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RJ usa Lei de Incentivo ao Esporte e põe R$ 10 milhões em evento de música, moda e hipismo

Público acompanha competição de camarote na hípica; ingressos a R$ 370 por pessoa - Vinicius Konchinski/UOL
Público acompanha competição de camarote na hípica; ingressos a R$ 370 por pessoa Imagem: Vinicius Konchinski/UOL

Vinicius Konchinski

Do UOL, no Rio de Janeiro

08/10/2012 06h00

Hipismo, moda, música e gastronomia. Essas são as quatro palavras-chave que definem o Athina Onassis Horse Show, evento luxuoso que recebeu R$ 10 milhões em créditos tributários do governo do Rio de Janeiro por meio da Lei de Incentivo ao Esporte.

Realizado na Sociedade Hípica Brasileira, na Zona Sul da capital fluminense, o Athina Onassis Horse Show reuniu de quinta a sábado alguns dos melhores cavaleiros do mundo para competições que distribuíram cerca de R$ 3 milhões em prêmios. Chamou atenção também de 15 mil espectadores, que assistiram às provas e desfrutaram de apresentações musicais, um mini-shopping com grifes famosas e uma estrutura impecável. A maior parte dela montada com dinheiro público.

Dos R$ 15 milhões investidos no Athina Onassis, mais de 65% foram pagos indiretamente pelo contribuinte do Estado do Rio de Janeiro. Só a título de comparação, o valor do incentivo dado pelo governo para o Athina Onassis equivale a tudo o que foi repassado à Confederação Brasileira de Hipismo (CBH) para preparação de cavaleiros do país para a Olimpíada de Londres.

De 2009 a 2012, até os Jogos Olímpicos, a CBH recebeu R$ 9,8 milhões do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) por meio de repasses da Lei Agnelo/Piva. A lei foi criada em 2001 e destina parte da arrecadação das loterias federais ao apoio ao esporte de alto rendimento.

Já no caso do Athina Onassis, o incentivo de R$ 10 milhões do governo veio através de créditos de impostos. Eles foram dados à organização do evento, que foi autorizada a repassá-los aos patrocinadores: Oi, Coca-Cola, Procter & Gamble e Petrobras. Essas empresas expuseram suas marcas no Athina Onassis e ganharam descontos em impostos por isso.

R$ 4,1 MI PARA TELÃO QUEBRADO

  • Vinicius Konchinski/UOL

    Durante a Olimpíada de Londres, o governo do Rio de Janeiro apoiou a instalação de um telão para transmissão de competições em um parque na Zona Norte do Rio. Foram concedidos incentivos de R$ 4,1 milhões para os organizadores. O telão, entretanto, apresentou problemas e não transmitiu os jogos na primeira semana dos Jogos Olímpicos

Ganharam também prestígio com um público seleto que foi até a Hípica do Rio na semana passada. O ingresso mais barato para um dia de competição do Athina Onassis custou R$ 180 (R$ 90 a meia-entrada). O mais caro saiu por R$ 2.750. Dava acesso aos três dias de competição e a um camarote exclusivo, com serviço de buffet incluído.

André Beck é diretor-geral do Athina Onassis. Ele próprio classificou os ingressos do evento como “caríssimos” em entrevista ao UOL Esporte. Disse, porém, que eles dão direito a “serviços diferenciados” e ajudam a financiar a parte do Athina que o governo não paga.

Beck afirmou que a realização de um evento de hipismo é muito cara. Envolve transporte aéreo de cavalos, esquema especial de vigilância sanitária e uma estrutura adequada para o esporte. Tudo isso tem um custo. Usar o incentivo governamental é a única forma de pagá-lo no Brasil.

“No Brasil, o público do hipismo é pequeno. Não está na cultura”, explicou. “Montamos uma estrutura glamourosa justamente para tentar atrair mais investidores para o esporte.”

Beck reconhece que o Athina Onassis é restrito. Entretanto, defende o uso de incentivos estaduais no evento. “Estamos criando know-how para a Olimpíada. O hipismo é uma modalidade olímpica”, disse. “Também abrimos espaço para que as pessoas tenham contato com o esporte.”

Segundo ele, 150 crianças de comunidades pacificadas que ficam perto da Hípica do Rio entraram de graça no Athina Onassis. Nesta edição, elas representaram 1% do público do evento. A intenção é que nas próximas edições do Athina (essa foi a sexta), mais pessoas entrem de graça.

Os que conseguiram entrar tiveram a chance de assistir a atletas como Rodrigo Pessoa, cavaleiro brasileiro medalhista de ouro em Athenas-2004. Pessoa afirmou que o investimento público no apoio a ele, como atleta, nunca foi suficiente. Mesmo assim, defendeu que a aplicação de R$ 10 milhões em um única competição, não na confederação de hipismo.

“O Athina Onassis é um evento sensacional. É o único do hipismo brasileiro com importância internacional”, afirmou Rodrigo. “Confederações não organizam um eventos como esse. Não precisam desse dinheiro. Devem se preocupar com a base do esporte.”

A Secretaria Estadual de Esporte e Lazer do Rio de Janeiro (SEEL) também defendeu o incentivo público do Estado ao Athina Onassis. Foi o órgão quem aprovou o certificados tributários para a organização. Dos R$ 10 milhões solicitados, R$ 10 milhões foram concedidos. Isso é justificado, segundo eles, pela importância do Athina e do hipismo para o esporte brasileiro.

“O Athina Onassis é o principal torneio de hipismo da América Latina, com a presença de atletas de prestígio internacional. Neste ano, há a presença de campeões olímpicos em Londres 2012”, informou em nota. “O hipismo é um esporte olímpico que já trouxe três medalhas para o Brasil.”