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Marido de Luana Piovani desafia perigo em ondas gigantes e faz atriz rezar

Luiza Oliveira

Do UOL, em São Paulo

07/08/2015 06h01

Pelo jeito manso de falar e o amor pela natureza não é difícil perceber que Pedro Scooby é um cara sossegado e leva a vida com simplicidade. Mesmo que para alguns sua vida possa parecer um turbilhão. Ele é casado com Luana Piovani, uma das mulheres mais conhecidas e desejadas do país, está à espera de filhos gêmeos e sua profissão é desafiar os perigos das ondas gigantes.

Talvez a prancha e o mar, seus maiores companheiros de trabalho, sejam os culpados por essa tranquilidade. Não à toa Scooby se considera mais que um surfista, é um artista das ondas que fez do esporte seu estilo de vida.

Não por acaso escolheu um caminho pouco tradicional do surfe no país. Não se adaptou aos campeonatos e ao circuito mundial como seu amigo Gabriel Medina porque acabava torcendo para os adversários. Ainda adolescente, conheceu o freesurf, uma vertente sem competições em que o surfista trabalha para produzir boas imagens, conteúdo, documentários, programas de tv... e se divertir!

E foi aí que ele se encontrou mesmo nas ondas gigantes. Hoje, sua rotina é viajar para enfrentar os oceanos à procura desses monstros de mais de 25 metros de altura. Todo planejamento é pouco porque qualquer erro pode ser fatal. Scooby tem que se preocupar minuciosamente com equipamentos de segurança, uniformes especiais e treinos físicos. Ele treina regularmente apneia (só sob orientação) e já é capaz de ficar até mais de quatro minutos embaixo d’água sem respirar.

Tudo por uma sensação única que o medo e a adrenalina proporcionam. “É um sentimento de medo que me alimenta, eu gosto do medo, da adrenalina de estar perto da morte, estou em cima do muro. Eu não tenho medo de morrer, fiz a escolha certa. Se eu for embora, está tudo certo com a minha família, eles estão bem, não precisam de nada. Eu só gostaria de ver meus filhos crescerem, não é medo da morte, é medo de perder essa relação com meus filhos”.

Apesar de tanta coragem, a vida no limite também já lhe pregou muitos sustos. “Uma vez quando fui para o Taiti, na primeira onda, arregacei minha perna no coral, é uma situação que você fica perto da morte, mas não apaguei. Em Nazaré, em Portugal, levei cinco ondas gigantes na cabeça, me deixou tonto. Você toma um caldo em uma onda dessas e parece que vai morrer”.

Enquanto Scooby desafia a lei da natureza e se inspira com a sensação de liberdade, sua esposa sofre em casa. Luana prefere não acompanha-lo nas viagens e se apega às orações para que marido retorne logo para o aconchego do lar.

“Ela fica preocupada, ela não faz parte do momento da onda gigante, ela fica em casa rezando. Na hora que termina eu ligo e  falo que está tudo bem. Ela nunca assistiu e nem vai assistir, não quer passar por isso, o momento pode ser muito feliz, mas pode ser uma situação muito ruim. Você pode ir do céu ao inferno em um segundo. Eu saio da água, ligo, falo que está tudo bem e volto para casa”.

Sccoby tomou gosto pelas ondas grandes pouco depois de sair da adolescência e ver que o mundo competitivo do circuito mundial não era para ele. Ele se tornou discípulo da lenda Carlos Burle que o adotou como pupilo. Burle, para ele, é mais que um professor, um verdadeiro mestre.

Sua vida então mudou. O garoto ansioso e desconcentrado se transformou em um homem centrado e profissional. Os frutos não demoraram a chegar. Aos 20 anos, se tornou o primeiro surfista patrocinado pela Nike, seguido de mais investidores.  

Hoje, ele tem um programa no canal Off e desenvolve outros projetos que vão surgindo ao longo do ano. A rotina é corrida e incerta porque ele nunca sabe quando e onde as ondas gigantes vão aparecer. Depende da natureza.

A única referência é que em uma parte do ano vai ter onda no hemisfério sul, e na outra metade no hemisfério norte. Ele só tem uma previsão confiável três dias antes de elas darem seus sinais e bagunçarem o oceano. É quando arruma as malas correndo e parte para lugares como Nazaré, em Portugal, Taiti, Havaí, Califórnia, Chile e África do Sul.

O prazer do surfe contrasta com o sofrimento de ficar longe da família. Por isso, quando as ondas acabam é hora de voltar correndo para casa, agora com um motivo extra, ou melhor, três. Ele já é pai de Dom, de três anos e meio, e vive a expectativa do nascimento dos gêmeos Bem e Liz que Luana espera.

Mas nada tira Scooby da tranquilidade. “Alegria total. Não fujo da raia não, gosto de assumir responsabilidade, dá pouco mais trabalho, mas vai ser feliz demais. O importante é ter saúde. A vida é tão simples”.

Essa simplicidade ele faz questão de passar para os herdeiros com seu estilo paizão. Ele gosta de estar sempre presente e prioriza as atividades ao ar livre, os esportes e o contato com a natureza. Em casa, nada de videogame o dia inteiro. Mas o que ele quer mesmo é dar liberdade aos filhos para seguirem o caminho que sonharem, a mesma escolha que ele fez com a própria vida mesmo indo na contramão da sociedade.

Por isso, se lembra até hoje de ter sido humilhado pelo pai de uma ex-namorada só porque era surfista. Anos depois deu a resposta ao encontrá-lo, já bem sucedido, em uma reunião.

“Fiz tudo errado perante a visão da sociedade. Descobri que minha mulher estava grávida, eu tinha 22 anos, casei com ela depois, virei surfista que geralmente é tratado como vagabundo. Hoje tenho um filho de três anos e meio, uma relação incrível, minha esposa está grávida de gêmeos, tenho uma vida incrível. Cheguei a um lugar muito bom da minha profissão, ainda quero muito mais, mas já alcancei o respeito das pessoas, vivo um sonho e não fiz nada como a sociedade queria. Sou abençoado”.