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Ministro "lava as mãos" enquanto trabalhadores negociam greve geral da Copa

Aldo Rebelo durante entrevista ao UOL Esporte; ministro não se envolveu em polêmicas - Flavio Florido/UOL
Aldo Rebelo durante entrevista ao UOL Esporte; ministro não se envolveu em polêmicas Imagem: Flavio Florido/UOL

Gustavo Franceschini e Vinicius Konchinski

Do UOL, em São Paulo

11/02/2012 06h00

No mesmo dia em que sindicalistas das 12 cidades-sede da Copa do Mundo discutiram uma possível greve geral de trabalhadores, o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, afirmou que o governo federal não fará qualquer intervenção para solucionar pendências trabalhistas do Mundial. Em entrevista ao UOL Esporte nesta sexta-feira, Aldo disse que as obras da Copa seguem a mesmas leis de vigentes em outras construções e que, em casos de problemas, a Justiça e o Ministério Público é quem devem agir.

“As construções da Copa também devem seguir a legislação brasileira. Não há nenhuma distinção”, disse Aldo. “Questões salariais e outros problemas devem ser discutidos entre sindicatos e empresas responsáveis pelas obras. A Justiça Trabalhista é madura para mediar isso.”

Aldo afirmou que os salários pagos aos operários da Copa estão acima da média da categoria, assim como os benefícios trabalhistas concedidos. Os sindicalistas discordam. Reclamam que os valores variam de acordo com a região do país, apontam más condições de trabalho e dizem sofrer até assédio moral.

“Em Pernambuco, a polícia militar foi colocada nos arredores do estádio para vigiar os trabalhadores”, afirmou Raimundo Gomes, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Pesada do Ceará. A capital do estado nordestino foi palco de uma reunião que pode encaminhar uma greve geral no setor.

Representantes dos trabalhadores das cidades-sede da Copa do Mundo de 2014 que se reuniram em Fortaleza na última sexta. Os sindicalistas resolveram que, a partir de agora, terão uma pauta de reivindicações conjunta e nacional. Eles pretendem entregá-la ao governo, empresários e Ministério Público no dia 6 de março. Caso não sejam atendidos, param no fim do mês.

“Se for parar, vamos parar todas as obras, em todo país”, disse Gomes, após a reunião com líderes sindicais das 12 cidades-sede. “Os trabalhadores já sabem o que querem e não vamos esperar além de março para sermos atendidos.”
Quase no mesmo horário, Aldo Rebelo falava sobre outros temas polêmicos relacionado à Copa. O ministro negou algumas irregularidades, entre elas as de que as desapropriações feitas para obras do Mundial teriam se assemelhado a políticas nazistas.

“Quem afirmou que isso se assemelha ao nazismo, sinceramente, não deve saber o que é o nazismo. Deve ter uma profunda ignorância sobre o que foi o nazismo. A comparação é descabida e infeliz”, disse Aldo Rebelo.

A comparação em questão foi feita por Leonardo de Souza, subprocurador geral de Justiça do Rio de Janeiro. Em uma audiência pública em junho do ano passado, ele relatou que a prefeitura fluminense estava desapropriando famílias sem respeitar o estado de direito. “Ela vai lá e pinta uma sigla SMH [Secretaria Municipal de Habitação]. Isso me remonta aos nazistas que marcavam as casas dos judeus”, disse o funcionário do Ministério Público.

Aldo Rebelo disse não acreditar no fato. “Qualquer desapropriação tem de respeitar as leis e os direitos das pessoas. Eu não acredito nisso, sinceramente. Não acredito que as autoridades do Rio de Janeiro tenham procedido desse jeito”, disse o ministro.

Além da palavra do MP, Aldo Rebelo também contraria a avaliação da ONU. Também em 2011, Raquel Rolnik, relatora especial do órgão internacional para moradia adequada, escreveu sobre o tema e disse ter verificado desalojamentos forçados e desrespeitos aos direitos humanos. O caso fez com que a Anistia Internacional criticasse o processo de desapropriação no Brasil.