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'Guru' de estrelas, campeão mundial de pôquer usa samba na mesa e evita cartas no lazer

André Akkari conquistou bracelete de ouro em Las Vegas ao vencer etapa da WSOP - WSOP/Divulgação
André Akkari conquistou bracelete de ouro em Las Vegas ao vencer etapa da WSOP Imagem: WSOP/Divulgação

Roberta Nomura

Em São Paulo

01/08/2011 12h00

O que virou diversão para milhões de pessoas é o ganha pão de André Akkari. Desde 2006, ele preenche os mais diversos formulários com a ocupação: “jogador profissional de pôquer”. Encontrou olhares atravessados e preconceito inicial, mas obteve reconhecimento em sua área e virou uma espécie de ‘guru’ de celebridades, políticos e empresários. Badalado, o paulista chega a jogar até 30 torneios por dia na internet e, até por isso, evita ao máximo as cartas em suas horas de lazer.

AKKARI VIAJA COM BRACELETE NO BOLSO

Akkari já organizou festas, foi caixa em loja de shopping, fez estágio na área de publicidade, trabalhou no pregão da Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) e abriu a própria empresa de tecnologia. Foi ali que começou a ter contato com o universo do pôquer. Em março de 2006, tomou a ousada decisão de viver das cartas e recebeu o apoio dos sócios e da esposa Paula.

“Eu estava muito ruim financeiramente e pensei que podia ser uma saída. Passei um ano estudando em livros e vídeos na internet. São aulas comentadas, em que jogadores profissionais explicam o motivo de ir ou não em uma mesa, como eles aumentam as apostas. Eu pagava uns US$ 40 por mês e até esse dinheiro estava difícil na época”, relembrou em conversa com o UOL Esporte.

CHURRASCO NA FOLGA E O CÓDIGO VELADO DO PÔQUER

André Akkari é jogador profissional de pôquer desde 2006. Nas horas vagas, evita ao máximo chegar perto das cartas. "Não tenho saco para jogar. Prefiro um churrasco, comer uma picanha", contou. E mesmo se tiver uma mesa de pôquer montada, o campeão mundial passa longe dela. "Em jogos não-profissionais, a sorte faz diferença. Eu me divirto, mas deixo os caras jogarem em paz".

Ficar dando toques e dicas, aliás, é algo não recomendado principalmente em uma mesa de pôquer profissional. "Isso irrita. Acho até antiético. Teve um campeonato que eu entrei e um cara falava para o outro na mesa: 'não faz isso, não faz aquilo. Se não ele, e apontava para mim, vai te engolir'. Não tem essa. Cada um faz seu jogo", explicou Akkari, que ainda admite que prefere pegar um amador do que encarar um profissional. "99% dos jogadores prefere enfrentar alguém com técnica inferior. Tem gente que fala que amador estraga o jogo, mas não. Ele é mais fácil de ser lido", concluiu.

A aposta deu certo e ele se tornou o único brasileiro a pertencer ao Team Pro (equipe de elite) da PokerStars. Referência no pôquer, Akkari abriu sua própria escola em maio de 2010 com atendimento gratuito – agora, as aulas serão cobradas. O paulista chegou a dar dicas para famosos como o piloto de Fórmula 1 Rubens Barrichello e o ex-tenista Gustavo Kuerten. Na lista ainda estão políticos e empresários. Mas o auge mesmo ocorreu no fim de junho.

Akkari conquistou o bracelete de ouro em uma etapa da WSOP (World Series of Poker). Apenas um brasileiro havia obtido o feito até então – o curitibano Alexandre Gomes faturou o título em 2008. E com uma trinca de K, o paulista de 36 anos superou o jogo do norte-americano Nachman Berlin. “Eu demorei a acreditar que tudo aquilo estava acontecendo comigo. Um amigo teve que me dar uns tapas para eu cair na real”, contou.

O status e o título mundial vieram acompanhados do prêmio de US$ 675.117,00 (pouco mais de R$ 1 milhão). E é justamente com as premiações que Akkari se sustenta – é casado e pai de duas meninas: Giovanna, 12 anos, e Maria Eduarda, 6. Ele não tem salário fixo. Os patrocinadores se responsabilizam pelas inscrições do jogador de pôquer em torneios, mas também ficam com boa parte do valor conquistado. No título mundial, por exemplo, o paulista embolsou 30% do valor.

Mas antes do pôquer se difundir, Akkari encontrou olhares atravessados após preencher formulários e sofreu preconceito inicial. Bem-humorado, ele recorda situações aos risos. “Antes no Brasil, eu andava no shopping e as pessoas falavam: ‘cuidado com ele porque ele joga pôquer’. Agora já estou dando até autógrafos”, brincou. “Um amigo até foi conversar com minha esposa e falou: ‘Paula, o André está jogando, tira ele disso’”, diverte-se.

Atualmente, o pôquer é considerado um esporte da mente e tem o mesmo status do xadrez. A oficialização ocorreu em abril do ano passado e a modalidade já está até incluída na Olimpíada de Esportes da Mente, em 2012. “A sociedade no geral tinha o pôquer como um jogo de azar. Mas é um esporte, porque é baseado na habilidade e não na sorte. Em um jogo profissional, a sorte não é fator determinante. Tanto é assim que nas finais de campeonatos são sempre as mesmas pessoas que participam. Não é possível que todas elas tenham sorte sempre”, constatou. “Só para constar: no lance de sorte, eu nunca ganhei nada. Nunca fui sorteado, não ganhei nenhum bingo. Nem rifa de escola. É só habilidade mesmo”, ratificou Akkari.

Em sua profissão, o campeão mundial de pôquer não precisa usar terno e gravata. Pelo contrário. Os jogadores de pôquer aparecem em trajes informais e muitos abusam dos óculos escuros e fones de ouvido. Este último considerado artigo obrigatório por Akkari nas mesas de torneios presenciais. “Só ouço samba, o tempo inteiro. Me deixa animado”, revelou o principal jogador de pôquer do país.

O TATUAPÉ, O CORINTHIANS E O PÔQUER À FRENTE DO FUTEBOL

Enquanto estava em Las Vegas, André Akkari postava no Twitter mensagens de carinho ao bairro Tatuapé, zona leste de São Paulo. "O Tatuapé é um marco. Grandes amigos meus estão lá. Futebol de terça é ali", contou. "Você não mora em lugar. Você mora em pessoas. Morei em Las Vegas em 2009 e sofri o ano inteiro. Lá tinha muita segurança, largava minha casa aberta. Mas isso não é suficiente para você querer se afastar das pessoas que você gosta, da família e dos amigos".André Akkari não esconde sua preferência no futebol. Pelo contrário. O campeão mundial de pôquer faz questão de expor seu time do coração: o Corinthians. "Eu já quis voltar de viagem por causa do Corinthians. E minha mulher falou: 'ah, não. Esquece o Corinthians'. Mas não dá. É mais fácil eu largar qualquer outra coisa do que o Corinthians", brincou. O paulista disse que costuma a ir aos jogos do time do Parque São Jorge.Embaixador do pôquer no Brasil, André Akkari demosntra entusiasmo com o crescimento e difusão da modalidade no país. "O pôquer vai incomodar o futebol. Não vai passar. Porque até eu gosto mais de futebol", falou. O campeão mundial se diz apaixonado por diversos esportes e costuma assistir a canais especializados. Jogar? "Eu pratico basquete e tênis, às vezes. Mas não vou bem não", admite.