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Crise política e econômica pode deixar Brasil de fora do Mundial de Surfe

Brasil corre risco de não ter etapa na próxima temporada do Mundial de Surfe - Kelly Cestari/WSL
Brasil corre risco de não ter etapa na próxima temporada do Mundial de Surfe Imagem: Kelly Cestari/WSL

Guilherme Dorini

do UOL, em Florianópolis

18/07/2016 06h00

Dois últimos campeões do mundo, dono dos títulos da divisão acesso, júnior e da Tríplice Coroa Havaiana, além de ter o melhor estreante da elite. Esse é o histórico dos surfistas brasileiros na última temporada da modalidade. Melhor impossível. No entanto, mesmo com todas essas conquistas, e também sendo considerado uma das grandes potências comerciais, o Brasil ainda corre risco de dar um passo para trás nessa evolução e ficar sem etapa na próxima temporada do Circuito Mundial de Surfe (WCT).

A opinião é de Teco Padaratz, ícone do esporte no país nas últimas duas décadas e hoje membro de uma equipe responsável por organizar a etapa brasileira.

“O país passa por um momento que se reflete em todos os flancos. Não podemos negar isso. Não é só no Rio de Janeiro, é o Brasil como um todo. Tem uma galera que fica pensando em que estado será a próxima etapa, mas temos que nos preocupar se vai mesmo continuar no Brasil, se a WSL (Liga Mundial de Surfe) não vai levar para o Chile, Peru ou outro lugar”, revelou Padaratz em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.

Teco ainda diz que o principal problema seria a situação instável do país, que dificultaria garantias financeiras importantes para a WSL concordar em continuar com uma etapa em solo brasileiro.

Teco Padaratz - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Teco Padaratz faz parte da organização no Brasil
Imagem: Reprodução/Instagram

"Acho que eles estão considerando garantias, e, se o Brasil não conseguir passar essas garantias, por conta da situação econômica e política do país, eu não duvido que eles pensariam dessa forma, mesmo com o Brasil sendo tão importante comercialmente. O mais importante é que o evento role, que todo mundo pague a conta e que aconteça normalmente como se fosse em qualquer outro canto do planeta", completou.

Teco é responsável pela parte comercial dessa organização, é ele quem vai atrás de governo, prefeituras e leis de incentivo para que se complemente a renda obtida por empresas privadas (nesse caso são agências que vão atrás) e o evento saia do papel.

"É óbvio que vamos trabalhar para não deixar isso acontecer, afinal, ela representa muito. É responsabilidade de quem organiza no Brasil fazer com que dê tudo certo e estamos considerando todas as hipóteses possíveis. Até já existe alguma conversa sobre onde poderemos fazer, mas é uma conversa muito ampla. O veredito é da WSL e ainda não veio. É importante bater naquela tecla: é preciso que a conta seja paga. Esse é o primeiro negócio. Pode até ter onda mais ou menos, mas isso é um segundo detalhe", disse.

O receio da organização, e da WSL, não é à toa. No ano passado, a etapa de Saquarema, uma das mais importantes da divisão de acesso do surfe mundial (WQS), acabou não sendo paga, deixando a entidade em saia justa. Na época, a justificativa da Associação Brasileira de Surfe (Abrasp), responsável pela disputa, é de que boa parte do dinheiro de patrocínio, que viria do Governo do Estado do Rio de Janeiro, não chegou. O resultado? Saquerema, um dos melhores picos de surfe no Brasil, ficou fora do calendário de 2016.

Outros problemas

Se optarem por continuar no Brasil, a organização terá um outro problema para resolver. A etapa do Rio de Janeiro, realizada em maio deste ano, foi muito criticada pela qualidade do mar – surfistas gringos reclamaram, mais uma vez, da poluição na água –, e dá violência na cidade, o que fez outras cidades entrarem na pauta.

“A questão de ser a única metrópole no calendário, isso dá violência... É tudo o que eles vão discutir. Não vão tomar essa decisão no impulso. Eles vão conversar. Mas, temos que lembrar que a visibilidade que o surfe vem tendo no país se deve muito ao evento estar no Rio de Janeiro, e eles não podem esquecer isso".

"Isto posto, acho que o Brasil inteiro está preparado para receber essa etapa: Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro, Fernando de Noronha como tem um monte de gente falando... Isso tudo vai ser resolvido dentro de um escritório, na cabeça de um cara com as informações que receber dos comissários e nossa. Deve acontecer até o final do ano”, finalizou Padaratz.