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"Espião" entrava em quadras com aparelho costurado na calça

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Imagem: Reprodução

Daniel Lisboa

Do UOL, em São Paulo

31/05/2015 06h00

O mundo dos esportes também tem seus espiões. É o que mostra uma reportagem da BBC Mundo publicada pelo jornal argentino “La Nacion”. A matéria conta a história de Dan Dobson, um jovem de 22 anos que tinha um trabalho peculiar: rodar o mundo assistindo a partidas da elite do tênis para repassar informações a um grupo de apostadores.

A aventura de Dobson acabou mal, e ele foi preso durante o Aberto da Austrália do ano passado. Até ter sua carreira de espião interrompida, ele entrava nas partidas munido de um aparelho costurado na calça. Por meio do dispositivo, passava informações, de maneira ultrarrápida, sobre o que acontecia dentro da quadra a apostadores em Londres. Como Dobson explicou à reportagem da BBC, se era, por exemplo, Novak Djokovic quem pontuava, ele pressionava 1. Caso fosse Andy Murray, o espião pressionava a tecla número 2, e assim por diante.

Com as informações passadas em tempo real por Dobson, os apostadores ficavam a par dos resultados a uma velocidade bem maior do que se dependessem da TV ou das casas de apostas. A reportagem explica que esse tipo de aposta, que ocorre ao mesmo tempo em que a partida, é chamada de “in-game”. A empresa para a qual Dobson atuava fica no sul de Londres e usa softwares que possibilitam apostas sobre quem vai vencer o jogo a cada novo lance. De acordo com a reportagem, as autoridades já sabem há anos da presença de espiões como Dobson em partidas da elite do tênis, e têm tomado medidas contra eles. Em Wimbledon, por exemplo, há observadores posicionados para tentar encontrá-los.

Apesar da fiscalização, Dobson, surpreendentemente, disse à BBC que não esperava que algo de muito ruim lhe acontecesse. No máximo, que iriam lhe flagrar. “Passei o dia todo na quadra, sob uma temperatura de 45 graus, estava muito incômodo. Quando saí, ao final do dia, um policial me agarrou pelo braço e me algemou. Foi aí que me dei conta de que algo estava errado”, disse Dobson à BBC. Ele revelou ainda que, à princípio, as autoridades australianas acharam que seu trabalho ia além. “Pensaram que eu tinha alguma influência sobre a integridade do esporte, contato com os jogadores, corrompendo o esporte de alguma maneira. A verdade é que o meu trabalho não tem a ver com isso”.

A reportagem explica que o espião foi acusado pela justiça do estado de Vitória de tentar influenciar nas apostas. Caso fosse condenado, poderia ficar até dez anos na prisão. Mas, para sorte dele, no final das contas nada de ilegal ficou configurado em suas atividades, e Dobson escapou do xilindró. Para a reportagem, a maneira como a polícia se portou durante a prisão também influenciou para que ele fosse inocentado. Após o incidente, a empresa de apostas londrina, chamada Sporting Data Limited, despediu as seis pessoas que trabalhavam como espiãs. Mas Dobson voltaria ao trabalho sem problemas. “Eu não fiz mal a ninguém, me pegaram por falta de sorte. Continuaria sem nenhum problema, porque esse tipo de trabalho aparece uma vez na vida”, disse Dobson à BBC.