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Era Nuzman inflaciona custo-medalha brasileiro em 2.800% em 16 anos à frente do COB

Carlos Arthur Nuzman, presidente do COB, à frente da sede do COI na Suíça - AFP PHOTO SEBASTIEN FEVAL
Carlos Arthur Nuzman, presidente do COB, à frente da sede do COI na Suíça Imagem: AFP PHOTO SEBASTIEN FEVAL

Bruno Doro e Gustavo Franceschini

Do UOL, em São Paulo

03/10/2012 06h00

Na próxima sexta-feira, o Comitê Olímpico Brasileiro deve dar mais quatro anos de poder ao presidente que fez o custo de cada medalha olímpica conquistada pelo Brasil explodir. Desde que Carlos Nuzman, candidato único na eleição do COB no fim desta semana, assumiu a entidade, o investimento público necessário para subir ao pódio olímpico aumentou em 2.800%.

Em 1996, o Brasil foi aos Jogos Olímpicos de Atlanta bancado por R$ 67,27 milhões (em valores atualizados pelo IGP-M) em verbas públicas. O resultado esportivo, 15 medalhas, fez com que cada pódio custasse R$ 4,4 milhões ao país.

Em 2012, nos Jogos de Londres, o Brasil quebrou seu recorde, com 17 pódios. Essas conquistas foram turbinadas pelo recorde de R$ 2,1 bilhões, vindos de Lei Piva, Lei de Incentivo ao Esporte, programas do governo federal e patrocínios de estatais. Cada medalha londrina foi resultado de R$ 123,52 milhões em investimentos.

O CUSTO-MEDALHA DO BRASIL

 Investimento*MedalhasCusto-medalha**Aumento
Atlanta-1996R$ 67,27 milhões15R$ 4,4 milhões 
Sydney-2000R$ 75,84 milhões12R$ 6,2 milhões40%
Atenas-2004R$ 312,58 milhões10R$ 31,25 milhões404%
Pequim-2008R$ 1,7 bilhão15R$ 113,33 milhões262%
Londres-2012R$ 2,1 bilhões17R$ 123,52 milhões8%
  • *Valores atualizados pelo IGP-M **Investimento x medalhas

Esse aumento é fruto direto da política do COB de tornar o governo seu principal financiador. Desde que Nuzman assumiu o comando da entidade, uma série de leis e programas de apoio ao esporte de alto rendimento foi criada pelo governo federal.

ROMÁRIO PEDE INVESTIGAÇÃO DO COB E DO COMITÊ ORGANIZADOR DO RIO 2016

  • O deputado federal Romário (PSB-RJ) voltou a criticar nesta terça-feira o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e do Comitê Organizador da Rio-2016, Carlos Arthur Nuzman. Em um pronunciamento publicado em seu site, o ex-jogador de futebol pediu uma investigação sobre as contas das duas entidades e relevou supostas ligações entre um membro do COI e a empresa detentora dos direitos sobre a venda de ingressos dos Jogos de 2016.

Esse fenômeno começou a agir, principalmente, a partir de 2001, quando a Lei Piva, que destina uma porcentagem dos prêmios da loteria para o esporte olímpico, foi criada. Em 11 anos (a lei foi criada em 2001 e os valores de 2012 ainda não foram fechados), já mandou R$ 765,1 milhões aos cofres do COB. É a principal fonte de receita da entidade, que divide esse dinheiro entre as confederações esportivas, seguindo critérios de desempenho.

A primeira delegação verde-amarela a sentir o efeito dessa nova legislação foi a de Atenas-2004. Nos primeiros quatro anos, a Lei Piva destinou R$ 312,58 (em valores atualizados) aos atletas que se prepararam para as Olimpíadas, um aumento de 312% em relação a Sydney-2000, quando o esporte contava apenas com a Lei Pelé, que ligava o funcionamento de bingos ao financiamento do esporte olímpico – esse dinheiro, porém, era tecnicamente privado.

No ciclo seguinte, o esporte nacional viu mais um grande aumento de investimento, de 443%. Com a consolidação da Lei Piva, as receitas aumentaram. Somando a isso os frutos da realização dos Jogos Pan-Americanos no Rio de Janeiro, em 2007, o esporte olímpico fechou o ciclo de Pequim-2008 com uma preparação que superou um bilhão de reais (R$ 1,2 bi).

Também em 2007, entrou em cena o segundo grande ator no processo de investimentos governamentais no alto rendimento: a Lei de Incentivo ao Esporte, que permite que patrocínios a programas esportivos sejam abatidos do imposto de renda. Somando os patrocínios de empresas estatais (que apoiam 16 diferentes confederações nacionais) e programas como o Bolsa-Atleta, que fornece ajuda de custo mensal aos atletas cadastrados, o investimento governamental chegou aos R$ 2,1 bilhões do ciclo de Londres-2012.