonho é disputar o WCT, é o melhor campeonato que eu já vi e é o que eu gosto de fazer."

Por enquanto, ele assiste vidrado aos melhores surfistas do mundo em ação para depois imitá-los na água. Mas no Pipe Masters, teve que escolher entre seus dois maiores ídolos no surfe. "Gabriel Medina e Mick Fanning, o primeiro e o segundo (risos). Só que eu estou torcendo mais pro Gabriel. Brasileiro tem que torcer pro Brasil, né."

 A cada nova pergunta o garotinho bem articulado vai ficando gradualmente monossilábico. O mar está melhorando e ele não vê a hora de cair na água. Não tem problema. Com esse talento, outras tantas entrevistas virão.