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MPF do Rio e São Paulo trocarão informações sobre Ricardo Teixeira e lavagem de dinheiro

Teixeira: Sanud, compra de avião e ações geram investigações federais em dois Estados - EFE/ Antonio Lacerda
Teixeira: Sanud, compra de avião e ações geram investigações federais em dois Estados Imagem: EFE/ Antonio Lacerda

Roberto Pereira de Souza

Em São Paulo

28/10/2011 06h00

A agilidade na investigação federal contra Ricardo Teixeira,  por lavagem de dinheiro e crime financeiro, ganhará um elemento extra nos próximos dias: tudo o que for levantado pelo Ministério Público de São será trocado com o MPF fluminense, que dirige outra investigação simultânea. Teixeira é o presidente da Confederação Brasileira de Futebol e do Comitê da Copa 2014.

No Rio de Janeiro,  o procurador da República, Marcelo Freire, vai usar as informações obtidas pelo  MPF de São Paulo. A investigação paulista foi pedida pelo procurador Sergio Suiama e o foco contra o presidente da Confederação Brasileira de Futebol está centrado em lavagem de dinheiro na compra de um avião e de um suposto pacote de ações da corretora Alpes.

A operação teria envolvido a soma de R$ 50  milhões, a metade seria de Ricardo Teixeira. A outra metade envolveria Sandro  Rosell, presidente do Barcelona e parceiro de brasileiros em outra empresa, a Brasil 100% Marketing.

 Em nota oficial, a corretora Alpes nega que tenha fechado qualquer tipo de venda de ações em nome de Ricardo Teixeira. A companhia tem capital fechado (sem ações em bolsa) e nega qualquer contrato envolvendo outras empresas.

O nome da corretora surge porque um dos diretores da empresa, Claudio Honigman, teria sido o responsável por toda a papelada e transferência de capital. Honigman é um engenheiro de 47 anos, especializado em finanças internacionais e mercado de capitais.

Formado em engenharia elétrica no Texas, o carioca chegou a ser frentista de posto de gasolina para custear os estudos. Apoiado pela então namorada a chilena Nathalie Peacock Serrano, pegou o diploma texano e partiu para Nova York. Destino: sistema financeiro internacional.

No final dos anos 90, foi nomeado, em Nova York, executivo sênior de um grupo de investimentos, responsável pela captura de capitais em países emergentes.

Em 2002, ele teria feito o primeiro contato com Ricardo Teixeira e Sandro Rosell, então diretor da Nike. De volta ao Brasil, e com uma rápida passagem pela corretora Ágora, o engenheiro foi responsável pela abertura da filial da Alpes no Rio de Janeiro, em 2007.

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Parece inevitável comparar o capital da Alpes, antes e depois da chegada de Honigman. De um capital R$ 3 milhões de 95 a 2005, a empresa saltou para R$ 18 milhões em julho de 2007, dois meses após a suposta operação com Ricardo Teixeira.

Embora Honigman tenha sido eleito diretor em 17 de julho de 2007 e oficialmente tenha saído em 10 de setembro de 2008, reportagem realizada pela revista da Bovespa, em  março de 2008  diz que “Claudio Honigman estava associado à Alpes, desde 2005”. Até a chegada de Honigman, a corretora era administrada por Reginaldo Alves dos Santos.

O negócio envolvendo Ricardo Teixeira e o presidente do Barcelona, Sandro Rosell, na suposta compra do avião e no pacote de ações teria sido fechado cinco meses antes da eleição de Honigman como diretor. Esse mistério a Polícia Federal deverá desvendar. O caso também  envolve a TAM, representante da fabricante de aviões  Cessna, no Brasil. A companhia aérea legitimou a operação do avião na véspera de se transformar patrocinadora da CBF.

Correndo simultaneamente à investigação no Rio de Janeiro, o trabalho paulista deverá ser mais complexo a começar por um detalhe bem simples: Cláudio Honigman teria saído correndo do Brasil, no segundo semestre de 2010.

Pressionado a pagar pensão alimentar a três filhos menores e à ex-mulher Nathalie Peacock Serrano, no valor acumulado de R$ 5 milhões, em setembro de 2010, Honigman sumiu do Brasil. Deixou para trás a empresa Brasil 100% Marketing que também participou da suposta compra de ações da Alpes e do misterioso avião a jato.

No Rio de Janeiro, o trabalho parece que está mais rápido que em São Paulo. O levantamento por suspeita de lavagem de dinheiro já levou o irmão de Ricardo Teixeira, o procurador Guilherme, a interrogatório na sede da Delegacia de Crimes Financeiros.

Ricardo Teixeira já foi intimado esta semana, mas conseguiu adiamento para, no máximo, dia 4 de novembro. O foco da investigação fluminense é a empresa Sanud, a mesma que apareceu na CPI do Futebol e, ano passado, surgiu na investigação de suborno de agentes da Fifa, pela Justiça suíça.

O procurador da República, Marcelo Freire, quer descobrir se a Sanud ainda funciona e se realizou qualquer operação ilegal de remessa de dinheiro ao Brasil. A Sanud opera na Europa. No Brasil, o procurador se chama Guilherme Teixeira, irmão de Ricardo.

Documentos da Justiça suíça também serão pedidos pelo procurador carioca Marcelo Freire. Extraoficialmente, parte desses documentos foi liberada para um documentário sobre corrupção na Fifa, levado ao ar pela BBC, rede de televisão com sede em Londres.

O jornalista responsável pelo trabalho, Andrew Jennings, entregou nesta quarta-feira (26) cópias desses documentos que comprovariam o envolvimento de Ricardo Teixeira e de João Havelange nos subornos descobertos.

Segundo Jennings, os dois devem ter recebido cerca de R$ 60 milhões de dólares de um executivo que negociava direitos de transmissão de televisão para os jogos da Fifa, no mundo todo. A empresa responsável por essas negociações ficou mundialmente conhecida por ISL e foi fundada no final dos anos 80 ( pela Adidas e pela Dentsu japonesa). A empresa quebrou em 2001, três anos após a saída de João Havelange da presidência da Fifa, onde esteve de 1974 a 1998.