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No tênis e com maternidade, Serena reforça status de líder e influenciadora

Serena Williams durante final do US Open: discussão sobre "sexismo" no tênis - Matthew Stockman/Getty Images/AFP
Serena Williams durante final do US Open: discussão sobre "sexismo" no tênis Imagem: Matthew Stockman/Getty Images/AFP

Fábio de Mello Castanho

Do UOL, em São Paulo

12/09/2018 04h00

Serena Williams deu à luz Alexis Olympia no início do ano, mas o tempo em que ficou longe das quadras não afetou muito a influência da segunda maior vencedora de títulos de Grand  Slam (23) e atleta mais bem paga do mundo entre as mulheres. A discussão sobre sexismo por parte de juízes no circuito é prova disso.

O episódio na final do Aberto dos Estados Unidos mostra que, aos 36 anos, Serena não tem medo de falar sobre assuntos que são tabu não só no tênis, mas no esporte como um todo. Ao ser punida na decisão contra a japonesa Naomi Osaka por reclamar acintosamente com o árbitro Carlos Ramos, a tenista colocou em discussão o tratamento diferenciado entre homens e mulheres por comportamentos em quadra. Ela recebeu três advertências consecutivas (por receber instruções do técnico, quebrar uma raquete e ofender o juiz) e perdeu um game considerado chave para a derrota.

Serena recebeu críticas por seu comportamento, teve a atitude questionada pelo “timing” – ela já perdia o jogo e muitos viram a reclamação como uma desculpa pela derrota – e dividiu opiniões. Mas a repercussão imediata mostrou que a discussão levantada era latente. Lenda do tênis e vencedora de 12 Grand  Slams, Billie Jean King foi uma das que manifestou apoio à reclamação. Ela o fez em um artigo contundente no Washington Post (leia aqui). A WTA – associação de tenistas profissionais no feminino - também reforçou a queixa.

A versão contestadora de Serena também veio à tona no final de julho, quando acusou autoridades antidoping de discriminação por causa da frequência com que tem sido selecionada para exames aleatórios. Uma reportagem publicada pelo site "Deadspin" revelou que Serena, até junho, já tinha sido testada em cinco ocasiões no ano, enquanto outras tenistas norte-americanas foram uma vez ou nenhuma.

“Aquele momento do dia para ser examinada 'aleatoriamente' para drogas e só examinam Serena. Entre todas as jogadoras, ficou provado que sou a que é mais examinada. Discriminação? Acho que sim. Ao menos vou manter o esporte limpo”, escreveu Serena no Twitter.

A luta pela equidade de gêneros no tênis é uma marca da carreira de Serena. Ela sempre liderou a luta por premiações iguais e, em 2016, escreveu uma carta ao jornal “The Guardian” na qual disse que as atletas “deveriam sempre ser julgadas pelas conquistas, não pelo gênero”. Da mesma forma, ela sempre foi contundente em relação ao racismo, como na resposta que deu ao ex-tenista Ilie Nastase.

“Continuarei travando os combates que considerar justos. Não tenho medo. Ao contrário de você, não sou covarde”, disse Serena a respeito de um comentário desrespeitoso do ex-tenista em 2017 quando ela estava grávida.

Maternidade aflora atividade digital

Serena com a filha Alexis Olympia - Divulgação - Divulgação
Serena com a filha Alexis Olympia
Imagem: Divulgação
Fora das quadras, Serena Williams também se tornou mais ativa nas redes sociais desde que ficou grávida de Alexis Olympia. Com mais de 9 milhões de seguidores em seu Instagram, a tenista compartilha com seus fãs o desafio de conciliar a carreira com a maternidade e tem servido de inspiração.

Recentemente, Serena foi citada como exemplo por Pippa  Middleton, a irmã mais nova de Kate, a Duquesa de Cambridge: “Desde criança, eu adoro tênis, como jogadora e espectadora, e sei que posso continuar jogando de maneira segura durante a minha gravidez. Pegue a Serena Williams. Ela já provou que as mulheres podem jogar em alto nível de dois meses até oito meses de gestação".

Serena deu à luz a Alexis Olympia em setembro de 2017 e teve uma recuperação pós-parto complicada. No final do ano, participou de um torneio-exibição. Na atual temporada, voltou ao circuito gradualmente. Foi vice-campeã em Wimbledon e no Aberto dos Estados Unidos, provando que é possível manter o alto nível. Sem esconder o sacrifício.

Ao ser eliminada no final de julho do Torneio de San Jose, Serena escreveu um longo texto dizendo que “não se sentiu uma boa mãe” durante a semana e falou abertamente sobre os dilemas e oscilações que enfrentava, encorajando outras mães a não esconderem tais sentimentos. “Eu estou aqui para dizer: se você está tendo um dia difícil ou semana, tudo bem. Eu também estou!!! Há sempre um amanhã”, escreveu. Já durante a disputa de Wimbledon, revelou ter chorado ao perder os primeiros passos da filha.

Da mesma forma, estampou capas de revistas como a "Vogue" para compartilhar a sua traumática experiência pós-parto e chegou a gravar um documentário para a HBO.

Ativa dentro e fora de quadra, Serena ainda não estipulou uma previsão para seu adeus. Enquanto segue à busca de 24º título de Grand Slam, dá sinais de que manterá a postura que já a fez figurar entre as 100 pessoas mais influentes do mundo em lista da revista "Time" em 2010. O curto período desde a sua volta ao circuito mostra que Serena continua na linha de frente de suas batalhas.