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Melhor brasileira do surfe detona marcas: "só querem modelos, loirinhas"

Silvana Lima é a líder do ranking nacional - Reprodução/Instagram
Silvana Lima é a líder do ranking nacional Imagem: Reprodução/Instagram

Leandro Carneiro

Do UOL, em São Paulo

02/03/2016 06h01

Silvana Lima já foi eleita melhor surfista do Brasil em oito oportunidades. Já conquistou etapas do Mundial de surfe e até foi vice-campeã do circuito mundial em 2008 a 2009. Mas nada disso é suficiente para que ela consiga patrocínios das marcas de roupas de surfe. De acordo com ela, que tem apoio da Oi e de Furnas, o problema é que as grifes não querem apenas surfistas.

“Na verdade é o que a gente escuta, ouve das marcas. Eu até entendo parte das marcas de surfe porque querem uma surfista que seja modelo, mais bonitinha, do cabelo amarelo, olho azul, bonita de corpo. Bom para elas, paga atleta para duas coisas, pro surfe e como modelo. Então, é bom para marca. Mas vai ser difícil achar isso para o Brasil. No Brasil, não tem muitas meninas que são surfistas e são bonitas como eles querem. Não vai ter olho azul, nem cabelo amarelo, loirinha, é bem mais complicado. Não quero dizer que não são bonitas, mas a gente não é modelo, eu não sou modelo. Eu não pareço ser”, disse.

De acordo com Silvana, esse “fenômeno” de buscar atletas e modelos começou no surfe do exterior. “O que complicou essa parte de surfe e moda foram as gringas. Elas começaram a fazer essas fotos sensuais, surfe de biquíni, bem pequeno, tipo Brasil. Fotos sensuais que postavam no Instagram, Facebook e as marcas começaram a gostar mais dessa parte. Para gente é difícil porque surfe é surfe, moda é moda”, completou.

Foi neste cenário que Silvana teve de vender apartamento e carro há dois anos. Ao passar por duas cirurgias e ver seu acordo com a Billabong chegar ao fim, a surfista teve de procurar novos parceiros. Como não encontrou, a solução foi começar a vender o que tinha e criar um canil para conseguir competir.

“Estava machucada, tive de começar do zero. Vendi meu carro e apartamento que tinha no Rio para continuar meu sonho de competir. Penso no meu melhor, se não tinha dinheiro, patrocínio, tinha de vender meu carro, apartamento. Ano passado começou a aparecer algumas marcas. Antes, foi apartamento que vendi, carro também e tenho canil de bulldog francês. Foi o que ajudou muito. Dinheiro estava acabando. Tive a ideia de criar bulldog francês, tive duas ninhadas, através dela que fui para Espanha”, completou.

Questionada sobre a possibilidade de se adaptar e até fazer ensaios para as marcas, Silvana diz que não teria problema nisso.

“Eu faço minha parte. Tento melhorar minha imagem fora da água, melhorar o máximo. Ser modelo como as meninas vai ser difícil, complicado. Penso mais no surfe. Se patrocínio quiser fazer foto, vou estar ali, disposta”, finalizou.

Segundo Silvana, o problema não é exclusivo das surfistas. A ausência das marcas também é visto nos torneios que não são realizados para mulheres no país.

“Ano passado rolou matéria na TPM com diretor da Abrasp (Associação Brasileira de Surfe Profissional), Pedro Falcão, falando que a gente não tem campeonato no Brasil porque não tem atleta bonita que surfe bem. Essa foram as palavras dele. Complicado isso. Falou porque escuta das marcas. Aí, várias meninas postaram criticando ele, porque falou isso. Isso é complicado para gente. Na real, não sabe o que passa com marca que faz campeonato masculino, não faz feminino. A gente fica chateada, triste, fica rezando para que na frente melhore”, falou.

Nesta temporada, Silvana estará fora da elite do surfe feminino e tentará novamente no WQS conquistar uma vaga para a WSL. Para isso, ela realiza pré-temporada na Austrália.