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Oito motivos para acreditar que Gabriel Medina terá uma hegemonia no surfe

De Oahu, Havaí

Rafael Reis

21/12/2014 06h00

Nos últimos dez anos, apenas dois surfistas haviam conseguido atrapalhar, minimamente, a hegemonia do onze vezes campeão do mundo Kelly Slater: os australianos Joel Parkinson com a conquista do tour em 2012 e Mick Fanning com o tri em 2007, 2009 e 2013. Mas mesmo Mick Fanning, no seu auge, nunca chegou a estabelecer um domínio como o de Slater. É um exímio surfista, multicampeão, assim como foram Andy Irons, Tom Curren, Mark Richards, e companhia.

Daí a equipar-se ao extraordinário “careca do espaço” é um longo caminho, que para muitos, já começa a ser trilhado pelo primeiro brasileiro a levantar o caneco da ASP. A seguir, uma lista dos grandes feitos executados por Gabriel Medina e alguns motivos que levam a crer que o fenômeno brasileiro vem varrendo o WCT como uma tsunami,  dando sinais de uma nova ordem no surfe mundial. Possivelmente, a primeira pós-Slater. 

1- Garoto Prodígio

Em 2011, com apenas 17 anos, Medina entrou no WCT no meio do ano e logo de cara conquistou duas das quatro primeiras etapas que disputou. Esse é um recorde histórico, que nem mesmo Kelly Slater ostenta. Aliás, o onze vezes campeão do mundo falou sobre isso no Havaí: "Quando um cara como ele aparece no circuito, é assustador para nós competidores, e também é motivador para aqueles que querem desafiá-lo e chegar a mesma posição que ele".


2- Jovem campeão

Por meses, Gabriel também não bateu outro recorde histórico, desbancando o próprio Slater. O brasileiro é o segundo campeão mundial mais jovem da história (ele ganhou o título três dias antes de completar 21 anos). Kelly Slater venceu em 1992 com 20 anos e 10 meses.


3- Medina Airlines

As manobras aéreas estão cada vez mais comuns no surfe, mas Gabriel Medina impressiona pelo extenso repertório delas: Frontside Air reverse (com os mais variados grabs), Full Rotation de backside, Superman e, inclusive, o Backflip. E o mais impressionante é que Gabriel pode combiná-los em uma mesma onda, com alturas astronômicas, pousando-os como se estivesse em terra firme.


4- Inteligência e competitividade

Para muitos especialistas, Medina é um dos atletas mais inteligentes do circuito mundial. "O Gabriel tem uma estrela e uma inteligência muito grande cara, um poder de controle mental extremamente eficiente", disse Teco Padaratz. Já o campeão mundial de 89 e comentarista da ASP Martin Potter, ressalta que essa é uma das características mais admiráveis no brasileiro: "O que eu gosto no Gabriel é que ele é um cara muito inteligente dentro da água. O jeito como ele levas as baterias, o jeito como ele encontra as notas quando ele precisa delas. Ele está um surfista muito mais completo, muito mais inteligente, e eu dou mais dois anos para Gabriel se tornar invencível".

Dotado de frieza e raciocínio rápido, Gabriel joga a pressão para seus adversários e faz escolhas certas nos momentos mais críticos. Sua confiança é o principal trunfo: "Eu confiei em mim, eu tive muita fé. E o meu pai do meu lado também me deu muita confiança, ele sempre falando coisas positivas", revelou o campeão logo após o título. 

Além disso, Charles garante que Gabriel é um dos seres mais competitivos da face da terra: "Gabriel é o cara mais competitivo que eu já vi, desde pequeno. Se ele joga bolinha de gude ele quer ganhar de qualquer jeito. É assim em tudo. Por isso tive que proibir ele de jogar futebol, andar de skate, se não ele ia querer ganhar e poderia se machucar", explicou o padrasto.

