Topo

Meninas do "Rugby de Calcinha" mantêm blog com dicas de como esconder hematomas

Renata, uma das donas do blog "Rugby de Calcinha", joga partida por time de Recife - Divulgação
Renata, uma das donas do blog "Rugby de Calcinha", joga partida por time de Recife Imagem: Divulgação

Bruno Freitas

Em São Paulo

13/09/2011 07h00

Há quem tenha dificuldade de associar a imagem bruta do rúgbi com o universo feminino, mas, em tempos de Mundial da Nova Zelândia, elas também estão ligadas na TV nos jogos dos homens que acontecem nas madrugadas brasileiras. Um grupo de mulheres militantes da modalidade no país atende pelo codinome de "Rugby de Calcinha" - meninas que mantêm um blog a respeito do esporte, com dicas divertidas, como truques para disfarçar hematomas usando maquiagem.

MAQUIAGEM CONTRA HEMATOMAS

Abaixo a dica das meninas do "Rugby de Calcinha" para esconder aquelas marcas indesejadas, heranças dos jogos duros do final de semana:

"Passe primeiro o corretivo (opcional), depois a base (espalhe bem até o roxo desaparecer) e depois o pó compacto (sem exagero, apenas pra tirar o brilho da base). O segredo está na tonalidade do produto que tem que ser de acordo com sua pele. Se a maquiagem for mais clara ou escura que sua pele, é melhor assumir seu hematoma! Ah, e antes de dizer que foi no rúgbi, diga que foi no futebol americano! Ou você vai querer perder a festa toda explicando o que rúgbi?"

Anna Joana e Teresa Raquel Bastos, de Teresina, além da pernambucana Renata, escrevem para as mulheres praticantes de rúgbi no Brasil desde 2009, em trabalho que envolve o engajamento de mapear os times femininos do país, mas também recorre ao bom humor para falar à fatia feminina de jogadoras sobre questões mais corriqueiras bem femininas. "Aqui iremos falar da versão cor-de-rosa do esporte que muita gente considera "violento" mas o qual a gente tira de letra!", prega o lema do blog.

"A gente puxa mais para o humor, não é uma coisa bitolada do rúgbi. Já colocamos um calendário com jogadores pelados na França, falamos dos tons de maquiagem para usar em hematomas. Usamos uma linguagem diferente", diz Teresa, que tem dado um tempo no time em Teresina para estudar jornalismo em São Paulo.

As reflexões femininas do blog vão desde a admiração pela beleza do jogador inglês Will Matthews até a noções estéticas. As meninas do "Rugby de Calcinha" falam de coisas como maneiras de prender o cabelo para jogar e comentam os acessórios descontraídos em campo, como as chuteiras e meias rosas.

Um outro post dos primórdios do blog discorre sobre a curiosa coincidência de nomes de uma posição do rúgbi (hooker) com um sinônimo em inglês da palavra prostituta. Mais recentemente, um texto conclama as leitoras a enviarem suas histórias de amor que eventualmente tenham nascido em campo, com rapazes também jogadores.

Nacionalmente, o número de praticantes entre as mulheres ainda é pequeno. Segundo estimativa da Confederação Brasileira de Rugby (CBRu), existem cerca de 10 mil atletas do esporte no país, sendo que apenas 10% deste montante é formado por meninas.

CRIADORAS DO BLOG

Anna Joana (agarrando adversária na primeira foto e posando com o time na segunda) e Teresa Bastos (à direita na segunda foto) atuam pelo Teresina AABB Rugby Clube - Divulgação

"Estamos crescendo em taxas substanciais, porque o esporte tem aparecido na TV, as pessoas têm se interessado. Mas o número é pequeno se compararmos à Argentina, onde eles têm cerca de 65 mil praticantes só na província de Buenos Aires", afirma Sami Arap, presidente da confederação brasileira.

  • Jogador inglês Will Matthews é um dos musos das brasileiras autoras do "Rugby de Calcinha"

"Nossa projeção é de cerca de 50 mil praticantes até 2016", acrescenta o dirigente, contando como trunfo a inserção da modalidade (em sua versão de sete jogadores) no programa olímpico dos Jogos do Rio.

Até lá, as jogadoras que desejarem podem se engajar no "Rugby de Calcinha". O blog está atrás de novas colaboradoras, meninas que se divertem arriscando suas unhas e cabelos no barro nos campos brasileiros.

"Estamos recrutando mais meninas, de outros estados, gente do Sul, de Brasília, do Rio, de Niterói, lugares onde o esporte está crescendo. Queremos mais meninas para ter um conteúdo maior. Devemos ter em breve uma editoria só de esportes universitários", conta Teresa.

Quem quiser entrar nessa, escreverá para um segmento promissor. Internacionalmente, as mulheres conseguiram os melhores resultados da modalidade no país. No último Mundial de Sevens, em 2009 em Dubai, as brasileiras (únicas latino-americanas no torneio) acabaram na 10ª posição.