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Surpresa, Thiago Monteiro já treinou com Guga e superou lesão dramática

Guilherme Costa

Do UOL, no Rio de Janeiro

18/02/2016 06h00

No início da edição 2016, o Brasil tinha três tenistas na chave masculina de simples do Aberto do Rio de Janeiro. Thiago Monteiro, 21, era o menos badalado deles. Número 338 no ranking da ATP (Associação dos Tenistas Profissionais), o cearense foi inscrito graças a um convite e se deu mal no sorteio – pegou logo na primeira rodada o francês Jo-Wilfried Tsonga, nono do planeta e terceiro cabeça de chave da competição. Na quarta-feira (17), venceu por 2 sets a 1 e protagonizou um dos maiores feitos da competição. Menos para ele: Thiago pode ser uma surpresa para quem acompanhava, mas já foi o número 2 do mundo entre os juvenis, treinou com Gustavo Kuerten e desafiou médicos para não operar o joelho no ano passado.

"Tive uma lesão um pouco complicada. Torci o joelho no match point de um challenger da Eslováquia. Voltei ao Brasil, fiz os exames, e os médicos identificaram uma ruptura total do ligamento cruzado anterior. Era caso cirúrgico, mas o trabalho que o meu fisioterapeuta fez foi impressionante. Ele não acreditava que a ruptura era total porque o meu joelho não tinha frouxidão ou instabilidade. Fui melhorando aos poucos, e depois de três meses e meio eu consegui voltar", relatou o tenista. Um diagnóstico posterior constatou apenas uma ruptura parcial no ligamento do joelho do brasileiro.

O episódio é especialmente emblemático para Thiago Monteiro. O tenista foi o segundo do planeta entre os juvenis e chegou ao 254º lugar da ATP em 2013. Depois, sofreu com lesões no joelho (em 2014) e no cotovelo (em 2015) e despencou no ranking.

Monteiro começou a jogar aos oito anos, quando ainda vivia no Ceará. Em 2009, trocou a terra natal por Santa Catarina e passou a treinar com Larri Passos, mentor de Gustavo Kuerten. Nesse período, chegou a dividir a quadra com o ex-número 1 do mundo.

"O Guga foi muito importante. O instituto dele é minha agência na carreira. Quando eu saí de Fortaleza, eles que fizeram essa transição e começaram a cuidar de patrocínios e torneios", explicou Monteiro. "Treinar com ele me dava confiança e tranquilidade. Ele comentava sobre jogos como o que eu fiz hoje [quarta-feira], como quando ele ganhou o primeiro Grand Slam. Eu procurei me prender muito nisso", completou.

O Aberto do Rio de Janeiro é o primeiro torneio ATP da carreira de Monteiro. A vitória sobre Tsonga logo de cara ainda teve outro peso – um brasileiro não batia um top 10 do mundo desde 2012. Por tudo isso, o cearense também fez sua estreia em outra posição: ele nunca havia concedido uma entrevista coletiva.

"Estou um pouco nervoso. Nunca tinha entrado numa sala assim, cheia de gente. Estou bem feliz", disse Monteiro, ainda atônito: "Ainda não caiu a ficha do que eu consegui fazer, mas é fruto de um trabalho que vem sendo feito há muito tempo".

Antes de entrar na quadra para encarar Tsonga, Monteiro caminhava tranquilamente pelo Jockey Club Brasileiro. Depois da vitória, foi extremamente assediado na saída da quadra – tirou fotos e distribuiu autógrafos a uma série de torcedores que circulavam pelo espaço.

"Tinha tanta notificação no meu celular que eu não cheguei a abrir ainda. Vi que muitos amigos e familiares me deram parabéns, disseram que estavam emocionados e disseram que eu fui um orgulho. São pessoas queridas e bem próximas, que me conhecem muito bem", relatou Monteiro.

Por tudo isso, o maior desafio para o cearense depois do triunfo desta quarta-feira passou a ser a manutenção do espírito da estreia: "Eu não procuro criar metas ou expectativas. Tenho de seguir um objetivo claro, que é estar focado a cada dia e me superar a cada dia. Os resultados são consequências. Se eu mantiver minhas rotinas e estiver bem treinado, acho que eu tenho bons frutos a colher".