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Atleta vence acidente grave e deficiência para ser "mais forte do país" até 100 kg

Paulo Vianna encara prova das bolas de cimento em evento de strongman em Peruíbe - Alex Almeida/UOL
Paulo Vianna encara prova das bolas de cimento em evento de strongman em Peruíbe Imagem: Alex Almeida/UOL

Bruno Freitas

Do UOL, em Peruíbe

01/02/2012 06h00

Uma história de drama pessoal chamou a atenção durante a disputa do "Homem mais forte do Brasil" em Peruíbe no último final de semana. Estreante em competições do gênero, Paulo Vianna conquistou a categoria até 100 kg e, por tabela, concluiu uma vitória individual na recuperação de um grave acidente de carro, que mutilou parte de suas pernas e comprometeu definitivamente seus movimentos.

Aos 2 anos, Paulo sofreu um acidente de carro junto com sua mãe. O jovem teve fratura nas duas pernas e perdeu parte da musculatura da esquerda. Na direita, teve uma perfuração que atingiu um tendão, em complicação que afetou parcialmente, mas para sempre, a movimentação do pé.

  • Alex Almeida/UOL

    Atleta do strongman, Paulo Vianna mostra cicatriz na perna esquerda, herança de acidente de carro

Paulo Vianna então encarou uma longa recuperação, ainda na infância, com o desafio de aprender a andar de novo. O menino de Peruíbe passou alguns meses na cama e teve que usar botas com ferros de sustentação até os 5 anos, quando enfim voltou a se locomover normalmente. Hoje, caminha mancando e lida com algumas limitações. Mas nada que segure os sonhos do atleta dentro do strongman, modalidade que expõe seus competidores a testes de força, resistência e agilidade.

"Foi bom, não esperava ganhar. Treinei bastante, tinha umas dúvidas por ser meu primeiro campeonato. Mas consegui ficar calmo, fazer as provas direitinho", disse o vencedor da categoria até 100 kg, a segunda mais importante da modalidade.

Toda essa história de superação mexe com Paulo Vianna, que se define como um cara emotivo. "Mexe comigo, foi bastante sofrido esse acidente. Minha mãe sofreu, também ficou internada. Foi bem forte o que aconteceu com a gente. A emoção bate com essas lembranças. Sempre ouvi que não podia fazer isso, não podia fazer aquilo. Mas nunca escutei, tive uma vida normal de criança, pulei muro, subi em árvore", afirma o atleta de 27 anos, servidor público em Peruíbe.

Se a superação física está praticamente concluída, Paulo Vianna ainda lida com bloqueios psicológicos em razão das consequências do acidente. O atleta tem a perna esquerda sem parte da musculatura e a canela direita fina, em razão do tendão afetado. Na disputa do sábado, o jovem adotou calças para competir na maioria das provas, ao contrário dos demais adversários. O campeão diz que costumava se constranger em exibir a parte debaixo do corpo, em exposição que ainda vem sendo trabalhada em sua cabeça.

"Quem convive comigo sabe que não tem problema. Mas as pessoas veem na rua e pensam: 'o cara treina, é forte em cima e tem canela fina, não treina as pernas'. Mas eu treino muito elas. Só não trabalhei direito esse psicológico. O Marcos [Mohai] vem me cobrando para eu mostrar mesmo [as pernas]. É uma superação", relata, em menção ao técnico e campeão da categoria absoluto (acima de 100 kg).

Na disputa de sua categoria no último sábado, Paulo Vianna venceu três das quatro provas, inclusive o levantamento de bolas de cimento sobre uma plataforma, na tarefa do strongman que mais apavora o atleta.

"É a prova em que mais tenho medo, sinto meu joelho balançar. Mas fiquei em primeiro nela. Como perdi a musculatura, meu joelho fica meio para dentro, sai do lugar. Não poderia fazer a prova da bola. Não posso ficar com a perna aberta. Mas acabei me adaptando", explica.

Além da prova das bolas de cimento, Paulo se saiu bem no arrastamento de uma carreta e no medley, com virada de um pneu gigante (450 kg) e carregamento de saco de areia. O atleta só não conseguiu concluir a prova do tonel de cerveja de 15 kg, em que precisava arremessar três deles sobre uma trave de 5 metros (só conseguiu duas vezes).  

Paulo Vianna está inserido no universo do strongman há quase dois anos, treinando na equipe de Marcos Mohai, atleta que se sagrou tetracampeão da categoria absoluto no mesmo evento de sábado passado. Com o melhor do país como orientador esportivo e pessoal, o jovem planeja migrar para a competição acima dos 100 kg já no próximo ano.