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Ele era apontado como sucessor de Guga. Hoje é estagiário em dois empregos

Tiago Fernandes com a taça do Aberto da Austrália de 2010 e o mascote que ganhou de presente - AP Photo/Shuji Kajiyama
Tiago Fernandes com a taça do Aberto da Austrália de 2010 e o mascote que ganhou de presente Imagem: AP Photo/Shuji Kajiyama

Fábio Aleixo

Do UOL, em São Paulo

30/01/2015 06h00

No dia 30 de janeiro de 2010, em Melbourne, Tiago Fernandes escreveu seu nome na história ao se tornar o primeiro brasileiro a conquistar o título de uma chave juvenil de Grand Slam. Aos 17 anos, ficou com a taça do Aberto da Austrália ao bater na decisão o australiano Sean Berman por 2 sets a 0 (7-5 e 6-3). Pupilo de Larri Passos, o mesmo que levou Guga ao topo do mundo, foi colocado rapidamente como o sucessor do catarinense e a nova esperança do tênis brasileiro.

Exatos cinco anos se passaram desde então, e como não poderia der diferente, muita coisa mudou na vida deste alagoano que completou ontem 22 anos de idade. A mudança mais radical aconteceu em agosto do ano passado. De forma precoce, decidiu se aposentar. O tênis já não preenchia mais as suas necessidades e não lhe trazia felicidade.

Felicidade esta que Tiago garante ter hoje. O jovem voltou a viver em Maceió e passou a se dedicar a carreira acadêmica. Está cursando o segundo semestre de Engenharia Civil e fazendo estágio. Trabalha em uma construtora e também em um hotel. Em ambos, atua na área administrativa. Sua rotina é puxada e o tempo para descanso ou lazer é escasso. Mas isso não o incomoda nem um pouco.

“Numa balança na minha vida atual, consigo ter mais momentos positivos do que negativos, consigo me preencher mais. No tênis, o quanto eu me dedicava era desproporcional às chances de retorno profissional e pessoal para mim. Optei por fazer algo que o quanto mais eu me dedicar, mais proporcional será o retorno financeiro e pessoal”, disse Fernandes em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.

Número 1 do mundo entre os juvenis,  Fernandes chegou ao 371º lugar do ranking da ATP, mas nunca disputou nenhum torneio de primeiro escalão. Seu limite foram os challengers. Como profissional, faturou US$ 47.095 em premiações.

“Não gosto do circuito e foi isso que pesou bastante para eu deixar o tênis. São muitas as viagens, você passa muito tempo longe da família. E a família sempre foi um fator muito importante para mim e o tênis mão me proporcionava estar perto dela. Foi uma situação desgastante a qual realmente não me adaptei tão bem”, disse.

Confira os principais temas do bate-papo com o ex-tenista:

Lembranças do título
Guardo com carinho esta conquista. Tive dois anos como juvenil que foram muito importantes para mim. O título em Melbourne foi algo que coroou o meu trabalho, foi inesquecível. Eu não estava numa semana muito boa, mas há havia tido resultados expressivos antes. Tinha feito quartas de final do Aberto dos Estados Unidos, mas não vinha bem naquele início de temporada. Na semana anterior, havia jogado outro torneio na Austrália e sido eliminado rapidamente. Não vivia minha melhor fase. Tive uma primeira rodada muito complicada (vitória por 3-6, 6-4 e 6-4 sobre o francês Cedrick Commin) e depois fui crescendo. Mas não imaginava ganhar o torneio. Tenho guardada até hoje a gravação da final, mas não costumo ver.

Pressão para ser o “novo Guga”
Concordo que houve pressão, eu não estava esperando. Até então, não havia acontecido nada de extravagante na minha carreira, apesar de ter tido alguns bons resultados. Não estava preparado, mas tive de lidar com isso. Agora, se tivesse de passar por outros momentos como este, estaria preparado, foi uma época de muito aprendizado

Relação com o tênis atualmente
Eu gosto de ver jogos. Não é algo que me faz mal lembrar ou pensar. O tênis foi um fator muito importante na minha vida. Não quero me desligar totalmente do tênis. Tento olhar de forma mais positiva possível para tudo que fiz e vivi. Guardo as coisas boas, as boas lembranças e todos ensinamentos, foi algo muito positivo. Não tenho nada do que me arrepender. Eu gosto muito do esporte e não descarto contribuir de alguma maneira com o tênis no futuro, apesar de não ter nada concreto em mente. Agora, estar no circuito mesmo sem jogar não existe possibilidade alguma. Não gosto do circuito e foi isso que me fez deixar o tênis. São muitas as viagens, você passa muito tempo longe da família. E a família sempre foi um fator muito importante para mim e o tênis mão me proporcionava estar perto dela. Foi uma situação desgastante a qual realmente não me adaptei tão bem.

Saudades
Sinto falta da competição, o prazer da vitória a curto prazo. Sempre gostei muito. Mas estou conseguindo suprir esta falta de desafios com o que escolhi fazer.  Hoje, tenho contato com algumas pessoas do tênis. Com o Larri (Passos), não falei mais. Mas nunca tivemos nenhum tipo de problema.

Tiago e Larri 2 - Marcelo Justo/Folha Imagem, FOLHATEEN - Marcelo Justo/Folha Imagem, FOLHATEEN
Tiago e Larri Passos em foto de 2010 após um treino
Imagem: Marcelo Justo/Folha Imagem, FOLHATEEN

Tênis como lazer
Não sinto falta. Entrei em quadra poucas vezes depois que parei. Jogar tênis não é prioridade minha nas horas vagas. Quero estar com a minha família, estudar, passar tempo com a minha namorada.

Situação financeira
Na minha carreira, sem pre houve investimento, nunca faltou patrocínio. Sempre tive pessoas que confiaram em mim desde o começo. Desde os meus 15 anos, tive pessoas que financeiramente me proporcionaram o que eu precisava. Hoje, a  situação financeira não é minha prioridade. Quero ganhar conhecimento, não é algo que me preocupe.

Rotina atual
Estou no segundo semestre da faculdade engenharia de um curso de cinco anos. Pretendo terminar em quatro anos e meio. Estou estagiando numa construtura e e uma  empresa do setor hoteleiro. Estou adquirindo um conhecimento legal. Ainda não tenho planos concretos para minha a atuação no mercado em si. Pretendo empreender. A rotina está bastante puxada. Agora, como estou de férias da faculdade, estou trabalhando de manhã e de tarde.