5- Surfista nota 10

Ter uma onda avaliada como “perfeita” pelos juízes não é uma tarefa fácil. É quando o surfista extrapola em todos os critérios de julgamento e ainda impressiona os avaliadores. A maioria dos surfistas passa anos sem conseguir uma nota 10. Aos 15 anos, Gabriel ganhou uma final com duas delas. O fato raro foi realizado no King of The Groms 2009, na França, e abriu os olhos do mundo do surfe para o fenômeno brasileiro. 

"Gabriel é um surfista incrível. Eu assisti ele quando ele era um garotinho em King of The Groms (competição da base do surfe). Desde cedo eu sabia que ele entraria na disputa por um título mundial. Esse ano ele é um surfista diferente, ele está mais inteligente, ele está ficando grande e forte, então a potência do seu surfe está ficando melhor também. Ele está começando a ter mais potência em ondas grandes, ele está se tornando um surfista completo, o que você precise ser para vencer um título mundial", explicou Martin Potter.

6- Sucesso financeiro

Prestes a completar 21 anos, Gabriel Medina já faturou mais de US$ 1,2 milhão em premiação apenas nas competições da ASP. Mais da metade do que o segundo atleta mais premiado da atualidade, Mick Fanning, que em quatros vezes mais temporadas que Gabriel na elite do surfe. Além disso, Medina é hoje o segundo atleta brasileiro com o maior número de patrocínios pessoais, atrás apenas de Neymar.


7- Ídolo nacional

Com o título mundial, Gabriel Medina gerou uma verdadeira comoção nacional, um fenômeno semelhante aos de Ayrton Senna na Fórmula 1 e Gustavo Kuerten no tênis. Potecializado pelas novas tecnologias e redes sociais, o fenômeno Medina vai varrendo o mundo como uma tsunami. Durante o Pipe Masters, as baterias de Gabriel Medina bateram todos os recordes históricos das transmissões via web da ASP.


8- Melhor a cada ano

Quando surgiu no circuito, foi recebido por uma boa parte da mídia especializada como um surfista incompleto, que necessitava dos aéreos para conseguir bons resultados. Mas a evolução do surfe de Medina é inquestionável, ano após ano. E em 2014, o brasileiro  fez questão de quebrar todos os paradigmas. Primeiro venceu em Snapper Rocks uma etapa que há tempos não era conquistada por um goofy (que surfa de costas para a onda nas direitas de Snapper Rocks), sem dar um aéreo sequer. Depois, acabou com a desconfiança em ondas grandes e tubulares, ao ser coroado em Fiji e em Teahupoo. A cartada final foi chegar à decisão do Pipe Masters em um dia que privilegiava Backdoor, o que para muitos seria a perdição de Gabriel. De costas, ele tirou um 10 perfeito e completou outros tantos tubos de tirar o fôlego, antes de levantar a taça de campeão mundial.

"Ele surpreendeu mais uma vez, porque era a imprensa inteira falando, não a brasileira, mas principalmente a imprensa de fora, duvidando do Gabriel em Backdoor. Ah, se tiver Backdoor o Gabriel pode ser que perca e tal. Já o brasileiro como sempre acreditando porque sabe o potencial do Gabriel e porque acredita mesmo. E acabou as ondas rolando mais pra Backdoor, e o Gabriel mostrou que ele sabe surfar de um lado, do outro lado, e se precisar dar pirueta, se precisar voar, se precisar chover vai fazer chover", exaltou Charles, padrasto de Gabriel.

Bônus: Nas sessões de freesurf Gabriel Medina gosta de brincar surfando de base trocada. No surfe cada surfista tem uma base fixa, com o pé direito na frente (goofy) ou pé esquerdo na frente (regular). Até hoje isso sempre foi imutável, como ser canhoto ou destro. Mas, de brincadeira, Gabriel Medina já conseguiu pegar tubos e até mandar um pequeno aéreo de base trocada. Se a brincadeira ficar séria, Gabriel pode mudar a história do surfe. Como exemplo, cita-se o skate, em que a base trocada possibilitou todo um novo leque de manobras, com grau de dificuldade aumentado. O brasileiro Bob Burnquist foi um dos grandes responsáveis por popularizar manobras de base trocada em competições de skate. Pode Gabriel Medina fazer o mesmo no surfe?