Brasileira é adotada com 1 ano, se torna estrela do hóquei holandês e decide virar casaca por 2016

Com pouquíssima tradição no hóquei sobre grama, a seleção brasileira feminina tem em seu elenco uma jogadora que é considerada uma das cinco melhores do mundo em sua posição e que joga na liga mais forte do planeta.

Mas ela já atuou na seleção da Holanda, atual campeão olímpica, mal sabe falar português e esteve no Brasil sete vezes em sua vida toda.

Está é Inge Vermeulen, goleira do time SCHC. Ela tem 26 anos, nasceu em Americana, no interior de São Paulo. Mas deixou o Brasil antes de completar um ano de idade. Foi adotada por um casal holandês e por lá ficou.

Nunca mais teve contatos com os pais biológicos. “Não sei onde minha mora e não mantenho contato”, falou ao UOL Esporte. Logo quando atende a ligação, se esforça. Após ouvir um cumprimento em inglês, ela responde: “Bom, bom, e com você?”, pergunta. “Bom dia, como vai, tudo bem?”, continua, bem humorada.

Inge jogou entre 2007 e 2011 pela seleção holandesa e conquistou, inclusive, alguns títulos, com destaque para o Campeonato Europeu de 2009.

A atleta decidiu este ano se juntar ao time brasileiro por meio de um consultor holandês contratado pela confederação nacional para ajudar a desenvolver o esporte. Inge tem nacionalidade brasileira por ter nascido aqui e resolveu aceitar.

Conta que optou deixar de lado badalado time holandês pelo inexperiente elenco nacional por ter um espírito movido a desafios e ser apaixonada pelo jeito brasileiro de ser.

“É um desafio diferente. A Holanda é um dos melhores times do mundo, e o Brasil está apenas começando. Gosto do país, da energia das pessoas, que estão sempre alegres. E quando você cresce pessoalmente, cresce também como jogadora. Eu quero ser parte de um desafio”, falou.

“É um grande desafio, um sonho de jogar uma Olimpíada que vou estar realizando. Os Jogos no Rio serão maravilhosos, e quero ser parte disso, quero ajudar esse esporte a se popularizar no Brasil”, continuou.

Ela vem esforçando para desenvolver seu português. Faz aulas semanais e usa as redes sociais para se comunicar com as companheiras brasileiras.

“Tento conversar com minhas companheiras pelo Facebook e tento falar só em português. Além disso, faço aula todas as semanas e tento falar em português com duas ou três brasileiras que conheço na Holanda”, falou.

Com Inge, o Brasil fez uma série de amistosos contra equipes holandesas este ano. O último jogo, vencido por  2 a 0 contra o Arnhem, empolgou a goleira, que diz acreditar na evolução do time para os Jogos de 2016. Mas evita traçar um ponto onde o time possa chegar.

 “O time está melhorando, está melhorando. Elas têm problemas por não existir jogos no Brasil. Mas temos muito o que melhorar. Mas elas são dedicadas em se aprimorar e os jogos [na Holanda] foram muito bons e duros para aprender. O último jogo foi o melhor nosso. Mostramos que evoluímos. Foi muito importante para desenvolver o psicológico das nossas jogadoras”, falou.

“Será muito difícil de competir com equipes como Holanda ou Argentina, que são as melhores do mundo nesse jogo. Elas têm muita experiência. Mas acho que é possível melhorar. Estamos tentando”, continuou.

O técnico da seleção brasileira feminina, Eduardo Martins, é só elogios ao comportamento da atleta e sua dedicação no desenvolvimento do time. “Ela é mais completa na parte psicológica e física. Tem ajudado muito o time. Ela tem se empenhado bastante, estuda muito o português, e as meninas [da seleção] estão ajudando muito ela”, falou.

O time brasileiro ainda planeja formar uma seleção permanente para se desenvolver na disputa dos Jogos de 2016. Enquanto isso não ocorre, o time volta a se reunir em dezembro para treinamentos para o Sul-Americano, que será realizado no Chile, em janeiro de 2013.